“Robôs precisam de IAs mais sofisticadas”, diz diretora da Silicon Valley Robotics

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Andra Keay: “Os robôs vão precisar de uma IA que opere em diferentes camadas, que entenda a física tanto quanto as pessoas”

Os robôs sempre habitaram o imaginário humano. Da ficção científica à realidade, são presença no cotidiano de muitas pessoas e úteis para vários tipos de tarefas. Seja no formato de cães, humanos ou até insetos, por alguns milhões já é possível comprá-los ou alugá-los. Vidas já foram salvas ou poupadas por eles. Mas se do ponto de vista de hardware (a estrutura) avançamos muito, no que diz respeito ao software (os sistemas operacionais) há muito o que ser feito, e a palavra-chave para isso é inteligência artificial.

Andra Keay, uma das maiores especialistas em robótica do mundo, diretora da Silicon Valley Robotics, entidade sem fins lucrativos criada pelas empresas de robótica do Vale do Silício, além de fundadora da Women in Robots, falou na semana passada no evento Volpe Day, realizado pela Volpe Capital. Em entrevista à Forbes Brasil, Andra destacou que conforme a inteligência artificial avança, a robótica também evolui, no entanto, é importante entender que para que os robôs existam como idealizamos, o ChatGPT não basta. “Os robôs vão precisar de uma IA que opere em diferentes camadas, que entenda a física tanto quanto as pessoas”, diz Andra.

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Ela ressalta que a OpenAI, dona do ChatGPT, também vem contribuindo para o ecossistema. Inclusive integrando o sistema conversacional a robôs. A empresa conduziu, em fevereiro, uma rodada de investimentos de R$ 116 milhões na norueguesa 1X, anteriormente nomeada de Halodi Robotics. O objetivo é integrar o ChatGPT a uma estrutura humanoide. “O trabalho da OpenAI criou muita atividade no ecossistema do Vale do Silício”, ressalta Andra que, em entrevista à Forbes Brasil falou sobre a relação entre IA e robótica e o impacto dela no cotidiano.

Forbes Brasil – Qual o contexto do ecossistema de robótica atual e como ele foi impactado pelo boom recente da IA com o ChatGPT?

Andra Keay – Avanços em IA sempre criam ventos favoráveis para a robótica, da mesma forma que a robótica se beneficiou de smartphones e sensores menores desenvolvidos para games ou para a indústria automotiva. Os robôs incorporam a IA, mas as mudanças atuais não são tão impactantes para eles. No momento, a IA está aprendendo, com muitos novos métodos de treinamento, o que acelera as mudanças que ocorrem na linguagem e na visão da informação digital. Carreiras em programação, trabalho de conhecimento, comunicação e criatividade estão mudando rapidamente. Mas é muito mais difícil e lento mudar a camada de infraestrutura física do mundo, e é aí que os robôs operam.

FB – Do ponto de vista de negócios, investimento e evolução, esse mercado está em alta?

Andra – O investimento em robótica globalmente continua a subir. Os robôs vão precisar de uma IA que opere em diferentes camadas, que entenda a física tanto quanto as pessoas. Mesmo restrita à visão e à linguagem como é hoje, a IA continuará a melhorar a forma como os robôs navegam e identificam objetos no mundo real. As interfaces de linguagem podem permitir uma melhor interação humano-robô, onde as pessoas podem usar comandos de voz em linguagem natural para controlar os robôs. As oportunidades de negócios e investimentos são infinitas.

“Avanços em IA sempre criam ventos favoráveis para a robótica, da mesma forma que a robótica se beneficiou de smartphones e sensores menores desenvolvidos para games ou para a indústria automotiva. Os robôs incorporam a IA, mas as mudanças atuais não são tão impactantes para eles”

FB – Que tipo de inovações e soluções estão surgindo no Vale do Silício relacionadas à robótica? Você poderia citar alguns exemplos?

Andra – Obviamente, o trabalho da OpenAI criou muita atividade no ecossistema do Vale do Silício, assim como alguns dos robôs humanoides que emergem no momento. A OpenAI investiu na 1x, uma empresa de robôs humanoides que entrou no mercado dos EUA em nossos escritórios em Oakland. 1x tem juntas e motores muito bons e um design cuidadoso, então estou muito interessada em ver como eles se desenvolvem. A Agility Robotics também tem um dos humanoides mais avançados e comercialmente viáveis. No ecossistema do Vale também temos o Figure e o Optimusbot, da Tesla. Existem algumas outras empresas de robôs humanoides focadas na criação de robôs únicos para filmes, jogos e performances. O mesmo está acontecendo com avatares, IA, realidade aumentada e virtual.

Reprodução/Hanson Robotics

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FB – Esses investimentos possuem uma expectativa alta de retorno?

Andra – Apesar do desenvolvimento que eu mencionei, o Vale está sempre em busca de um retorno comercial de investimento (ROI). Tradicionalmente, os investimentos reais em tecnologia profunda tiveram uma taxa lenta de ROI, mas isso não impede ninguém de investir. Em vez disso, investidores e VCs estão buscando novas formas de estruturar fundos ou aplicar capital que melhor se adequem ao novo paradigma.

“O investimento em robótica globalmente continua a subir. Os robôs vão precisar de uma IA que opere em diferentes camadas, que entenda a física tanto quanto as pessoas”

FB – O Brasil tem relevância ou potencial para esse mercado?

Andra – O Brasil tem muito a oferecer; empreendedores incríveis, novos investidores, funcionários remotos acessíveis em um fuso horário compatível com os EUA e o potencial de ser um mercado para o que há de mais recente em IA, robótica e automação. E parte da cadeia de suprimentos e manufatura. Os EUA precisam se tornar uma nação manufatureira avançada porque a mão-de-obra está se tornando muito escassa. Ao mesmo tempo, a pandemia nos mostrou os problemas de depender de importações e ter longas cadeias de suprimentos. Os incentivos para criar hardware e software localmente estão crescendo. Todas as américas podem contribuir para reescrever a dependência global da China para produtos manufaturados. O Brasil também se beneficiaria com a criação de versões locais de empresas que estão tendo sucesso em outros lugares, para que a capacidade local continue aumentando. Os empreendedores brasileiros que conheci são incríveis em criar startups geradoras de receita sem grandes investimentos e quanto mais o Brasil puder capturar essa energia para o ecossistema local, mais valor econômico será criado.

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