Enquanto trabalhava como executiva na Deel, uma plataforma de contratação global, a polonesa Aleksandra Jarocka negociava planos de saúde para companhias na América Latina. Depois de se casar com um brasileiro e vir morar no Brasil, onde frequentou eventos de RH e ouviu executivas reclamando de seus planos de saúde corporativos – e dizendo que gostariam de congelar os óvulos para focar na carreira, Aleksandra decidiu fazer disso um negócio.
No ano passado, fundou a Fertably, empresa de benefícios corporativos de fertilidade, uma área que vem crescendo globalmente. “Explorando esse mercado no Brasil, vi que existe a tecnologia e uma demanda muito grande por esses serviços.”
A polonesa retomou a veia empreendedora que faz parte da sua vida desde cedo. Aos 17 anos, durante a faculdade de direito, fundou uma Ong na Polônia com ações voltadas para jovens mulheres. Mais tarde, deixou o curso e fundou a Alleverse, empresa de treinamento de equidade de gênero e cultura inclusiva no mundo corporativo, cujo impacto fez dela Forbes Under 25 Polônia.
Aleksandra uniu a experiência em RH e equidade de gênero no novo negócio. “Se a gente tem controle sobre a nossa saúde reprodutiva, temos controle sobre as nossas vidas”, diz a empreendedora. Hoje, em parceria com sete clínicas, a Fertably tem 6 mil usuários na plataforma, funcionários de empresas de tecnologia (60%) e do mercado financeiro (40%). E pretende chegar a 20 mil usuários até junho deste ano e três milhões nos próximos cinco anos. “As empresas que querem aumentar o número de mulheres nos cargos de liderança têm que pensar em como podem ajudar as mulheres a engravidar quando e se elas quiserem.”
O mercado bilionário da fertilidade
Menos de um ano depois do lançamento, a Fertably acaba de receber um aporte, cujo valor ainda não pode ser divulgado, e continua levantando capital para expandir sua atuação.
O mercado global de fertilidade foi avaliado em US$ 26,88 bilhões (R$ 140 bilhões) em 2020 e deve atingir US$ 45,40 bilhões (R$ 237 bilhões) até 2027, segundo a consultoria de pesquisa global Precedence Research.
Ainda assim, muitos investidores não enxergam a conexão entre fertilidade e trabalho e consideram o tema um “nicho”, o que aumentou os desafios para Aleksandra e seu sócio na busca por investimento. “Temos muitos dados que apoiam a nossa tese, mas a dificuldade é convencer os investidores, a maioria homens, em falar com a gente.”
A polonesa entrou num mercado ainda incipiente no Brasil, mas que já desponta em outros países. Nos Estados Unidos, por exemplo, grandes empresas como Facebook, Apple, Intel, Bank of America, Johnson & Johnson e Starbucks oferecem tratamentos de fertilidade como benefício corporativo. Aqui, Pepsico, Uber, Mercado Livre, LinkedIn e Microsoft já tiveram iniciativas parecidas. E, segundo a empreendedora, essa lista só deve crescer nos próximos anos. “Esse mercado existe nos EUA há uns 10 anos e já tem players muito desenvolvidos, incluindo uma empresa que fez IPO e dois unicórnios.”
Dados de uma pesquisa da consultoria Mercer mostram que até 2015 menos de um quarto dos grandes empregadores nos EUA – com 500 ou mais funcionários – ofereciam fertilização in vitro como benefício. Mas em 2020, esse número subiu para 27%, e em 2021, para 36%.
E a porcentagem de grandes empresas que cobrem o congelamento de óvulos subiu de 5% em 2015 para 15% em 2021. “Com o tempo, as empresas estão vendo que fertilidade e trabalho não estão separados.”
Atração e retenção de talentos
Mas não só isso. Para Aleksandra, as novas regras do PAT (Programa de Alimentação do Trabalhador), que passam a valer este ano, também vão ajudar a impulsionar a Fertably e os benefícios de fertilidade em geral. Pelo programa, empresas que oferecerem aos seus funcionários benefícios de saúde, cultura e esporte, por exemplo, terão incentivos fiscais.
Esses benefícios também são formas de atrair e reter talentos. Além de serem importantes para mulheres poderem escolher o melhor momento para ter filhos, têm impacto também em casais com diagnóstico de infertilidade, homossexuais e pessoas solteiras.
Um estudo de 2021 da RESOLVE, associação estadunidense de infertilidade, mostra que 59% dos entrevistados disseram que esse assunto já impactou sua performance no trabalho; 74% já pesquisaram sobre benefícios de fertilidade no trabalho; 77% ficariam mais tempo na empresa se ela oferecesse esses benefícios; e 88% cogitariam trocar de emprego por conta dos benefícios.
O número de ciclos de fertilização in vitro para reprodução assistida no Brasil cresceu 32,72% de 2020 a 2021, segundo dados do Relatório de Produção de Embriões. Esses tratamentos custam em torno de R$ 30 mil reais, o que dificulta o acesso. “As mulheres me falavam que iam pegar dinheiro emprestado da família ou que precisavam convencer o namorado quando queriam congelar os óvulos”, diz a fundadora sobre sua pesquisa de mercado.
E para 79% das empresas que cobrem FIV (fertilização in vitro), os benefícios também ajudam a avançar as metas de diversidade e inclusão, segundo estudo da Mercer. “Queremos criar essa consciência e expandir nossa atuação.”
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