Escritórios mais diversos, uma nova forma de colaboração entre pessoas e tecnologia, flexibilidade para trabalhar e viver bem ao mesmo tempo e a tão desejada semana de quatro dias. Listamos algumas das principais tendências que devem influenciar nosso jeito de trabalhar no ano que começa em breve.
1. Carreira não é mais linear
O antigo conceito de linearidade na carreira mudou com a aceleração digital. Com essa ideia, até a apresentação do currículo mudou – e os empregadores valorizam narrativas na apresentação, com experiências, propósito, sucessos e fracassos. “A gente está muito mais interessado em pessoas criativas, inovadoras e resolutivas do que naquela linearidade que a gente já estava acostumado”, diz o consultor e professor da FGV (Faculdade Getulio Vargas) Fabricio Stocker. Experiências fora do trabalho que podem ajudar em demandas profissionais, como voluntariado, por exemplo, também são bem-vindas no currículo do profissional do futuro.
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2. Tecnologia vai precisar de habilidades humanas – e nova mentalidade
Há evidências de que as tecnologias podem ser usadas para aumentar a força de trabalho em vez de substituí-la. Estamos vendo que as máquinas exigem habilidades humanas em áreas como resolução de problemas, comunicação, escuta, interpretação e projetos. À medida que elas assumem tarefas repetitivas e o trabalho das pessoas torna-se menos rotineiro, os papéis poderiam ser redefinidos de maneiras que combinem tecnologia com habilidades humanas. Para que tudo isso aconteça com sucesso, porém, vamos precisar mudar a maneira como concebemos o trabalho e desenvolver treinamentos para assumir essas novas funções. Caso contrário, podemos nos sentir sobrecarregados tentando aplicar conceitos e habilidades herdados no novo e rapidamente mutante mundo da inteligência artificial.
3. Apesar das demissões, vai faltar gente para empresas crescerem
Vimos as recentes demissões em massa das grandes empresas de tecnologia, mas tendências apontam para uma escassez de mão de obra, especialmente em ramos que requerem habilidades específicas. Um estudo de 2022 da consultoria Deloitte apontou que este será um dos principais desafios das organizações no futuro próximo. Sem formação de mão-de-obra qualificada, não haverá crescimento.
4. Benefícios serão chave na atração de talentos
Benefícios serão a chave para atrair talentos – e o trabalho flexível, seja em termos de lugar ou de horas, está no topo deles, indicam pesquisas. Os funcionários também tendem a valorizar cuidados com a saúde, seja física ou mental. Levantamento do LinkedIn mostrou que os candidatos valorizam, em ordem de preferência: remuneração e ótimos benefícios; apoio da empresa para equilibrar vida pessoal e trabalho; arranjos flexíveis de trabalho, seja onde ou quando se trabalha; oportunidades de aprendizado e desenvolvimento.
Uma pesquisa do Google indicou que, para 36% dos profissionais, uma proposta de emprego tem mais chances de ser aceita caso o regime de trabalho da empresa tenha a ver com sua escolha. Manter a qualidade de vida, ou o equilíbrio entre vida e trabalho, é o fator mais importante para 51% dos entrevistados na escolha por um novo emprego. O plano de carreira vem em segundo lugar, com 49% das indicações, e o pacote de remuneração e benefícios está em terceiro, com 38%.
5. Escritórios multigeracionais já são realidade
Os locais de trabalho em 2023 serão mais diversos do que nunca em termos de idade. Levantamento da consultoria Ernst & Young feito com a plataforma Maturi, mostrou que o grupo com mais de 50 anos já representa 26% da população. A previsão é que, até 2040, 57% da força de trabalho no país tenha mais de 45 anos. Pela primeira vez, temos quatro gerações ao mesmo tempo no mercado de trabalho e esse quadro se estabelece com o envelhecimento da população.
6. Uma geração de profissionais que não quer subir na carreira
Segundo as pesquisas do professor da Berkeley, Gorick Ng, autor do best-seller “The Unspoken Rules”, menos de 2% da geração Z, nascida entre 1997 e 2002, tem a ambição de subir na pirâmide corporativa. “Talvez porque a ideia de ficar 20 anos em uma empresa possa parecer um compromisso muito grande, talvez porque o ambiente corporativo não seja mais tão legal”, diz. Não é simplesmente que rejeitem a liderança. Esses jovens querem funções menos técnicas, mais criativas e com propósito, de acordo com um relatório da plataforma Glassdoor.
7. Flexibilidade traz felicidade, engajamento e reduz turnover
Um relatório recente do Google sobre o futuro do trabalho mostra que o híbrido é a chave para atrair talentos. E um novo estudo da Tracking Happiness, com 12.455 funcionários, descobriu que a capacidade de trabalhar remotamente está fortemente ligada à felicidade no trabalho. Os trabalhadores que trabalhavam em casa 100% do tempo eram, em média, 20% mais felizes do que aqueles que não podiam ficar em home office. “Para acomodar tudo isso, as empresas terão que promover a flexibilidade, o que significa preparar os gestores e estabelecer relações de confiança entre liderança e funcionários”, diz a pesquisadora da FIA e especialista em flexibilidade, Sylvia Hartmann.
Trabalhadores com flexibilidade total de horário estão relatando produtividade 29% maior e capacidade de concentração 53% maior do que aqueles sem capacidade de mudar seu horário, indicou uma pesquisa do Future Forum, iniciativa do Slack.
