Foi uma celebração em alto estilo: minha mulher e eu deixamos os filhos em casa, no interior paulista, e fomos comemorar nossas bodas de prata no belo Ponta dos Ganchos, em uma península particular localizada em Celso Ramos, a 60 quilômetros de Florianópolis. A proposta do resort (e nossa também) era uma imersão a dois ao mesmo tempo relaxante, restauradora e contemplativa. Foi exatamente o que encontramos.
Um motorista do hotel nos aguardava no aeroporto Hercílio Luz. Depois de uma pequena viagem de 50 minutos e do brinde de boas-vindas, fomos levados ao bangalô Esmeralda, o segundo maior dos 25 espalhados por 80 mil metros quadrados na encosta que se debruça sobre a Baía Metropolitana Grande Floripa.
Recém-reformado em um processo de retrofit que consumiu mais de R$ 5 milhões nessa e em outras unidades, o bangalô, de 230 metros quadrados e diárias médias de R$ 7.500, nos esperava com uma providencial cesta de frutas e chocolates, um ótimo espumante e uma simpática e personalizada cartinha de boas-vindas sobre a mesa.
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Esses mimos e delicadezas se repetiriam nos dias seguintes, de forma cativante – no terceiro dia, nosso aniversário de casamento propriamente dito, ao retornar do almoço, lá estava um lindo buquê, champanhe e uma cartinha de felicitações (no check-out, minha mulher fez questão de entrar nesse simpático “correio elegante” e escreveu um agradecimento aos funcionários que “cuidaram” de nós, os que víamos e os que não víamos).
Na alegria e na tristeza
Os 120 funcionários do Ponta dos Ganchos, aliás, merecem um elogio à parte. Quase todos jovens e moradores de Celso Ramos, são encantadoramente bem-treinados e solícitos, o que ajuda a explicar o prêmio de Melhor Hotel do Mundo em Comprometimento com o Cliente concedido pela The Leading Hotels of the World em 2021, dois anos depois do reconhecimento como Melhor Resort das Américas.
“Temos uma relação diferente com nossos funcionários. Começa na seleção e prossegue no suporte que damos a eles. Observamos suas necessidades e investimos neles. Eles assimilam essa cultura, essa preocupação, a atenção aos detalhes, e passam a ter o mesmo olhar em relação aos hóspedes”, afirma Julio Jost, que dirige o Ponta dos Ganchos há 10 dos 20 anos de existência do hotel, erguido pelo uruguaio Daniel Peluffo e pelo investidor inglês Nicholas Razey.
O general manager lembra a maior tragédia local, o ciclone que atingiu a cidade em julho de 2020, para exemplificar a relação entre o hotel e seus colaboradores: “No dia seguinte, todos eles, sem exceção, estavam aqui ajudando a consertar os estragos, enquanto encontrávamos formas de ajudar suas famílias. Jamais vou esquecer”.
Privacidade
Consta que Paul McCartney e Beyoncé já se hospedaram no Ponta dos Ganchos, mas a única celebridade que Julio cita nominalmente é o ator José Wilker (1944-2014), que passou uma semana sozinho no hotel. “No final, ele me agradeceu, dizendo que tínhamos dado a ele algo que nunca tinha conseguido na vida: fumar seus charutos e ler seus livros sem ser incomodado. ‘Parece que vocês sabiam a hora que eu queria alguma coisa’, ele me disse.”
Os bangalôs são estrategicamente afastados entre si e passam uma forte sensação de isolamento. Os deslocamentos internos (para os três restaurantes, o spa Sisley, a quadra de tênis, a piscina coberta, a academia, a loja que vende roupas e cachaça de marca própria, a praia privativa, o heliponto e a recepção) são feitos por automóveis ou utilitários elétricos (como os de golfe, de quatro lugares). Para quem estiver em forma, é até possível vencer essas distâncias a pé, mas logo na entrada o visitante se espanta com o quão íngremes são os caminhos dentro da propriedade – que incluem uma trilha para caminhadas.
No café da manhã – com opção de menu degustação de 10 etapas que muda diariamente e que é servido a qualquer hora do dia –, no almoço e no jantar, no entanto, percebe-se que o resort não está vazio, mas sim ocupado por vários casais de diversas idades, falando em português, espanhol e inglês.
Por falar em idade, eles recebem crianças apenas em datas especiais, como Dia das Mães, Dia dos Pais e Natal, e mesmo assim só maiores de 14 anos (nada de pets).
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Assim, envoltos em um belo cenário e muito silêncio, é hora de desfrutar a dois os confortos do bangalô: piscina aquecida de fundo infinito, sauna e hidromassagem com vista para o mar, lençóis de algodão egípcio 600 fios, adega, banheiro duplo e até uma lareira, que foi acionada em um atípico dia de chuva e frio.
No meio da estadia, fomos convidados a fazer o upgrade para o bangalô Especial Esmeralda, com sua academia privativa e móveis assinados por Jader Almeida (diárias médias de R$ 8.500). Excelente, mas estávamos mais do que satisfeitos com nossas instalações e lá permanecemos.
A gastronomia
A academia teria sido uma boa ideia para queimar as calorias dos excelentes e fartos cafés da manhã, almoços e jantares que desfrutamos nos restaurantes do resort, dois deles abertos e conectados com as belezas naturais e um mais intimista, que se estende até a ilhota em frente por uma simpática ponte de madeira – onde apenas um casal por noite pode agendar o jantar (um menu de seis tempos harmonizado pelo simpático sommelier argentino Germán Bergondo) em um ambiente arrebatador.
O menu, com boas combinações nas entradas, nos pratos principais e nas sobremesas, é agradável e criativo na medida certa. Prioriza ingredientes locais, como os peixes e frutos do mar fornecidos pelos pescadores gancheiros e as verduras e especiarias cultivadas na horta orgânica do próprio hotel.
Nossa primeira refeição resume bem essa proposta: peixe branco, salmão, lula e camarão tigre assados na brasa e servidos com abobrinha, berinjela, pimentão, aspargos e batata, seguidos de cocada de cupuaçu com crocante de tapioca, praliné de castanha do Pará e ganache de maracujá.
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Há espaço no cardápio para experiências mais surpreendentes, como a degustação de ostras e o prime rib black angus precedido por uma salada de figos caramelizados com presunto parma, queijo de cabra com pistache e redução de aceto balsâmico.
Agito x sossego
Um tanto pelo tempo fechado, outro tanto por nossa proposta de diminuir o ritmo em um dos mais belos resorts do país, minha mulher e eu deixamos de lado atividades como mergulho, snorkeling, passeios de canoa e de stand up paddle. A lista de atividades inclui ainda passeios de helicóptero, de barco de pescador e de lancha pelas praias da região – fizemos este último, que nos permitiu avistar a praia de Palmas, a maior de Celso Ramos e a que mais tem atraído turistas, incorporadoras e investidores. A lancha pode ficar o dia todo à disposição do hóspede (R$ 6.500).
Fora isso, permanecemos fiéis à nossa proposta inicial: comer, relaxar e amar.
*Matéria publicada na edição 103, lançada em novembro de 2022
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