Claudine Gay, estudiosa da democracia e participação política, assumirá a liderança da Universidade de Harvard em 1º de julho de 2023. Gay atuou como reitora da Faculdade de Artes e Ciências de Harvard desde 2018. Nessa função, ela liderou o maior e mais diversificado corpo docente da instituição com sede em Cambridge. Além de promover inúmeras inovações durante sua gestão, ela conduziu a universidade com sucesso durante a pandemia de Covid-19.
Gay, que nasceu em Nova York, é filha de imigrantes haitianos. Seu pai era engenheiro e sua mãe enfermeira. Ela recentemente compartilhou que seus pais “vieram para os Estados Unidos com muito pouco e se matricularam na faculdade enquanto criavam sua família”.
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“A faculdade sempre foi a expectativa para mim. Meus pais acreditavam que a educação abre todas as portas, mas, é claro, eles me deram três opções: eu poderia me tornar uma engenheira, médica ou advogada, e tenho certeza que outros filhos de pais imigrantes se identificariam com isso. Então, digamos que se tornar acadêmica não era o que meus pais tinham em mente.”
Determinada, Gay obteve seu diploma de bacharel em economia em Stanford em 1992 e um doutorado em Harvard em 1998.
Gay tem ampla preparação acadêmica e profissional, bem como o respeito do corpo docente de Harvard. Penny Pritzker, membro sênior da Harvard Corporation e presidente do comitê de pesquisa presidencial de Harvard, apontou que as qualidades pessoais de Gay também são altamente desejáveis para o cargo de presidente.
“Apesar de todas as suas realizações profissionais, ainda mais impressionantes são as qualidades pessoais de Claudine – sua clareza de espírito, ampla curiosidade sobre áreas além da sua, integridade e imparcialidade e dedicação em criar oportunidades para os outros. Ela será uma grande presidente de Harvard em grande parte porque é uma pessoa muito boa”, diz Pritzker.
Gay é reconhecida por sua vasta curiosidade intelectual, sua perspectiva interdisciplinar e como uma especialista altamente influente na participação política nos Estados Unidos. Sua pesquisa e ensino exploram como os fatores sociais e econômicos moldam as visões políticas e os comportamentos eleitorais. Gay também é presidente fundadora da organização Inequality in America Initiative, de Harvard, um esforço interdisciplinar que avançou o conhecimento em áreas como pobreza infantil, oportunidade educacional, desigualdades na educação STEM (ciência, tecnologia, engenharia e matemática), imigração e mobilidade social e desigualdade em um contexto global.
De acordo com Pritzker, “Claudine trouxe para seus papéis uma rara mistura de incisividade e inclusão, alcance intelectual e conhecimento estratégico, ambição institucional e humildade pessoal, respeito por ideais e talento para catalisar mudanças. Ela tem um compromisso fundamental com a livre investigação e expressão, bem como uma profunda apreciação pelas diversas vozes e pontos de vista que são a força vital de uma comunidade universitária.”
Em um mundo que está mudando rapidamente e em uma universidade que se move lentamente quando se trata de mudanças (como a maioria das faculdades e universidades), Gay está ciente dos desafios que enfrenta.
“Hoje, estamos em um momento de mudança notável e acelerada – social, política, econômica e tecnológica. Muitas suposições fundamentais sobre como o mundo funciona e como devemos nos relacionar uns com os outros estão sendo testadas”, disse ela, acrescentando que “a ideia da ‘torre de marfim’ é o passado, não o futuro da academia. Não existimos fora da sociedade, mas como parte dela. Isso significa que Harvard tem o dever de apoiar, se envolver e estar a serviço do mundo.”
A importância da representatividade
Sabendo que sua presença como mulher negra e filha de imigrantes é poderosa, Gay compartilhou: “se minha presença nesse papel reafirma o sentimento de pertencimento de alguém em Harvard, isso é uma grande honra.”
Linda Oubre, graduada pela Universidade de Harvard e primeira presidente negra da faculdade Whittier College considera a eleição de Gay histórica: “Estou orgulhosa de que a Dra. Gay tenha sido nomeada para liderar uma das universidades mais prestigiadas do país e do mundo. Já estava na hora.” Quando se trata de liderança, segundo Oubre, sempre importa “quem está na sala”.
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De acordo com um relatório de 2022 intitulado “The Women’s Power Gap at Elite Universities: Scaling the Ivory Tower” (A lacuna de poder das mulheres nas universidades de elite: escalando a torre de marfim, em tradução livre), de Andrea Silbert, Magdalena Punty e Elizabeth Brodbine Ghoniem, a representatividade é importante e as mulheres negras não estão bem representadas na presidência de instituições de ensino superior de elite.
As autoras do relatório, que investigaram mais de 130 instituições de pesquisa de alto impacto e outros 20 sistemas multicampi, descobriram que metade da amostra nunca teve uma mulher como presidente. Elas também perceberam que, embora as mulheres negras sejam a população que mais cresce no ensino superior, elas eram apenas 5% dos presidentes na amostra. Em relação aos presidentes negros, as autoras constataram que, embora o número de presidentes homens negros tenha dobrado nas últimas décadas, a taxa de mulheres negras na presidência não apresentou avanços semelhantes.
As universidades públicas eram mais propensas a ter um presidente negro (principalmente homens) do que as universidades privadas. O estudo descobriu que 75% das mulheres da amostra chegaram à presidência por meio de um cargo acadêmico anterior – como reitora, por exemplo – o que é comum. As mulheres representam 40% desses cargos, mas ainda carecem de representação na presidência, com apenas 22% da amostra sendo mulheres.
Gay é a segunda mulher negra presidente de uma instituição da Ivy League, das melhores universidades dos EUA. Ruth Simmons foi a primeira na presidência da Universidade Brown, em Rhode Island, de 2001 a 2012.
Reagindo à nomeação de Gay, Simmons, agora presidente da universidade historicamente negra Prairie View A&M University (depois de sair da aposentadoria), disse: “Ao selecionar Claudine Gay como próxima presidente, os conselhos administrativos de Harvard demonstraram o compromisso de garantir que a universidade continue não apenas como a mais proeminente do mundo, mas também como a que lidera com relevância crescente para o mundo de hoje.”
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