“No sneakers, just shoes”. Essa foi a frase que Lívia Ribeiro disse quando questionada se um dia pensou em ter uma linha de tênis entre os calçados que ela lança constantemente por meio de sua marca LOUIE. A recusa tem um motivo: ela é apaixonada por sapatos clássicos. Neta de um dos primeiros calçadistas de Franca, capital nacional do calçado localizada no interior de São Paulo, ela aprendeu o ofício com a família, com quem, desde criança, convivia no chão de fábrica observando a confecção dos itens. Hoje, a cidade é muito mais do que uma inspiração vinda do passado; é também ali que fica a sua fábrica própria.
A criação da LOUIE, em 2011, foi motivada pela percepção de Lívia de que havia uma oportunidade no mercado de calçados masculinos no Brasil. Ela buscava preencher o vazio que existia em termos de design arrojado, qualidade excepcional e preço atrativo. Com uma abordagem digital desde o início, a LOUIE foi lançada como uma marca de calçados masculinos que valoriza não apenas o estilo, mas também a educação dos consumidores sobre sapatos.
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Em um mercado historicamente dominado por homens, Lívia se destacou ao oferecer design exclusivo e qualidade impecável. Sua entrada em um universo masculino não foi apenas uma escolha ousada, mas uma oportunidade de trazer um toque diferente à moda para eles. E esse toque foi abraçado com sucesso. Desde a pandemia, os números da marca só aumentaram, tanto que, no último Dia dos Pais, o crescimento foi de 26%.
Uma das conquistas recentes de Lívia Ribeiro é a sua colaboração com a Oficina Reserva. Essa parceria foi um casamento entre dois expoentes do segmento masculino e resultou no mocassim Le Moc, um modelo clássico, inspirado nos icônicos penny loafers. A elegância da LOUIE fundiu-se perfeitamente com o estilo casual da Oficina Reserva. A colaboração exemplificou a perspicácia estratégica da designer e sua capacidade de forjar parcerias sinérgicas que transcendem fronteiras convencionais.
Para a ForbesLife, Lívia conta um pouco sobre sua trajetória de sucesso e fala sobre como conquistou seu espaço com maestria, além de revelar qual foi o segredo para tornar-se a preferida entre as marcas de sapatos nacionais.
Você, como mulher, ao entrar em um mercado totalmente masculino, sentiu-se desafiada em algum momento?
Sim, o mercado é predominante masculino, né? Eu sou a única mulher no mercado masculino de sapatos no Brasil e ainda mais em Franca, que é interior, uma coisa meio provinciana. O pessoal é muito machista. Hoje eu tenho 39, mas quando eu cheguei, há 12 anos, eu era só uma menina. As pessoas pensavam “quem é essa fedelha querendo fazer sapato?” Mas, aos poucos, eu fui conquistando espaço e respeito. Porque eu não tenho a pretensão de ser a melhor fabricante de sapatos, em termos de construção, mas, sim, demonstrar bom gosto e saber vender. Acho que eu fui adquirindo esse respeito porque eu comecei a mostrar que dava para fazer diferente. Mas, no começo, encontrei uma resistência grande.
O que você considera ter sido fundamental para construir uma carreira de sucesso nesse segmento?
Eu não inventei a roda, mas eu a coloquei pra rodar. Eu acho que dedicação e paixão foram os meus maiores propulsores, que me fizeram ter sucesso. Também considero que ser a única mulher nesse segmento e levar muito a sério uma coisa que eu gosto tanto, com paixão, fazendo bem feito, contribuiu. Eu acho que fazer o básico bem feito é muito bom.
Sempre, desde o primeiro dia, eu já faço bem feito: eu não divulgo uma foto blur, sem tratamento. São pequenas coisas, detalhes que fazem a diferença. Eu sou muito detalhista. Então, enquanto não sair perfeito, para mim não funciona. Eu acho que esse é o segredo do sucesso da LOUIE: os detalhes, a minha dedicação e a minha paixão pelo sapato mesmo, porque não é business, é paixão.
Tem algum segredo de confecção que faz os seus calçados serem únicos?
