Finanças agrícolas: fintechs são a próxima revolução no campo

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Fintechs são cada vez mais responsáveis por prover recursos à produção no campo

Nos últimos anos, as manchetes das notícias sobre tecnologia têm sido dominadas pela palavra “fintech”. De grandes captações realizadas por fundos ao aumento de clientes, lançamentos de produtos e agitação financeira – novos disruptores por meio das fintechs estão por toda parte em serviços bancários ao consumidor, crédito, pagamentos, investimentos e criptomoedas.

Com tudo isso, a impressão é de que há bons motivos para pensar que se atingiu o pico desse movimento das fintechs. Mas essa não é a realidade. Hoje, as indústrias onde a maioria das fintechs está focada representam apenas uma fração do mercado global de serviços financeiros de US$ 23 trilhões (R$ 120,2 trilhões na cotação atual). Produtos como Cash App, Robinhood e Chime (empresas de serviços financeiros) abordam mercados que são intuitivos para os consumidores comuns, mas esses consumidores representam apenas a ponta do iceberg.

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A próxima onda das fintechs se concentrará em melhorar os mercados menos conhecidos e menos “excitantes”, mas fundamentais para a economia global – e um dos maiores mercados preparados para a disrupção é o financiamento agrícola. O ano de 2022 viu um aumento silencioso, mas constante, de produtos fintech sendo construídos para a grande indústria agropecuária, e eles estão apenas começando.

Mas a pergunta é: por que trocar um tipo de financiamento até agora feito na agropecuária por outro que está começando? Pelas duas melhores razões que a tecnologia pode responder: o tamanho do mercado e as limitações dos provedores dos atuais serviços disponíveis a esse mercado.

Olhando apenas para os EUA, enquanto as fazendas contribuíram com US$ 134,7 bilhões (R$ 704 bilhões) para o PIB de 2020, as indústrias dependentes da agricultura – fabricação de alimentos, serviços de alimentação, têxteis – contribuíram com mais de US$ 1 trilhão (R$ 5,3 trilhões) para a economia, representando mais de 5% do PIB anual. Para muitos mercados emergentes, a participação da agricultura na economia geral é significativamente maior – chegando a 25% em alguns países (como é o caso do Brasil, estimado em 25,5% do PIB em 2022 e de 27,5% em 2021).

E, no entanto, os serviços financeiros não são tão competitivos quanto seria de esperar em um setor do porte da agricultura. Olhando novamente para o mercado dos EUA – um dos mais bem servidos em termos de financiamento agrícola – a dívida agrícola continuou a subir ao longo de 2022, as taxas de juros dos empréstimos agrícolas estão crescendo acentuadamente e os empréstimos agrícolas continuam a aumentar enquanto o número de bancos focados no mercado continuam a cair.

Entendendo o mundo das fintechs

Em um mundo onde se espera que a demanda por alimentos aumente 70% até 2050, exigindo US$ 80 bilhões (cerca de R$ 400 bilhões) de investimentos anuais, players tradicionais e lentos criam uma grande e crescente oportunidade para novos entrantes.

Embora o “financiamento agrícola” se refira a um conjunto amplo e heterogêneo de atividades – empréstimo de equipamentos, financiamento da cadeia de suprimentos, comércio de commodities, banco agrícola – as fintechs emergentes têm se concentrado em alguns subsetores:

Empréstimos agrícolas

O Oxbury Bank, no Reino Unido, levantou fundos duas vezes no ano passado para originar 650 milhões de libras (R$ 1,1 bilhão) em empréstimos agrícolas a agricultores dessa nação. Tarfin, na Turquia, e Agro.Club, na Europa Oriental, fornecem financiamento da cadeia de suprimentos para agricultores de médio porte mal atendidos, que geralmente precisam recorrer a seus fornecedores de insumos agrícolas para obter empréstimos que são a taxas exorbitantes.

Empresas como a Crowde, na Indonésia, e a Campo Capital, no Brasil, criaram uma rede de empréstimos agrícolas peer-to-peer. Jogadores como Traive, AgroLend, Terra (Luna) e Agree lidam com empréstimos agrícolas em toda a América Latina. O ProducePay permite que os agricultores mexicanos façam empréstimos garantidos por seus compradores norte-americanos.

Pagamentos agrícolas

A agricultura tende a ser uma indústria atrasada no uso de novos métodos de pagamento, com produtos de transação como cheques ainda estimados em 90% da indústria. A Bushel, uma startup em ascensão no mercado norte-americano, lançou recentemente um facilitador de pagamentos, uma carteira digital e um recurso de pagamentos embutidos que conecta compradores a 40% dos fornecedores de grãos nos país.

Dados estratégicos de preços & tradings de commodities

Os chamados deep markets (altos volumes com pequena margem entre compra e venda) de grãos, gado e outras commodities são fundamentais para o bom funcionamento das cadeias de suprimentos agrícolas, e dados precisos de preços são a força vital do setor.

Esses mercados permitem que os compradores se protejam contra o aumento dos preços dos alimentos e as grandes operações agrícolas se protejam contra as flutuações de preço da cadeia de suprimentos. A FarmLead é uma empresa focada em conectar digitalmente redes de comércio de grãos à vista e integrar dados comerciais a outras ferramentas digitais de agricultores e compradores de grãos.

Seguros

A agricultura é o setor industrial mais delicado quando se trata de riscos de mudanças climáticas, por causa da incidência de secas, inundações e desastres naturais. O seguro é incrivelmente vital para evitar o colapso de sistemas agrícolas precários, mas as seguradoras tradicionais têm dificuldade em subscrever fazendas.

É aí que entram plataformas como a World Cover, que fornece seguro climático via satélite para pequenos agricultores em países como Gana, Uganda e Quênia, ou a GramCover, focada em fornecer acesso a seguros para agricultores na Índia.

Marketplaces

Embora plataformas de comércio eletrônico como a Shopify tenham aberto mercados globais de varejo para comerciantes independentes, a maioria dos farm marketplaces ainda opera como trocas offline centralizadas. No Quênia, startups como Twiga Foods, FarmShine, ShambaPride e M-Farm criaram plataformas para conectar agricultores diretamente com compradores e listar informações de preços facilmente acessíveis.

Bancos e fintechs

O maior prêmio para as fintechs é conquistar novos clientes em uma vertical, como empréstimos ou seguros, e vender produtos bancários criados especificamente para suas necessidades. A DeHaat, na Índia, fornece serviços financeiros a agricultores em crédito, fornecimento de materiais, consultoria e vendas.

A Figured, da Nova Zelândia, fornece ferramentas de planejamento financeiro para agricultores. A FarmDrive cria uma pontuação de crédito para agricultores quenianos. A Seso fornece ferramentas de contratação, gerenciamento de força de trabalho e gerenciamento de ativos para simplificar as folhas de pagamento agrícolas nos EUA.

Na próxima década, veremos um mercado paralelo de produtos em todas as categorias de fintechs – bancos, empréstimos, poupança, pagamentos, investimentos, RH, folha de pagamento e comércio – focado especificamente na agropecuária. Embora o setor possa não ser o mercado mais óbvio para uma fintech, ele é, definitivamente, um dos maiores e mais importantes. O mundo deve assistir a muitas dessas empresas crescerem rapidamente e dominarem a próxima onda de fintechs.

Nik Milanovic é colaborador da Forbes EUA. Escreve sobre tecnologia financeira, especificamente seu impacto na inclusão financeira e oportunidades para inovações futuras. É consultor da Tribal Credit.

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