Google reduz promoções para liderança e cria competição interna

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Bloomberg Finance LP

Sundar Pichai, CEO do Google, assumiu a responsabilidade pelos recentes cortes de funcionários e redução nas promoções

Uma nova política do Google tornará mais difícil que seus funcionários avancem na organização. A empresa informou aos trabalhadores que vai promover menos pessoas para níveis seniores este ano em comparação com os anos anteriores.

Em um esforço para controlar os gastos, a decisão da big tech visa “garantir que o número de Googlers em cargos mais altos e de liderança cresça proporcionalmente ao crescimento da empresa”.

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Com menos promoções disponíveis, a empresa está criando uma competição entre funcionários de maneira nada sutil. Engenheiros de software e outros profissionais de tecnologia vão precisar melhorar sua produtividade. E, se não excederem as expectativas de seus gerentes, podem não ter mais espaço dentro da companhia.

A recente decisão de reduzir as promoções de gerentes intermediários é provavelmente a maneira do Google de voltar atrás na tendência de contratar pessoas em excesso ao longo dos anos e aumentar os custos. A Alphabet, empresa controladora do Google, expandiu sua força de trabalho em pelo menos 10% ao ano desde 2013, de acordo com a CNBC. A companhia aumentou seu quadro de funcionários em mais de 20% em 2018 e 2019. E o crescimento continuou, com mais de 16 mil novas contratações em 2020 e 21 mil novos funcionários em 2021.

De mimar os trabalhadores a cortar custos

Essa nova política vai na contramão dos mimos oferecidos pelo Google aos funcionários na última década, como camas para tirar um cochilo, remunerações generosas e stock options (a possibilidade de comprar ações por valores mais favoráveis), benefícios de saúde, comida gratuita em cafés e restaurantes no escritório, serviços de lavanderia, academias e espaços de massagem e ioga.

O Vale do Silício contratou agressivamente nos últimos anos, sem vincular os custos das novas contratações ao crescimento da receita. Depois que a inflação disparou e as taxas de juros subiram nos EUA, os CEOs da big techs admitiram que haviam sido muito otimistas. À medida que os preços das ações das empresas de tecnologia despencavam e os custos dos empréstimos aumentavam, a liderança dessas organizações adotou medidas de corte de custos.

A nova política de austeridade do Google ficou clara em um email enviado à equipe na última segunda-feira (6). O comunicado dizia que o ritmo de contratação será mais lento este ano e com menos promoções a partir do nível L6 – o primeiro da alta liderança, que inclui empregados com 10 anos de experiência ou mais –, do que quando o Google estava crescendo rapidamente. 

De acordo com o memorando da equipe, há dois caminhos para uma promoção: você pode ser indicado por seu gerente ou pode se “autoindicar” entre 6 e 8 de março. 

A nova dinâmica é outro golpe para os trabalhadores do Google, que acaba de demitir 12 mil pessoas por email. Não havia clareza sobre por que as pessoas foram selecionadas para o downsizing, e os funcionários do Google não foram informados se isso tinha a ver com seu desempenho, remuneração ou a alguma métrica específica. “Os funcionários inundaram o Dory, a plataforma de perguntas da empresa, e criaram comunidades virtuais para descobrir quem foi demitido e por quê”, informou a CNBC na época das demissões. 

Em um memorando para toda a empresa, o CEO do Google, Sundar Pichai, escreveu: “Assumo total responsabilidade pelas decisões que nos trouxeram até aqui. Nos últimos dois anos tivemos períodos de grande crescimento. Para acompanhar esse crescimento, contratamos para uma realidade econômica diferente da que enfrentamos hoje.”

Avaliações de desempenho

Em meio à pressão de um mercado com condições adversas e com a necessidade de cortar custos, o Google lançou um sistema de classificação de funcionários e um plano de melhoria de desempenho – o GRAD (Googler Reviews and Development).

Em novembro do ano passado, a revista “Information” noticiou que os gerentes do Google precisaram classificar 6% dos funcionários como de baixo desempenho, em comparação com os tradicionais 2%. Em um anúncio anterior, os supervisores foram instruídos a reduzir as boas avaliações.

Chris Pappas, porta-voz do Google, disse em um email nessa época que o programa foi implementado para “ajudar no desenvolvimento, coaching, aprendizado e progressão de carreira dos funcionários ao longo do ano”. Pappas acrescentou: “O sistema de notícias ajuda a estabelecer expectativas claras e fornecer feedback regular aos funcionários sobre seu desempenho”.

A gigante de tecnologia usa uma escala de classificação de cinco pontos. Para evitar problemas, os gerentes devem fazer um “check-in de apoio” antes de atribuir uma classificação abaixo de “impacto significativo”. Isso dá aos funcionários a oportunidade de melhorar o feedback antes do início das avaliações anuais. O Google estima que uma grande porcentagem de seus funcionários receberá uma classificação favorável de “impacto significativo”.

Lei da oferta e demanda

De acordo com a lei da oferta e da demanda, se algo parece ter oferta limitada, a percepção de seu valor aumenta significativamente. Quanto menos promoções seniores disponíveis no Google, mais cobiçados serão esses cargos.

Os funcionários vão trabalhar mais para serem notados e promovidos na empresa. Isso, juntamente com uma ameaça já existente à segurança dos empregos em meio a uma recessão do colarinho branco, com mais de 126 mil trabalhadores de tecnologia demitidos em 2023, vai estimular os funcionários a superar uns aos outros.

No ano passado, o “Wall Street Journal” relatou que Pichai, CEO do Google, queria aumentar a eficiência tornando a empresa 20% mais produtiva.

Demissão dos gerentes de tecnologia

Em uma teleconferência de resultados em 1º de fevereiro, o CEO da Meta, Mark Zuckerberg, falou sobre o aumento no número de gerentes dentro de sua empresa, alegando que isso cria um inchaço desnecessário e custos crescentes. De acordo com uma reportagem do site “The Verge”, a Meta está fazendo de 2023 o “ano da eficiência.”

Zuckerberg apontou as ineficiências dentro da plataforma de mídia social, o que também está acontecendo em outras grandes empresas de tecnologia. “Não queremos uma estrutura de gerenciamento que seja apenas gerentes gerenciando gerentes, gerenciando gerentes, gerenciando gerentes, gerenciando as pessoas que estão fazendo o trabalho.”

O capitalista de risco David Sacks disse no podcast de tecnologia, startups e venture capital All-In que a mentalidade dos trabalhadores mudou e hoje todo mundo quer ser gerente. De acordo com Sacks, um engenheiro de software não quer mais ser apenas um bom contribuidor individual, ele sente que o caminho para o sucesso é liderar uma grande equipe. Com essa mentalidade, o desenvolvedor mais talentoso para de programar, que é o que ele faz bem, e se torna um gerente. 

Ele constrói uma equipe que, com o tempo, aumenta para cinco ou mais de 10 membros. E o até então ótimo desenvolvedor de software, em vez de programar, passa o dia gerenciando o fluxo de trabalho diário. Essa tendência está se replicando em toda a organização, resultando na contratação de subordinados e aumentando consideravelmente os custos operacionais.

*Jack Kelly é colaborador sênior da Forbes USA. Ele é CEO, fundador e executivo da WeCruitr, uma startup de recrutamento e consultoria de carreira.

 (traduzido por Fernanda de Almeida)

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