Creio que é, principalmente, o design, claro. Mas eu faço questão de qualidade. Eu acho que é o mínimo, não abro mão do produto 100% de couro. Sempre com as melhores matérias primas, os melhores fornecedores. Às vezes ouço “o preço do seu sapato aumentou muito!” Sim, porque os insumos e as matérias-primas aumentaram muito. Então, eu prefiro repassar esse preço do que abaixar a qualidade.
Como é o perfil do homem consumidor da LOUIE?
Ele é muito fiel. Eu tenho um cliente que tem 56 pares! É um homem atemporal e que gosta de ter informação, sabe? Só que o bom da LOUIE é que ela transita em diversos universos. O seu pai usa, o seu avô usa, o seu irmão gay usa, o seu irmão hétero usa, a sua mãe usa a bota, o seu sobrinho que vai fazer Bar Mitzvah usa. Entendeu? O grande diferencial é atingir várias gerações, entre perfis diferentes. Esse é o público da LOUIE, mas é um público que tem informação que não abre mão de qualidade, como eu.
Como surgiu a collab com a Oficina Reserva?
A Oficina namora a LOUIE faz muito tempo. A gente nunca tinha feito uma collab e eu vejo que a Oficina é hoje uma marca muito legal no mercado e vai também de encontro ao meu público, que aprecia essa qualidade, o bem feito e atemporal. E eles queriam um sapato à altura, que conversasse com esse público de um jeito diferente. Surgiu aí a parceria, que deu muito match, porque as duas marcas tem muita sinergia. O resultado foi muito gratificante. Ficou muito bom o sapato.
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Durante a pandemia, muitas marcas tiveram de se reinventar, algumas delas, entrar no mundo do digital. A LOUIE já era nativa deste mundo. Como você viu a marca se reinventar nesse mercado?
Uma coisa que eu sempre valorizei muito é construir a marca. Eu acho que a LOUIE tem um nome e uma curadoria muito fortes. Então, para mim, o que segurou foi a marca. Muitas concorrências entraram, como muitas que não tinham loja online. O consumo de sapatos caiu absurdamente na pandemia. Mas eu acho que, além disso, o que mais agravou a situação foi a entrada de novos concorrentes. O que que a gente fez? Nós ficamos mais próximos dos nossos clientes.
Eu fiz vários vídeos, fizemos mil pantufas e mandei para os meus clientes de brinde. Foi muito legal essa ação. Então eu trouxe o cliente mais para perto. Falei: olha, eu sei que está difícil, eu sei que você não está usando sapato, mas temos aqui uma pantufa. Então eu fiz de uma forma que eu não fiquei longe deles, mas não empurrando um produto, entende? Eu acho que essa foi a reinvenção, a sacada da comunicação da LOUIE na pandemia. Continuar próximo, mas sem forçar a compra de um sapato. É querer vender gelo para esquimó! Você pode continuar próximo do esquimó, mas não vai querer que ele compre gelo, né?
Como você e a marca se posicionam ambientalmente e socialmente?
A gente tem dois projetos: ambiental e social. O nosso carbono é todo zerado; nosso frete é neutralizado. E como ação social, temos um projeto com um aporte financeiro para comunidades do G10 Favelas. Nós também doamos sapatos para os estagiários e para pessoas que têm o seu primeiro emprego.
Também, na empresa, há cinco anos temos o day-off de sexta, que todo mundo adora. As pessoas ficam mais focadas. Eu acho que sexta-feira é um dia em que você já está de saco cheio. As pessoas trabalham mais felizes, quatro dias por semana é suficiente. Ninguém vai resolver nada na sexta. Chega na sexta: “ah, deixa pra segunda que hoje é sexta”. Então, sim, acabou ficando mais produtivo de segunda a quinta.
Tem algum desejo que gostaria de aplicar na marca no futuro, como uma linha exclusivamente feminina?
O nosso mercado feminino tem crescido, já cresceu 20% neste ano até agora. Está crescendo bem. A gente tem botas femininas, que surgiram da demanda das mulheres que compravam masculinas. Eu, Lívia, imprimo muito o meu gosto pessoal na minha marca. Então faço o tipo de sapato que eu gosto; é o tipo de bota que eu uso.
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