Alguns usuários do TikTok estão espalhando o conceito de “love bombing” (algo como bombardeio de amor) – uma demonstração de afeto excessivo no início de um relacionamento que pode revelar o narcisismo de seu parceiro – embora outros pareçam confundi-lo com um comportamento romântico normal.
O love bombing está tomando conta das mídias sociais: as hashtags do TikTok #lovebombing e #lovebomb têm 330 milhões e 133 milhões de visualizações, respectivamente.
A maioria desses TikToks virais mostra usuários compartilhando histórias sobre serem bombardeados pelo amor ou oferecendo conselhos sobre como evitar um bombardeiro amoroso.
O comportamento de love bombing relatado inclui atenção intensa ou bajulação dada por um parceiro romântico para manipular o outro, especialmente no início de um relacionamento, explicou Chitra Raghavan, professora de psicologia do John Jay College of Criminal Justice ao New York Times.
Um estudo da Universidade de Arkansas, que pesquisou estudantes universitários em 2017, encontrou taxas mais altas de comportamento de love bombing entre pessoas identificadas como tendo tendências narcisistas e baixa autoestima.
O estudo também descobriu que os “bombardeadores” eram mais propensos a ter expectativas excessivas de comunicação constante, inclusive por meio de mensagens de texto, de parceiros românticos, especialmente de pessoas que dependiam da aprovação dos outros para determinar seu valor próprio.
O usuário do TikTok Logan Cohen, que diz ser um terapeuta licenciado, postou um vídeo identificando sinais comuns de love bombing: elogios excessivos a ponto de causar desconforto, dar presentes para exercer mais poder sobre um parceiro, exigir toda a atenção de um parceiro, apressar marcos (como ficar noivo) e pressionar um parceiro a acreditar que são almas gêmeas.
Alguns foram ao TikTok para contar histórias sobre terem sido vítimas do love bombing: a usuária Molly Russo, de Nova York, conquistou 836 mil curtidas em um vídeo falando sobre um relacionamento que ela teve aos 19 anos, em que no terceiro dia um homem do Reino Unido disse a ela que estava se apaixonando e terminaria com a então namorada e, depois de apenas duas semanas, disse que estava pensando em se candidatar para faculdades perto dela.
As pessoas que foram bombardeadas pelo amor podem perder o senso de identidade. Especialistas dizem que as vítimas devem considerar a terapia e se conectar com as atividades e pessoas que eram importantes para elas antes de sofrerem o love bombing.
Psicólogos e terapeutas concordam que o bombardeio de amor é um comportamento manipulador e carece de sinceridade, mas alguns usuários do TikTok expressaram confusão sobre se mostrar atração por seu parceiro no início de um relacionamento é considerado love bombing ou não.
Em um comentário no vídeo de Russo, um usuário escreveu: “Tenho medo de fazer um bombardeio de amor sem querer ou ser acusado de love bombing porque sou inconscientemente EXTREMAMENTE carinhoso e amoroso”.
Outra usuária postou um vídeo, com mais de 240 mil curtidas, afirmando que ela não sabia se seu parceiro a estava bombardeando de amor depois que ele a chamou de perfeita e disse que podia imaginar um futuro com ela.
Outros brincaram que não se importam em ser bombardeados porque gostam de carinho e atenção. “Meu problema em ser bombardeado pelo amor é que faz sentido para mim”, disse um usuário cujo vídeo foi curtido mais de 650 mil vezes. “Você se apaixonou por mim em 2 semanas? Costumo causar esse efeito nas pessoas. Francamente, você deveria se sentir assim”.
“A comunicação é naturalmente recíproca. Nosso instinto é igualar o nível ou a profundidade de comunicação da outra pessoa e, assim, os love bombers, na tentativa de obter esse tipo de afeto de outra pessoa, expressam afeto, não necessariamente muito genuinamente, mas realmente como uma tática de manipulação para que eles possam se sintam melhor consigo mesmos. Quando eles dizem ‘te amo’ e ouvem: ‘Ah, eu também te amo’ ou ‘Você é tão importante para mim’ ou ‘Você é tudo para mim’, esse é o objetivo deles”, disse Claire Strutzenberg, pesquisadora de ciências sociais que foi coautora do estudo da Universidade de Arkansas.
História do love bombing
Alguns dos primeiros usos conhecidos do termo “love bombing” referem-se a uma tática de recrutamento de culto. A Igreja da Unificação, fundada na Coreia do Sul em 1954 com seguidores significativos no Japão e nos Estados Unidos, supostamente usou bombas de amor para atrair membros, embora há muito tempo tenha negado acusações de que é uma seita. Desertores dizem que ela faz “lavagem cerebral” dos membros e solicita doações supostamente para enriquecer a família fundadora. Em 1978, o The Washington Post relatou que um love bombing que incluía segurar as mãos, contato visual íntimo e canto afetuoso em grupo, fez com que os membros recrutados se sentissem “necessários e cuidados”. Em um testemunho perante a força-tarefa de culto da legislatura do estado de Maryland em 1999, o educador anticulto Ronald Loomis creditou a Igreja da Unificação por cunhar o termo “love bombing” e afirmou que se trata de uma tática para recrutar estudantes universitários para cultos. Os recrutadores, disse Loomis, encontravam alunos vulneráveis que pareciam sozinhos ou tristes e tentavam fazer com que o aluno se sentisse especial.
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O love bombing foi identificado em alguns meios de comunicação populares. Alguns disseram que “O Golpista do Tinder”, um documentário de 2022 sobre a manipulação de mulheres pelo israelense Shimon Hayut no Tinder, é um exemplo de bombardeio de amor. Hayut afirmou falsamente a essas mulheres que era filho do magnata dos diamantes Lev Leviev e que lhes daria presentes, incluindo estadias em hotéis cinco estrelas e voos em jatos particulares, antes de finalmente tirar o dinheiro delas. Em outra série de documentários no ano passado, “Segredos da Playboy”, a ex-namorada de Hugh Hefner, Holly Madison, acusou-o de usar a tática para controlá-la.
(Traduzido por Patrícia Junqueira)
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