Comunidade LGBT+ na obra do artista afrodescendente Isaac Julien

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Cortesia Isaac Julien

Fotografia de Isaac Julien da video-instalação “O Que É Um Museu”

Parece tanto tempo desde a era Thatcher (1979-1990), no entanto, questões sobre raça, sexo, política, migração, colonialismo e homofobia, que inflamaram a Inglaterra de então e são centrais à obra de Isaac Julien, continuam mais atuais que nunca. É o que atesta a retrospectiva de quatro décadas, “What Freedom is to me” (O que a Liberdade é para mim), em exibição até 20 de agosto próximo no museu londrino Tate Britain, deste artista multimídia e cineasta afrodescendente inglês que temos o orgulho de representar desde 2012, quando apresentamos sua mostra “Scopic Landscapes” em nossa galeria de São Paulo, em paralelo à sua grande exposição no SESC Pompéia.

No início de 2022, Julien recebeu o título de “Sir” das mãos da falecida rainha Elizabeth II por seus serviços prestados à arte na vídeo-instalação e no cinema, reunindo disciplinas como fotografia, dança, música, teatro, pintura, escultura e arquitetura em propostas conceituais sofisticadas, complexas, mas sempre de grande apuro visual. Integrando a retrospectiva no Tate Britain estão seus primeiros filmes em Super-8, como o sensual “Looking for Langston” (1989), filmado no auge da AIDS, a suas instalações em grande escala mais recentes. Projetadas em múltiplas telas, as obras tratam da igualdade de direitos, garantia de direitos básicos e solidariedade coletiva, com foco na comunidade gay e em grupos à margem da sociedade.

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Os roteiros investigam personagens proeminentes, mas nada óbvios, como por exemplo, o abolicionista Frederick Douglass ou a arquiteta Lina Bo Bardi, que atuaram em diferentes lugares (Filadélfia e Salvador), em épocas distintas (século 19, Anos 1950/1990) e se distinguiram, cada qual à sua maneira. Filmada em São Paulo e em Salvador, a vídeo-instalação “A Marvellous Entanglement” (2019), retrata a vida de Bo Bardi através das atrizes mãe e filha, Fernanda Montenegro e Fernanda Torres, que interpretam duas fases da vida da arquiteta, nascida na Itália, que promoveu o potencial sociocultural da arquitetura e do design brasileiros.

A retrospectiva emplacou chamada de capa no The New York Times do dia 28 de abril último e ainda ganhou duas matérias elogiosas no jornal inglês The Guardian. O crítico de arte contemporânea Ben Luke do Evening Standard escreveu: “Julien não tem medo de fazer o espetacular, o sensual e até o extravagante, mas sempre tecendo comentários contundentes de viés político”. Daniel, meu filho e sócio da galeria, esteve na abertura em Londres: “Essa grande retrospectiva é uma demonstração do reconhecimento da obra do Isaac Julien vinte anos após ele ter sido indicado para o renomado prêmio Turner Prize”. O título, “What Freedom is to me”, Julien pinçou de uma resposta de Nina Simone em uma entrevista da cantora publicada em 1968: “I will tell you what freedom is to me: No fear.” Vou lhe dizer o que liberdade significa para mim: não ter medo.



Com colaboração de Cynthia Garcia, historiadora de arte cynthigarciabr@gmail.com

Nara Roesler fundou a Galeria Nara Roesler em 1989. Com a sociedade de seus filhos Alexandre e Daniel, a galeria em São Paulo, uma das mais expressivas do mercado, ampliou a atuação inaugurando no Rio de Janeiro, em 2014, e no ano seguinte em Nova York.
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