A tomada de decisão é uma grande parte do trabalho diário de qualquer executivo. O fato de ser um tema, de certa forma, corriqueiro não significa que seja simples — a maioria das pessoas ainda tende a ficar ansiosa durante o processo, protelando a decisão.
Nesta coluna quinzenal, Cristina Junqueira, cofundadora do Nubank, aborda a importância de conseguirmos tomar decisões, por mais difíceis que elas sejam, a qualquer momento.
O que são “decisões difíceis”?
Ao contrário do que muitas pessoas pensam, as decisões difíceis não são necessariamente aquelas que abordam assuntos complexos, mas sim estão relacionadas à quantidade de alternativas que temos no momento da escolha.
Isso porque, em alguns casos, se pararmos para pensar, sequer temos escolha. Ou seja, a decisão já está tomada — pode não ser a conclusão que queríamos, mas não temos o que fazer e a questão foi concluída de forma rápida. Essas são as fáceis.
As decisões difíceis são aquelas em que temos diversas alternativas que não são ideais, ou seja, em que precisamos sacrificar algum ponto. Nesses casos, precisamos pesar prós e contras antes de decidir. E eu divido com vocês aqui algumas dicas de como facilitar esse processo.
Respirar fundo
Por mais que seja ótimo termos senso de urgência ao querer resolver os problemas assim que eles aparecem, muitas vezes, no calor do momento, podemos tomar decisões equivocadas. Estamos tão imersos no contratempo que não conseguimos ter uma visão clara da situação.
Assim, mesmo que pareça improdutivo, parar, respirar e se distanciar da situação, tende a nos ajudar a colocar as ideias no lugar. Ao deixar a ansiedade de lado, evitamos decisões emocionais e conseguimos buscar alternativas mais racionais.
Para entender que tipo de decisão é esperada por nós, precisamos dar esse passo para trás e buscar ações que desacelerem a adrenalina liberada pela ansiedade – como respirar fundo, tomar uma xícara de chá ou praticar meditação. Assim, retomamos a nossa melhor capacidade cognitiva para resolver a situação.
Liste todas as opções
A próxima dica é pegar um papel e caneta e anotar todas as alternativas. Por mais que você acredite já ter tudo na cabeça, listar as possibilidades e os diferentes cenários com vantagens e desvantagens pode ser muito esclarecedor.
Algo que também pode ajudar é imaginar os possíveis resultados para cada uma dessas escolhas. Por exemplo, você pode estar em dúvida sobre continuar na sua empresa ou se arriscar em um ambiente novo de trabalho. Aí entram as questões: quais são as perspectivas de cada trabalho no médio e longo prazo? Qual empresa dá mais oportunidades de crescimento? Não podemos prever o futuro, mas imaginar possíveis cenários pode nos dar uma visão do que nos espera.
Peça opiniões
As nossas decisões se moldam de acordo com as informações que possuímos. Assim, voltando ao exemplo anterior: se você soubesse que não seria promovido ou teria aumento de salário nos próximos cinco anos na empresa atual, de repente, faria muito mais sentido aceitar o novo emprego, certo?
Por isso é tão importante dividir seus desafios e inseguranças com pessoas de confiança. A probabilidade de outros pensarem em novos cenários ou acrescentarem informações e pontos de vista é muito grande.
A escolha dessas pessoas também precisa ser cautelosa. Além de conversar com quem tem os interesses alinhados aos seus, com quem quer o seu bem, vale avaliar a expertise da pessoa caso a caso. Por exemplo, um colega de trabalho terá muito mais insumos para opinar em uma decisão que afeta a empresa. Mas familiares e amigos próximos podem ajudar mais em casos de decisões pessoais.
Dedique-se ao processo
Muitas vezes nos deparamos com decisões importantes, mas não urgentes. E se não nos dedicarmos a esses processos, vamos nos encontrar em posições em que elas se tornam urgentes.
Por isso, quanto antes conseguirmos nos planejar, principalmente sobre decisões maiores, que têm o poder de alterar a sua vida, melhor. Um exemplo disso é mudar de cidade ou de país, ou até mesmo escolhas acerca de decisões sobre relacionamentos e planejamento familiar. São processos longos e que requerem mais tempo de qualidade, a fim de tomar a decisão mais acertada.
Nesses casos, temos a tendência de deixar essa ideia no fundo da mente e não pensar ativamente nela, o que significa que essa decisão pode nunca chegar. Por isso, programe um prazo final e se dedique ao processo da tomada de decisão, mesmo nos casos não urgentes, nos planos futuros.
Em decisões corporativas é mais fácil. Como estamos sempre trabalhando com prazos apertados, as decisões precisam ser tomadas o mais rápido possível. Por outro lado, ter mais tempo não significa que a decisão será mais acertada, necessariamente.
Na verdade, segundo um estudo da MCKINSEY com funcionários de empresas globais, mais de 60% deles disseram que a maior parte do tempo usado para tomada de decisão é ineficiente. Isso significa que marcar uma reunião com todo o time toda vez que uma decisão precisa ser tomada pode não ser a melhor solução. Por isso, delegar decisões quando possível e buscar maneiras mais eficientes de escolher o caminho a seguir é sempre válido.
Confie no seu instinto
Por fim, mas não menos importante, confie no seu instinto, na sua intuição. Segundo a Harvard Business Review, as emoções e sentimentos são essenciais para a nossa habilidade de fazer boas escolhas. A experiência pessoal lapida o nosso instinto e faz com que, de forma inconsciente, vejamos padrões que outras pessoas ignoram.
O que não significa ignorar todas as dicas anteriores — muito pelo contrário, todo esse processo de tomada de decisão permite que você construa uma “intuição informada”. Ou seja, você já estudou sobre a situação, sabe os prós e contras de cada cenário e, mesmo que não tome o que parece ser a melhor decisão, está ciente do que te espera.
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