Quem perguntar a Artur Lescher se ele se considera escultor, ouvirá que ele se define como um construtor que aceita ser inserido na categoria de escultor, pois os projetos que realiza tratam, de modo geral, de questões pertinentes à escultura apesar de se distanciaram da raiz do verbo esculpir. Desde o final dos anos 80, a obra tridimensional deste paulistano se destaca por sua contribuição significativa ao legado da abstração através de uma narrativa motivada pela tensão entre o vazio e a matéria construída. Nas palavras do curador e também poeta Luis Pérez-Oramas: “A arte de Lescher implica, sempre, a prática do lugar como campo de movimento e equilíbrio, tensão e equilíbrio: um Tango Orbital”.
A verticalidade na escultura e o fenômeno da gravidade fazem parte de sua linguagem desde os anos 90, quando iniciou a aclamada série de pêndulos, alguns deles expostos em Nova York. O imaginário de Lescher tem peculiar atração pelo espaço entre o céu e a terra onde flutuam elementos similares a corpos vibráteis, precisos, afiados, perfeitos. Quando criança suas lições de casa eram rotineiramente feitas em uma mesa voltada a uma parede onde ficava pendurado um mapa ilustrativo do sistema solar. Certamente a experiência diária de fantasiar corpos no infinito atiçou a imaginação do menino recriminado pelas professoras por sempre estar no mundo da lua. “Nunca quis ser artista, tinha medo, pois todos os meus ídolos tinham uma vida trágica e sofrida. Os poetas russos se matavam ou eram exilados na Sibéria ou morriam sem serem reconhecidos. Para mim ser artista não foi uma escolha, todas as tentativas que fiz em outras direções falharam. A bem da verdade, não tive escolha”, confessa em uma de suas entrevistas.
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Suas peças são meticulosamente construídas com linhas e metais que criam conexões e campos de atração que travam uma inter-relação que inclui também a própria arquitetura da sala de exibição, atuando como mais um corpo do sistema desenvolvido pelo artista. Outro elemento fundamental em sua obra é o material industrial que utiliza, atrelado a rigorosos processos industriais. Ele costuma dizer que os materiais, como o latão, por exemplo, são como personagens, possuem discurso próprio e o seu trabalho, à maneira de Michelangelo, é dar escuta e voz a eles. Cada projeto parte de um um desenho, repetido a exaustão, às vezes, por anos a fio até chegar à solução idealizada. Na fase seguinte os desenhos são traduzidos a uma linguagem técnica para que possam passar por máquinas industriais que exigem um projeto executivo detalhado e preciso. Terminada a usinagem mecânica vem a minuciosa finalização, similar a de um ourives.
No fundo, a obra de Lescher conversa com a tradição da arte construtiva, concreta e neoconcreta, que valoriza o trabalho e o engenho na fatura das peças pois crê firmemente que a ideia só se manifesta em uma matéria trabalhada e articulada à perfeição. “Vejo essa busca nos poetas e escritores que admiro, como Joyce. Esta prática é fundamental para a construção da minha poética”, pontua esse nome estelar da nossa arte contemporânea.
Para todos: Saravá, 2023!
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Com colaboração de Cynthia Garcia, historiadora de arte cynthigarciabr@gmail.com
Nara Roesler fundou a Galeria Nara Roesler em 1989. Com a sociedade de seus filhos Alexandre e Daniel, a galeria em São Paulo, uma das mais expressivas do mercado, ampliou a atuação inaugurando no Rio de Janeiro, em 2014, e no ano seguinte em Nova York.
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