Por mais que uma progressiva incursão de profissionais da área jurídica esteja acontecendo em postos de liderança de grandes corporações nos últimos cinco anos, pode-se dizer que ainda há espaço para que mais profissionais desta área (por convocação ou vocação) ocupem cargos de CEO. De acordo com pesquisa da Universidade de Chicago, em conjunto com a Universidade Estadual da Flórida e a Universidade Stony Brook, que examinou a formação educacional de 3.500 CEOs, menos de 10% vinham da área jurídica.
Mesmo que não seja recente (2017), a pesquisa aponta que os CEOs com experiência jurídica são eficazes no gerenciamento de riscos de litígios, definindo políticas empresariais mais avessas ao risco. Porém, demonstra que essas ações aumentam o valor apenas quando as empresas operam em um ambiente com alto risco de litígio ou altos requisitos de conformidade.
O caminho para chegar a uma posição tão cobiçada nunca é linear. Mas o fato é que as organizações, há algum tempo, estão vendo benefícios em contratar CEOs com formação jurídica. Segundo um estudo de coautoria do professor da Universidade de Toronto, Feng Chen, as empresas com CEOs de formação jurídica têm 74% menos probabilidade de serem atingidas por ações judiciais. Menos litígios significa economia para a empresa.
Porém, se por um lado os CEOs jurídicos apresentam facilidades em estabelecer processos que reduzem riscos e promovem o compliance, por outro existe um certo antagonismo, pois, como advogados, somos avessos exatamente ao risco. E CEOs estão sempre flertando com o risco para atingir metas empresariais de crescimento, dentro, claro, de parâmetros planejados.
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A capacidade de compreender a lei e gerir bem a reputação da empresa, portanto, por si só não basta para que um advogado ocupe o cargo de gestor. As empresas buscam também outras habilidades nos profissionais jurídicos, entre elas, a de entender as pessoas e saber como se comunicar. Essa habilidade é tão preponderante para quem tem pretensões a um cargo de CEO quanto o pensamento analítico-jurídico. Outra questão é que, como advogados, somos treinados para o embate. Mas, no mundo dos negócios, o jogo do ganha-ganha é condição necessária. Logo, desenvolver as habilidades de negociação é também essencial.
Não é de hoje que venho falando que é preciso transformar a mentalidade do profissional jurídico em empreendedora 3 em 1: visionária, administradora e técnica, além de combater o estereótipo de apego às palavras e aversão aos números. Não vejo para a advocacia outro caminho a percorrer dentro desse ambiente complexo e em constante mudança em que vivemos.
À imagem dos grandes juristas e toda sua formalidade, precisamos desafiar nossos limites e demonstrar outras habilidades para fugir da zona de conforto e do represamento da profissão. A formação e a experiência não podem se tornar uma âncora na carreira, mas um interruptor.
A jornada é contínua e vale lembrar: “o limite de sua compreensão atual não é o limite de suas possibilidades” (Guy Finley).
Nelson Wilians é CEO da Nelson Wilians Advogados.
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Artigo publicado na edição 101, de setembro de 2022.
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