“Meu papel, mais do que a gestão, é ser referência”, diz VP de RH da Kraft Heinz

  • Post author:
  • Reading time:7 mins read
Divulgação/Kraft Heinz

Flavia Caroni, VP de RH da Kraft Heinz na América Latina, fala sobre seus 20 anos de carreira em diferentes países da região

No seu primeiro mês como vice-presidente de recursos humanos da Kraft Heinz na América Latina, Flavia Caroni fez conversas individuais com mais de 150 colaboradores de todos os níveis. A mais alta executiva de RH da multinacional dona das marcas Heinz, Hemmer, Quero e BR Spices entrou em agosto de 2020, ainda no início da pandemia, com o desafio de conhecer e engajar os 7 mil  funcionários da região por meio das telas. Sob a sua gestão, o engajamento passou de 60% a 80% em todos os mercados e a taxa de turnover voluntário, ou a saída de pessoas da empresa, caiu de 40% a cerca de 10%. “Vim com a intenção de criar um ambiente mais humano e colocar o RH com posicionamento estratégico e alinhado com o negócio.”

Mas, para além das funções do job description, Caroni reconhece que tem um trabalho importante como referência para mulheres e profissionais LGBTQIA+. “Hoje eu tenho um papel muito maior do que o de gestão – que não é pouco –, de ser essa referência como uma retribuição para a sociedade.” 

Sem tirar o peso dos desafios enfrentados por mulheres e pessoas LGBTQIA+ no mundo corporativo, ela quer mostrar que é possível chegar à liderança de grandes empresas – e criar um ambiente confortável a partir desse lugar. “Quero que as pessoas vejam que eu tive uma vida difícil no começo e sofro determinados tipos de preconceito, mas aqui dentro eu posso ser quem eu sou.”

Leia também:

Como brasileira chegou à liderança das viagens Disney na América Latina
CEO da SAP promove liderança feminina em mercado dominado por homens
Líder do JPMorgan conta como saiu do Brasil e construiu carreira global

Para fazer isso, a empresa tem uma série de ações – mentorias comuns e reversa, licenças maternidade e paternidade estendidas e sala de amamentação no escritório, treinamentos para reduzir vieses inconscientes, grupos para criar redes de relacionamento e políticas de diversidade. Hoje, 40% do quadro de lideranças da Heinz é formado por mulheres e 30% por pessoas autodeclaradas pretas ou pardas. “Políticas são muito importantes, mas o maior impacto é no dia a dia.”

A executiva defende agir pelo exemplo e criar um espaço acolhedor e despojado no escritório – para onde vai quase sempre de camiseta e tênis e faz questão de cumprimentar todos os colegas. “A transformação cultural não acontece em três anos, mas os números mostram que estamos no caminho certo.”

Desafios do RH e da Heinz

Os desafios vividos por Caroni – e também pela maioria das empresas hoje – estão relacionados a um mix geracional sem precedentes. “As novas gerações chegam questionando propósito, sustentabilidade, algo maior do que o bônus do ano seguinte, enquanto a minha tem uma perspectiva do trabalho como um fim para tudo”, diz ela. O mundo em constante mudança também impõe uma atualização constante dos colaboradores, que é responsabilidade da área de recursos humanos.

Mas as questões específicas da empresa se devem especialmente à fusão Kraft-Heinz, que aconteceu em 2015. “Somos uma empresa relativamente nova na América Latina e os movimentos são rápidos e acabam trazendo desafios para o pipeline de sucessão.”

De estagiária a VP

À frente de 150 pessoas no seu time e de todas as áreas do RH da empresa na região, Caroni traz os seus conhecimentos de quase 20 anos de carreira. Sua trajetória começou em um estágio na Kimberly-Clark, multinacional norte-americana que a designou para essa área enquanto ainda era estudante de administração na FGV. “Sete meses depois, me efetivaram em uma planta de Mogi das Cruzes, então eu saía de casa 3h30 para trabalhar o dia inteiro, fazer faculdade à noite, chegar em casa e dormir 3 horas.”

