A grande revelação das eleições deste ano foi o surgimento de um poderoso contingente conservador entre os eleitores. A expressiva votação em candidatos mais conservadores para Senado, Câmara Federal e governos de estado, além da que recebeu Jair Bolsonaro, é prova cabal dessa corrente que transcende o setor rural. Não foram os agricultores que estiveram em Brasília aos milhares manifestando legitimamente seu descontentamento com o resultado das urnas e, muito mais do que isso, mostrando que não aceitarão passivamente uma guinada radical à esquerda como aconteceu em vários outros países da América Latina. A sociedade urbana era a grande maioria dos manifestantes.
Isso traz uma enorme responsabilidade ao governo eleito no que tange a “unir o país”, como foi vocalizado pelos vencedores. O país está mesmo dividido. E, mais do que nunca, o diálogo sério e verdadeiro precisa ser articulado entre contrários. Para isso, é essencial que os lados se dispam de radicalismo e/ou de idiossincrasias que cresceram na campanha e se debrucem sobre o que é realmente prioritário para o Brasil e sua população, esquecendo as eleições que agora pertencem ao passado. Recente, mas passado. Esse diálogo não é fácil – mas é indispensável.
E nele se encaixa o agronegócio. O setor representou 27% do PIB no ano passado, gera 20% dos empregos e vem aumentando sua massa salarial com a contratação de jovens especialistas em internet, demandados pela crescente digitalização do campo; e ainda tem o saldo comercial, que só tem sido positivo ao longo dos anos em função do enorme superávit do agronegócio, que assim garante as reservas cambiais.
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Esse saldo segue crescendo em 2022. No mês de outubro, o agro exportou US$ 14,25 bilhões, 61% a mais que no mesmo período de 2021. Vale ressaltar que 39% desse crescimento são decorrentes do maior volume exportado, enquanto apenas 16% são resultado de melhores preços. Mais ainda: as exportações do agro em outubro representaram 49% do total exportado pelo país!
Os saltos são notáveis: em 2020, o agro exportou US$ 100 bilhões; no ano passado, foram US$ 120 bilhões e, neste ano, devemos chegar a US$ 140 bilhões: até 30 de outubro, já foram US$136 bi! Qual é o país que, em plena restrição determinada pela pandemia e pela guerra na Ucrânia, aumenta 20% ao ano suas exportações setoriais?
É por essas e outras que o novo governo deve prestigiar o agro, locomotiva da economia nacional: a indústria de insumos (máquinas, fertilizantes, defensivos, equipamentos), os serviços (crédito, energia, seguro, infraestrutura) e a indústria de alimentos (bem com sua distribuição) dependem da produção agropecuária. Convém lembrar que exportamos alimentos industrializados para 190 países, o que
atesta a nossa qualidade.
Temos, sim, que cuidar de combater ilegalidades cometidas por aventureiros que perturbam a imagem de nosso agro – tropical, sustentável e competitivo. Mas destruir essa competitividade seria um tiro nas pernas.
Roberto Rodrigues é engenheiro agrônomo, agricultor, coordenador do Centro de Agronegócio da FGV e embaixador especial da FAO para Cooperativas. Participa de diversos conselhos empresariais, institucionais e acadêmicos.
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Artigo publicado na edição 103, de novembro de 2022.
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