Indústria de cannabis cresce, e eventos movimentam milhões de dólares

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Os eventos presenciais desempenham um papel fundamental em qualquer setor. Especialmente na indústria da cannabis, eles funcionam como uma poderosa ponte de contato entre investidores, empresários e o público que alimenta esse mercado em plena expansão no mundo. Isso se deve a dois fatores: apesar de ter expectativa de
crescimento médio de 20% até 2031 (dados da consultoria Allied Market Research), o setor, na prática, ainda é diminuto – cenário que favorece um contato direto entre os principais players do mercado, que voltaram a olhar olhos nos olhos nos maiores eventos ligados a essa planta, ao redor do planeta.

O outro fator que faz dos eventos uma peça-chave na engrenagem desse segmento é a limitação à publicidade inerente ao ecossistema. Ao contrário da maioria dos nichos, que dispõe de ferramentas para divulgar seus produtos e serviços, os negócios de cannabis ainda estão quebrando a cabeça para fazer suas marcas chegarem como se deve ao grande público. Não será pela TV, nem pelo rádio, nem mesmo pela internet: “esbarrar” com alguma peça que contextualize ou eduque o consumidor sobre as possibilidades de uso dos derivados da planta da cannabis não vai acontecer naturalmente.

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Assim, os eventos dedicados ao tema são uma oportunidade muito valorizada por todas as marcas atuantes nessa indústria. A verba, que normalmente seria dedicada a ações de marketing, incrementa o orçamento para a montagem dos stands nos eventos, o que, por sua vez, favorece a criação de espaços mais interessantes – seja com brindes mais úteis ou, em alguns casos, a oferta de demonstrações “demo” de serviços, – por exemplo, uma análise de cultivo ou mesmo uma rápida consulta para diagnósticos menos complexos.

Em qualquer caso, os visitantes sempre saem ganhando. Isso talvez explique, pelo menos em parte, o rotundo êxito dos eventos de cannabis mundo afora. Com um forte ritmo de crescimento, a maioria deles cresce em público e visibilidade ano após ano, com exceção, é claro, do período de pandemia, em que foram obrigados a cessar atividade. Em 2022, vários eventos recuperaram números pré-pandêmicos; alguns chegaram a bater recordes de público e venda na retomada das feiras.

BENZINGA CANNABIS CAPITAL CONFERENCE (11 E 12 ABR) – MIAMI
CANNABIS EUROPA (2 E 3 MAI) – LONDRES
MEDICAL CANNABIS FAIR (4 E 5 MAI) – SÃO PAULO
PSYCHEDELICS SCIENCE DENVER (19 A 23 JUN) – DENVER
ICBC (29 E 30 JUN) – BARCELONA E BERLIM
EXPOCANNABIS BR (15 A 17 SET) – SÃO PAULO
CBD HEMP FAIR (29 E 30 SET) – BARCELONA
WONDERLAND (3 A 5 NOV) – MIAMI
MJBIZ CON (29 NOV – 1 DEZ) – LAS VEGAS
EXPOCANNABIS UY (1 A 3 DEZ) – MONTEVIDÉU
PSYCHEDELIC MEDICINE (10 A 13 DEZ) – TEL AVIV
SPANNABIS (MAR 2024) – BARCELONA

MAIS DE 20 ANOS DE TRADIÇÃO

O maior e mais antigo evento de cannabis do mundo, Spannabis, realizou, em 2002, sua primeira edição em um dos locais para eventos mais emblemáticos de Barcelona: o Palau San Jordi, construído para os Jogos Olímpicos de 1992. A estreia em grande estilo chamou mais a atenção do que devia. No ano seguinte, a organização precisou buscar um novo local, desta vez bem mais discreto, em Cornellà, cidade a poucos minutos de Barcelona.

Na edição de março de 2023, a Spannabis contou com a presença de mais de 500 empresas, entre bancos de sementes, grow-shops, laboratórios, marcas de CBD, produtores de cânhamo, entre outros. Para funcionar a contento, a organização do evento contratou 300 funcionários para receber as mais de 25 mil pessoas que “bateram cartão” nos três dias de feira, provenientes de 50 países. Uma turma que gerou um impacto econômico, estimado pela organização, de mais de 8 milhões de euros para Cornellà.

Esta, que foi a maior edição da história da Spannabis, deve ser a última no mesmo formato. Os organizadores pretendem expandir a área dedicada à feira, com a possibilidade inclusive de migrar para outra cidade ano que vem.

