O estresse é uma reação fisiológica do organismo em que vários mecanismos de defesa entram em ação para enfrentar uma situação percebida como ameaçadora ou de demanda excessiva. Na sociedade contemporânea, o estresse se tornou um fenômeno social amplamente disseminado e responsável por diversos transtornos físicos e psicológicos.
Mas as pessoas não reagem da mesma forma a ele, ou seja, possuem diferentes graus de resiliência na hora de fazer frente a situações adversas. Essas disparidades são condicionadas por fatores genéticos e epigenéticos, educacionais e pela experiência de vida de cada indivíduo. Para compreender melhor o papel da experiência individual no enfrentamento do estresse, um grupo de pesquisadores do Instituto de Neurociências e do Departamento de Psicologia da Universidade de Princeton (Nova Jersey, EUA) fez uma experiência com camundongos, cujos resultados foram publicados em outubro pela revista Nature.
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O estudo partiu de uma certeza: a de que a liberação de dopamina na região do cérebro relacionada à recompensa, ao prazer e ao aprendizado – é alterada em camundongos em situações estressantes. Restava saber por que isso acontece e qual a sua importância.
Os cientistas colocaram um camundongo pequeno em uma gaiola com um roedor maior e hostil, com o objetivo de observar seu comportamento e examinar sua atividade neural durante um período de dez dias em que sofreu ataques do maior.
A observação apontou que os camundongos que mostraram mais liberação de dopamina diante da proximidade do agressor e no início da luta também foram os mais resilientes. Em contraste, os roedores que apresentaram maior liberação de dopamina no final do ataque e no início da fuga, ou seja, nos momentos de alívio, foram os menos resilientes, sucumbindo ao estresse e às suas consequências – como evitação social e ansiedade.
O estudo também mostrou que é possível modificar o comportamento e aumentar a resiliência dos camundongos com a estimulação da liberação de dopamina no decorrer da luta, tornando-os ainda mais propensos à resiliência. Por outro lado, estimular a dopamina durante o comportamento evitativo não ajudou a tornar os camundongos mais resilientes. Isso acontece porque o cérebro reage de forma diferente em função do comportamento do indivíduo submetido à situação estressante, o que parece apontar que o enfrentamento agressivo é uma forma de potencializar a própria resiliência em situações de confronto.
Embora as posturas defensivas associadas à luta fossem fundamentais para prever a resiliência de um camundongo diante do ataque, a quantidade de dopamina que os animais tinham em seu sistema de recompensa durante o tempo em que estavam começando se defender é um fator ainda mais fortemente relacionado à resiliência. Ou seja: o animal que enfrenta o agressor é recompensado por lutar e isso o torna resiliente.
Tais constatações não foram feitas em seres humanos, mas a semelhança entre os mecanismos fisiológicos dos mamíferos sugere que são plausíveis, o que poderia explicar por que algumas pessoas têm mais facilidade do que outras para lidar com situações estressantes.
Os autores do estudo esperam que no futuro esses resultados possam ser obtidos em seres humanos, provocando impactos positivos na saúde das pessoas mais vulneráveis ao estresse. As informações sobre nossas interações dinâmicas com o meio ambiente serão valiosas para rastrear nossos hábitos. Assim, dispositivos como relógios inteligentes, por exemplo, poderão fornecer feedback em tempo real sobre bons hábitos para promover mecanismos saudáveis como a resiliência.
Claudio Lottenberg é mestre e doutor em oftalmologia pela Escola Paulista de Medicina (Unifesp). É presidente do conselho do Hospital Albert Einstein e do Instituto Coalizão Saúde.
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