Lançar uma rede de fast food durante a pandemia podia parecer arriscado, mas Renata Lamarco acreditava em sua capacidade e na de sua equipe o suficiente para apostar. Desde 2017, quando foi promovida a diretora de vendas e marketing da Bloomin’ Brands, a holding dona dos restaurantes de comida autraliana Outback, além das marcas Abraccio e Aussie Grill, Renata ganhou experiência para entender seu mercado e inovar dentro dele.
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Desde que chegou à empresa, em 2013, o Outback saiu de 40 para 140 restaurantes, a rede toda ganhou mais 90 pontos de delivery e sua equipe passou de 3 para 25 pessoas. Assim, mesmo com as pessoas em casa, em 2020 ela trouxe ao Brasil uma nova marca, o Aussie Grill, e fez daqui o principal mercado do grupo depois do seu país de origem, os Estados Unidos. Hoje, responde por 90% do faturamento das operações internacionais. No ano passado, a empresa investiu R$ 75 milhões para inaugurar 17 novas unidades locais. Tudo isso ela fez com um bebê no colo, que chegou em 2020.
Um dos pontos fundamentais para esse crescimento foi entender a empresa a partir de seu coração. Nos seus primeiros três anos de empresa, tinha um contato muito próximo com o CEO e fundador do grupo no país, o libanês Salim Maroun, que faleceu em 2017. “Ele era um apaixonado pelo Outback e me contagiou”, diz. Para ela, foi esse contato próximo com a cultura da empresa que a levou ao cargo de diretora cedo, aos 31 anos. “Eu tinha uma bagagem que é muito mais do que uma experiência e que é fundamental para conduzir uma marca com personalidade.”
Durante a pandemia – parte dela passada em licença-maternidade –, Lamarco lançou o cinema ao ar livre nas lojas da rede e gift card vendido no supermercado com descontos para refeições no restaurante – uma maneira de difundir a marca entre quem ainda não era cliente.
Foi responsável pelo lançamento de diversos produtos, alguns que não existem na rede fora do Brasil, como o fondue, o ovo de páscoa, panetone e o hambúrguer vegetariano. E aumentou a clientela fazendo festivais em torno de um prato. “Lançamos o Ribs Festival, de costela, domingo à noite no Fantástico. Na segunda-feira na hora do almoço tinha fila de espera em todas as lojas. Foi a campanha de maior sucesso da história.”
Burnout aos 25 anos
Responsável não apenas por essas ações, mas pelas vendas dos restaurantes, Lamarco se esforça para equilibrar a cadeira executiva com o cuidado de dois filhos, de três e seis anos, e as coisas que gosta de fazer – como maratonar séries de startups.
No início da carreira, trabalhando em agências de publicidade e atendendo clientes gigantes como o McDonalds, chegou a trabalhar 15 horas diárias e ir para o escritório na madrugada de domingo. “Eu já era gerente de uma marca muito grande com 25 anos. Era muita responsabilidade com pouca maturidade.”
Mas a conta chegou. “Comecei a ter falta de ar, palpitação, quase desmaiei e tive falhas de memória”, lembra a executiva, que teve um burnout quando o termo ainda não era usado. Hoje, com muito mais responsabilidades, criou estratégias para não passar novamente por crises assim. “Eu vou embora do trabalho todos os dias às 18h30, sim ou sim, porque senão eu não fico com os meus filhos”, diz Lamarco, que só responde um email ou outro depois que eles estiverem na cama.
Logo depois do episódio de burnout, seu marido foi aceito em um MBA em Chicago, e o que parecia impensável – mudar para os EUA e largar o trabalho, apesar de ter recebido uma proposta para trabalhar lá – virou realidade. Mas o sabático durou pouco, cerca de um mês, e ela logo arrumou uma pós-graduação para fazer, além de cursos de fotografia, culinária e moda.
Na volta, queria fazer uma mudança de carreira para o lado do cliente, não mais da agência. E 15 dias antes de voltar, aceitou a proposta do seu cliente do McDonalds, que agora era diretor de marketing do Outback. “Ainda não tinha apartamento, carro, nada, mas tinha emprego.”
Hoje, Lamarco sabe o que, além disso, foi importante para chegar a essa cadeira: curiosidade e busca por aprendizado contínuo (ela acaba de fazer um curso executivo na Califórnia e está obcecada por inteligência artificial), estar cercada de pessoas que acreditam no seu potencial e, claro, muito trabalho – o que sempre esteve no seu DNA.
Aos oito anos, fazia e vendia pulseiras para os vizinhos; a partir dos 16, trabalhou na empresa do pai, e aos 19 pediu uma vaga na empresa dos seus sonhos, ainda durante a faculdade. Foi o caminho de entrada para o mundo das agências, onde atendeu clientes como Itaú Unibanco, Skol e o próprio McDonalds. “Aprendi cedo vendo meus pais o valor do trabalho e do dinheiro. A partir daí, tive bastante oportunidade, mas batalhei muito para conseguir o que eu queria.”
Turning point da carreira
“Acho que foi a decisão de largar tudo aqui e ir pra Chicago e depois começar uma carreira nova na volta, foi um grande momento de virada.”
Quem me ajudou
“Primeiro, meu marido, que sempre me apoiou muito, tanto a largar tudo aqui e ir para lá quanto a recomeçar. Ele foi um grande apoiador, e minha família também sempre. E quando eu cheguei na Bloomin’ eu tive um chefe e um americano que me ajudaram muito, me desafiavam demais, eram super exigentes, mas ao mesmo tempo iam me mostrando que eu tinha um super potencial de desenvolvimento.”
O que ainda quero fazer
“Eu quero viajar muito com os meus filhos, eu tenho o sonho de conhecer a Austrália e a Nova Zelândia, até porque eu vivo o Outback o dia inteiro, e amo fazer trilha e lá tem trilhas incríveis. E tenho muita vontade de me dedicar mais a projetos sociais. Minha mãe teve uma Ong, e eu faço muitos trabalhos beneficentes, seja em casa com os meus filhos ou no trabalho quando eu consigo usar a potência do Outback para escalar coisas que eu admiro, como 15 dias atrás quando a gente fez o Bloomin’ Day, que é o dia que a gente doa todas as cebolas para a Make-a-Wish.”
Causas que abraço
“Trabalho com crianças, especialmente depois de me tornar mãe, mas desde muito pequena minha mãe me levava em um orfanato para ler livros para as crianças, e ela dava aula de alfabetização para os pequenininhos antes da escola. E a fome, porque é um dos maiores problemas no Brasil e eu tenho muitos projetos para cá como um grande restaurante. Uma outra questão é a diversidade. O meu time é bem diverso e eu vejo o quanto a gente se complementa. A gente tem um projeto grande de diversidade aqui, e eu estou me desenvolvendo bastante nisso.”
Formação
Marketing pela FAAP (Fundação Armando Álvares Penteado)
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