A participação formal das mulheres no segmento agro é pequena, especialmente se comparado ao mercado de trabalho brasileiro. Em 2021, foram 31% de mulheres no agro contra 43% de média brasileira, quando se considera a população ocupada e em idade de trabalhar. Essa taxa, no entanto, já foi de 24% em 2004, uma boa evolução de lá para cá.
Desses 31% de média, a maior participação feminina está nos serviços e na indústria voltados ao agro, com 41% e 37%, respectivamente. Já a menor taxa se concentra dentro da porteira, apenas 20%.
Mas para compreender a dinâmica envolvida nessas taxas, precisamos olhar cuidadosamente para a evolução do setor. Quando focamos na análise do agronegócio dentro da porteira, é inegável que a força bruta tem peso nos empregos do agro, afinal de contas, entre 60% e 70% dos produtores são considerados médios e pequenos. Além disso, 95% das empresas rurais são familiares, o que impele as mulheres a participar menos do dia a dia direto da produção. Ou seja, imagina uma mulher laçando um bezerro no sol ou consertando uma cerca, e aí vocês vão entender mais ou menos o que quero dizer.
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Mas as coisas estão mudando, e mudando rápido. A atividade agropecuária perde margem conforme passa o tempo, e isso ocorre porque os custos produtivos sobem mais do que os preços das commodities. Isso faz com que os maiores desafios da produção seja vencer essa quebra histórica de margens, e a solução reside no aumento da produtividade por hectare. De fato, é o que temos observado acontecer ao longo dos últimos anos. Desde a década de 90, por exemplo, a pecuária viu sua produtividade crescer quase 150%, o milho, 208%, e a soja, 223%.
Esse processo é imprescindível para o aumento da oferta de alimentos e da eficiência no setor e, por consequência, aumenta a demanda por gerenciamento de ponta, que facilita o trabalho rotineiro através da tecnologia.
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Aliás, você deve ter visto vídeos por aí de mulheres operando tratores de última geração, não é mesmo? Pois é. Ao mesmo tempo que essa tendência impõe um enorme desafio aos pequenos produtores, em especial aos agricultores familiares – porque eles têm dificuldade de diluir custos fixos em áreas produtivas menores –, ela também aumenta exponencialmente o número de vagas para cargos gerenciais dentro das fazendas, que possuem características que se adaptam melhor aos interesses femininos, como a formação acadêmica, por exemplo.
Na população com 25 anos ou mais, 19% das mulheres e 15% dos homens tinham nível superior completo em 2019. Uma pesquisa da Abag (Associação Brasileira do Agronegócio) mostra que a maior preocupação da mulher do campo está relacionada a capacitação e desempenho nos negócios. 81% também declararam querer dedicar mais tempo a família, e um ponto importante sobre isso é que a hereditariedade é ponto nevrálgico nos processos de sucessão no agro.
Só tem gosto para estar no campo quem conhece a dinâmica dele de forma empírica, e o que tem de melhor para estimular os filhos a atuarem no campo do que a presença da mãe, não é mesmo? Portanto, dada a evolução tecnológica do agronegócio, que é irreversível e inegociável, o papel das mulheres continuará a evoluir e crescer conforme o setor avança, tornando um dos mais promissores para a gente.
*Lygia Pimentel é médica veterinária, economista e consultora para o mercado de commodities. Atualmente é CEO da AgriFatto. Desde 2007 atua no setor do agronegócio ocupando cargos como analista de mercado na Scot Consultoria, gerente de operação de commodities na XP Investimentos e chefe de análise de mercado de gado de corte na INTL FCStone.
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