Como nem só de eventos voltados para o público geral vivem os negócios da cannabis, existe uma tendência de eventos B2B, aqueles voltados para fomentar a interação entre empresas, que devem se consolidar em um modelo no qual o International Cannabis Business (ICBC) é pioneiro.

Seu idealizador, o empresário Alex Rogers, realiza duas conferências por ano, uma em Berlim e outra em Barcelona, onde tratou de anexar o seu evento ao Spannabis.

Ele propõe aos empresários expositores um encontro prévio para discutir o setor ao longo de um dia inteiro de conferências intercaladas por comes e bebes para azeitar o networking dos mais de mil empresários que pagam ao redor de US$ 800 cada para ter acesso não apenas ao evento, mas ao after party que acontece à noite, quando mais de US$ 100 milhões são fechados em contratos e parcerias entre as marcas.

EXPOCANNABIS BRASIL

Os organizadores de eventos em torno da cannabis no mundo todo estão percebendo que não basta oferecer um espaço convencional de exposição para as marcas apresentarem a sua oferta aos consumidores. É fundamental promover um espaço de debate para gerar discussões e análises sobre a própria indústria, que, de tão atípica, precisa crescer com um olho voltado para dentro e outro para fora. A autoanálise e reafirmação dos ideais em que a indústria da cannabis está sendo forjada é imprescindível para que as vantagens de ser um dos poucos mercados que nascem no século 21 sejam aproveitadas ao máximo.

No Brasil, a Medical Cannabis Fair, que fará sua segunda edição nos dias 4 e 5 de maio, no Expo Center Norte (SP), percebeu tal necessidade. Além de receber mais de 100 marcas que atuam no mercado brasileiro e vão expor em 60 estandes, a organização preparou uma série de painéis em que 70 palestrantes e experts vão discutir o presente e o futuro da indústria no Brasil.

Por aqui, as dificuldades são maiores para a criação de eventos sobre cannabis. A quantidade de produtos apresentados é incomparavelmente menor do que nas feiras na Europa – e nem se fale dos eventos que acontecem nos Estados Unidos, com centenas de marcas já consolidadas, disputando um mercado em outro patamar de entendimento da erva. Mas a melhora do setor no Brasil é apenas questão de tempo – e os empresários da área sabem disso.

O lançamento de eventos canábicos no Brasil, enquanto ainda não há um grande nome dominando esse nicho, é uma possibilidade que tem atraído os mais diversos perfis de empreendedores.

No ano passado, o Festival Híbrido surgiu sem ter qualquer relação prévia de seus investidores com a cannabis, mas usou o tema para atrair um público cada vez menos alternativo de pessoas que vivem ou se aproximam de um estilo de vida “canábico e psicodélico”. Incluindo música, moda e um jeito único de lidar com o próprio bem-estar – tudo temperado com discussões sobre a cannabis perpassando as atividades.

Em setembro próximo, será a vez do evento mais exitoso da América Latina desembarcar no Brasil. Programada para acontecer na São Paulo Expo (Jabaquara), a versão brasileira da ExpoCannabis Uruguay tem enormes chances de se consolidar como um dos eventos mais importantes do país, graças ao know-how adquirido desde 2014. No evento realizado no Uruguai ano passado, 40% dos 9 mil presentes eram brasileiros ávidos por entrar em contato com a cultura canábica, que já circular em outros patamares no nosso vizinho do Sul.

“A presença maciça de brasileiros foi uma grande surpresa”, confessa a idealizadora e realizadora do evento, Mercedes Ponce de León. “Então, nos demos conta de que a falta de acesso à informação sobre cannabis no Brasil fazia os brasileiros buscarem tal conhecimento na Expo Uruguay. Depois, começaram a chegar marcas brasileiras, e assim se gerou um vínculo com o Brasil.”

As maiores dificuldades para realizar a versão brasileira da feira estão ligadas às questões legais e regulatórias no Brasil, segundo conta Larissa Uchida, CEO da ExpoCannabis Brasil. Como muitas empresas ainda não podem expor ou vender seus produtos na feira, a organização terá que entender as peculiaridades de cada empresa para se adequar ao que é permitido no país.

Com mais ou menos dificuldade, não há dúvidas de que será estrondoso: quase metade dos estandes e dos espaços de patrocínio já foi vendida por valores que variam entre R$ 10 mil e R$ 100 mil, excluindo encargos e taxas. “Estamos muito felizes de cruzar a fronteira e perceber como esse tema afeta a todos como região, e não só como países”, finaliza Ponce de León.

Matéria publicada na edição 106 da Revista Forbes, que pode ser acessada por aplicativo ou na versão impressa

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