Em dois dias, o dólar acumulou uma queda de mais de 2%. Pela primeira vez desde 10 de junho de 2022, a taxa de câmbio fechou abaixo do “nível psicológico” de R$ 5,00. Embora o movimento seja animador e dê a sensação de dias melhores na economia brasileira para todo o sempre, analistas alertam que essa situação pode ser efêmera.
Segundo economistas consultados pela Forbes Brasil, o alinhamento entre o cenário externo e as perspectivas para a economia brasileira, que foi registrado nos últimos dias, provocou o impulso do real frente ao dólar e o alívio para os ativos de risco. Os fenômenos foram o entendimento do mercado internacional de que o ciclo de aperto monetário pelo banco central dos EUA pode estar chegando ao fim. Já por aqui, o cenário local se deparou com uma importante desaceleração da inflação em meio a entrega do novo arcabouço fiscal – medida importante para estabilizar as expectativas de inflação e de gastos públicos.
“É difícil saber se este movimento de queda do dólar continuará com a mesma intensidade nos próximos dias ou meses porque os agentes do mercado vão se adaptando e reavaliando as suas expectativas constantemente conforme os acontecimentos”, diz o economista Bruno Mori.
Ariane Benedito, especialista em mercado de capitais, afirma que o arcabouço fiscal é o vetor local, enquanto os juros dos Estados Unidos são o vetor internacional. Ambos possuem fatores que podem colocar em xeque o impulso do real.
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No caso do arcabouço fiscal, o texto está previsto para ser entregue ao Congresso ainda nesta semana. Ao longo da tramitação, que deve ser longa, a proposta do governo federal poderá passar por alterações pelos deputados e senadores, com a possibilidade de agradar – ou não – ao mercado, o que influenciará na cotação do dólar.
Já os juros nos Estados Unidos, o próximo encontro do comitê de política monetária do Federal Reserve está agendado para os dias 2 e 3 de maio. Atualmente, a maioria do mercado espera por um último aumento de 0,25 ponto percentual, enquanto uma minoria já trabalha com a hipótese de estabilidade, com o Federal Reserve interrompendo o aperto monetário americano.
Caso os juros aumentem, a valorização do dólar em relação às demais moedas, real entre eles, é o cenário mais provável.
“Qualquer questão ou informação trazida que o mercado entenda que aumente o risco, o dólar voltará a subir novamente. Foi um movimento pontual, não duradouro”, diz Ariane Benedito.
Caiu, comprou
A especialista afirma que o momento é ideal para começar uma posição em dólar ou ampliar uma posição que já existe. “Como o dólar está caindo, a cota de investimentos está mais barata. Então é o momento do investidor destinar uma parcela da sua carteira para esse ativo se ele ainda não tem ou aumentar um pouco, mas nunca encerra a posição, é importante sempre ter essa posição”, diz ela.
Segundo Benedito, uma exposição ao dólar pode compensar as perdas em outros ativos financeiros neste momento de instabilidade. O dólar possui uma correlação negativa com a bolsa, por exemplo. Normalmente, quando a bolsa cai, o dólar está subindo, e vice-versa.
“Quando você tem um momento de maior aversão a risco, de instabilidade e incertezas, essa posição em dólar pode ajudar o investidor a se proteger”, diz a especialista.
Fundos cambiais, ações dos EUA, BDRs com lastro em papéis dos EUA, títulos do tesouro americano, todas são opções de exposição ao dólar. Para Mori, é importante que o investidor respeite seu perfil de investidor na hora de escolher esses ativos e definir o percentual de exposição.
Embora o dólar esteja caindo neste momento, no começo deste ano a cotação estava alta e as bolsas de Nova York sofreram grandes perdas.
“A melhor forma de ficar protegido dessas variações é focar no longo prazo. A economia é cíclica e um investimento que apresenta prejuízo hoje pode voltar a apresentar lucro no futuro, dependendo das mudanças”, diz Mori.
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