Hoje, aos 40 anos, provavelmente não daria conta do recado, mas reconhece que o foco no trabalho e nos estudos foi herdado de seus pais, que sempre apontaram a educação como ferramenta de transformação social. “Minha mãe se formou na faculdade junto comigo. Quando eu nasci, ela e meu pai mal tinham alfabetização”, diz a executiva, que ainda hoje é a única da família no mundo corporativo. “Não tive ninguém para me guiar e me dizer como me portar, então tive que explorar muito.”

Durante essa trajetória, quase toda na Kimberly-Clark, onde ficou por 15 anos, passou por diversas áreas dentro do RH – remuneração e benefícios, talent management e como business partner. 

Dentro e fora do Brasil e do escritório

Em 2015, convidada para assumir como head de RH no Peru, precisou recomeçar em um novo país. “Sem saber pagar uma conta, que remédio tomar ou que shampoo usar”, lembra. Seis meses depois, sua esposa chegou para acolher. “E trouxe uma responsabilidade e uma pressão para dar certo, porque de alguma maneira eu estava fazendo ela pagar um pedágio.”

Foram três anos e meio no Peru, baseada em Lima e depois responsável pelos países andinos. “Eu saí do Brasil com um quê de arrogância, como se todo mundo na América Latina fosse igual, mas é totalmente diferente”, diz ela, que logo percebeu que as motivações das pessoas eram diferentes e que as piadas do Brasil não faziam sentido nos outros países. 

Mais tarde, sua esposa voltou para o Brasil e ela foi transferida para a Argentina, antes de se ver numa depressão e pedir demissão em nome da vida pessoal, do casamento e dos pets. “Me dediquei demais à minha carreira, cheguei numa posição com impacto na vida de um monte de gente, mas estava sozinha, sem nem um cachorro comigo”, conta Flavia, que hoje vive em São Paulo com a esposa, também líder de RH de uma multinacional de bens de consumo.

Depois de uma trajetória de 15 anos na mesma empresa, ficou pouco menos de 1 ano na Whirpool antes de ir para a Heinz. Hoje, à frente da América Latina, mantém contato virtual diariamente com o pessoal de todos os mercados, que trazem a temperatura de cada local. Na teoria, cada dia da semana é destinado para um país. Mas as viagens, que acontecem duas vezes ao ano para cada um deles, reforçam a importância da proximidade física. 

Para além do crachá, Caroni é corredora e se prepara agora para a sua segunda maratona, em Amsterdã. Em casa, com os três cachorros, dois gatos e a esposa, que conheceu dentro do RH e é sua parceira há 18 anos, RH é assunto proibido. “Temos tantas outras coisas boas na vida para compartilhar.”

A jornada de Flavia Caroni, VP de RH da Kraft Heinz

Primeiro cargo de liderança

Gerente de RH em 2011 na Kimberly-Clark

Turning point da carreira

“A experiência fora do Brasil me trouxe muito aprendizado pessoal e profissional.”

Quem te ajudou

“Líderes diversos, de RH e negócios, que ao longo da minha carreira foram exemplo de integridade, visão estratégica e humana de negócios.”

O que ainda quero fazer

“Impactar positivamente mais e mais pessoas, contribuir para o desenvolvimento dos times de Kraft Heinz e da nossa sociedade.”

Causas que abraço

“Autodesenvolvimento contínuo, animais, esportes e grupos minorizados.”

Formação

Mestrado em Gestão de Recursos Humanos e MBA em Gestão Estratégica de Negócios, ambos pela Fundação Getúlio Vargas, e graduação em Administração de Empresas pela Universidade Presbiteriana Mackenzie

Outras executivas que contaram suas histórias em Minha Jornada:





O post “Meu papel, mais do que a gestão, é ser referência”, diz VP de RH da Kraft Heinz apareceu primeiro em Forbes Brasil.

Deixe um comentário