Um estudo recente publicado em “Thinking and Reasoning” revelou um interessante paradoxo: quanto mais confiantes estivermos em nossa capacidade de distinguir o que é verdade e o que é mentira, mais chances temos de ser enganados.
“Meu principal interesse é entender por que pessoas sensatas acreditam em coisas estúpidas, o que acontece com todos nós mais vezes do que gostaríamos de admitir”, explicou Shane Littrell, da Universidade de Miami, autor principal do estudo.
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Buscando respostas
Para entender como as pessoas se tornam vítimas de informações falsas, chamadas de “bobagens” na pesquisa, os pesquisadores realizaram dois estudos. O primeiro, com 212 participantes, envolveu a análise de “bobagens” pseudo-profundas, que são um tipo específico de bobagem que se baseia em terminologia aparentemente profunda sem dizer algo significativo.
“Demos às pessoas uma lista de dez declarações de bobagens pseudo-profundas (por exemplo, ‘O significado oculto transforma uma beleza abstrata sem igual’) e dez citações inspiradoras reais (‘Um rio corta uma rocha, não por causa de seu poder, mas por sua persistência’), e pedimos a elas para classificá-las como ‘profundo’ ou ‘não profundo’. Com base nessas classificações, conseguimos calcular uma pontuação que representa a capacidade de cada pessoa em discernir com sucesso bobagens de coisas não-bobagens”, disse Littrell.
Após a conclusão dessa tarefa, os participantes tiveram de responder a três perguntas:
Quantas você acha que acertou?
Qual é a porcentagem média de itens que todos os outros acertaram?
Em uma escala de 0 (muito pior do que todos os outros) a 100 (muito melhor do que todos os outros), como você avaliaria sua capacidade de detectar bobagens em sua vida cotidiana?
Essas perguntas forneceram aos pesquisadores insights sobre o quão confiantes os participantes estavam em relação à sua capacidade de detectar bobagens e também ofereceram uma visão de como cada participante avaliava seu radar de bobagens em relação aos outros.
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Com base nos dados coletados no primeiro estudo, um padrão distinto emergiu: aqueles que tiveram o pior desempenho superestimaram sua performance, enquanto aqueles com as pontuações mais altas se subestimaram.
Os pesquisadores, então, realizaram um segundo estudo, conduzido com 201 participantes, para entender como os participantes chegaram à conclusão de “profundo” ou “não profundo”.
Trabalhos anteriores no campo do processamento de informações apontam para dois tipos de pensamento:
Pensamento intuitivo, que é um tipo de pensamento rápido e automático, muitas vezes chamado de “seguir o instinto”.
Pensamento reflexivo, que é um tipo de pensamento lento, metódico e analítico usado para resolver problemas complexos.
“Pesquisas iniciais nessa área hipotetizaram que as pessoas eram mais propensas a cair em desinformação, como bobagens e notícias falsas, principalmente porque usavam o pensamento intuitivo ao avaliar a desinformação, quando deveriam usar o pensamento reflexivo”, disse Littrell. “Nossos resultados do estudo 2 deste artigo mostraram que isso não é necessariamente o caso. Algumas pessoas realmente se envolvem em pensamento reflexivo ao avaliar desinformação, mas cometem vários erros de raciocínio ao fazê-lo.”
Portanto, enquanto alguns podem instantaneamente acreditar em informações falsas com base em seus instintos, outros podem convencer a si mesmos de que a desinformação é verdadeira após passar algum tempo pensando sobre ela. E ainda existem aqueles que passam tempo pensando e são capazes de identificar corretamente as informações como falsas.
Independentemente do tipo de pensamento utilizado, Littrell explicou que aqueles que estavam excessivamente confiantes em seu radar de bobagens (sentindo que ele era melhor do que a média) tinham o que o estudo chama de “ponto cego para bobagens”, enquanto os que subestimavam seu radar de bobagens tinham “cegueira para bobagens”, ou seja, eles realmente estavam em uma posição melhor para discernir desinformação.
“A superconfiança que um indivíduo tem em sua capacidade de detectar desinformação na verdade os torna ainda mais propensos a cair nela, pois impede que se envolvam no tipo de pensamento necessário para identificá-la”, acrescentou Littrell.
Quanto ao que se pode fazer para evitar ser enganado, Littrell diz:
“Pratique humildade intelectual (ou seja, aceite o fato de que você pode estar errado) e adquira o hábito de frear mentalmente quando encontrar novas informações. Eu costumo incentivar as pessoas a praticarem o que chamo de ‘dúvida produtiva’, que é um tipo de mentalidade cética que leva você a verificar fontes, fazer uma pesquisa factual e verificar a veracidade das afirmações, em vez de simplesmente aceitá-las cegamente”.
*Mark Travers é colaborador da Forbes USA. Ele é um psicólogo americano formado pela Cornell University e pela University of Colorado em Boulder.
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