8. Cresce o debate em torno do monitoramento de funcionários
O avanço das tecnologias traz novas maneiras de monitoramento das atividades dos funcionários. O mercado de software de rastreamento de funcionários apresenta rápido crescimento, mas há muitas restrições e questões morais nesse debate. Segundo o relatório do Linkedin, em 2023 os empregadores vão começar a perceber que a vigilância só está tornando as coisas piores. Trabalhadores sob monitoramento são “substancialmente mais suscetíveis a fazer pausas não autorizadas, desobedecer instruções, danificar ou roubar equipamentos do trabalho e diminuir o ritmo propositadamente”, afirmam achados publicados na Harvard Business Review por um time de pesquisadores.
9. Semana de 4 dias ganha força pelo mundo
Estamos vendo o fortalecimento da semana de trabalho de quatro dias em diversos países. Testes ocorreram na Inglaterra, Bélgica, Suécia e Islândia. E 2023 terá projetos começando nos EUA, Escócia, Irlanda, Canadá e Nova Zelândia. Reduzir o número total de horas trabalhadas pode trazer benefícios para a saúde mental e física, além de não prejudicar a produtividade, mostram estudos. “Os resultados são realmente impressionantes”, diz Juliet Schor, professora da Universidade de Boston envolvida em uma das pesquisas, a qual avaliou 33 empresas nos Estados Unidos e na Irlanda, além de uma com sede na Austrália.
10. Experiência do metaverso chegou para ficar
O metaverso pode não ter sido o que pensávamos, mas influenciou os ambientes de trabalho colaborativos cada vez mais imersivos. Meta, Microsoft e Zoom são algumas das empresas desenvolvendo plataformas e recursos de trabalho colaborativo. Ainda não se sabe se estamos prontos para começar a usar headsets de realidade virtual para trabalhar de forma colaborativa e participar de reuniões e treinamentos virtuais mais imersivos. Mas aspectos da experiência do metaverso – como avatares e ambientes multifuncionais – provavelmente terão um papel cada vez mais proeminente daqui em diante.
11. Espaços de trabalho com cara de lazer
Com o avanço dos modelos de trabalho híbrido e remoto, as empresas passam a reduzir seus espaços de escritório. Eles se tornam ambientes cada vez mais focados em colaboração e engajamento dos funcionários, com o hot desking, por exemplo, em que não há um assento fixo, e com mesas e cadeiras que se movem facilmente pelo escritório. O pet day também entra nessa conta, instituído por empresas como Nestlé onde, na verdade, todo dia pode ser pet day. Algumas empresas estabeleceram até mesmo a licença-pet.
Grandes empresas como Google, Nubank, Mercado Livre, iFood, Amazon e TOTVS também estão criando espaços instagramáveis, com decoração temática, área de jogos e academia – também para atrair os funcionários para o escritório. Companhias menores passam a optar por serviços de coworking para reunir seus times algumas vezes por mês, em vez de manter um prédio que fica vazio a maior parte do tempo.
12. Recrutamento mais justo
Empregadores estão repensando como encontram e desenvolvem potenciais funcionários. Algumas empresas começam a retirar pré-requisitos como formações específicas e conhecimentos de inglês do job description para ter mais opções e diversidade nos times. Agora, elas estão adotando meios alternativos para testar e treinar talentos. A motivação para contratar, em muitos casos, é muito mais sobre justiça e inclusão – um desejo de abrir novas portas para indivíduos de grupos marginalizados prosperarem e competirem para cargos muito desejados. Como Euan Blair, fundador e CEO da startup de educação Multiverse, disse: “Tudo o que um diploma universitário garante é que essa pessoa tinha a capacidade de pagar pela faculdade.”
13. Transparência salarial ganha espaço
Já valendo em 17 estados dos Estados Unidos, leis de transparência salarial obrigam que empresas divulguem as faixas salariais para suas vagas abertas e permitem que trabalhadores falem sobre seus salários sem qualquer retaliação de seus empregadores.
No Brasil, um projeto de lei tramita na Câmara dos Deputados sobre o assunto e, por isso, deve ganhar espaço por aqui também. O PL 1.149/22 obriga organizações a divulgarem a faixa salarial e os requisitos para as vagas que abrirem. O objetivo do projeto é dar mais segurança ao trabalhador de que a vaga para a qual ele se candidata está de acordo com suas expectativas, especialmente na questão do valor do retorno financeiro. Se não cumprirem com essas determinações, as empresas poderão ter que pagar multas de até 5 salários mínimos.
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14. Líderes de RH são fortes candidatos ao C-Level
Cargos em recursos humanos estão sendo cada vez menos vistos como posições administrativas, principalmente pela maior demanda por pessoas com experiência em recrutamento nos conselhos e pela ampliação do cargo com funções nas áreas de estratégia e sustentabilidade. Ser diretor de recursos humanos está se tornado um caminho mais comum para chegar ao cargo de CEO e assumir mais responsabilidades na empresa. Executivos com experiência em ESG também estão sendo cotados para o topo das empresas.
15. As expectativas de carreira estão mudando
Sim, precisamos ganhar dinheiro com nosso trabalho, mas o desejo de ter uma vida com sentido é algo que não sairá das cabeças das pessoas – especialmente das mais jovens. Segundo o estudo americano Career Interest Survey 2022, as prioridades da Geração Z no trabalho são o tratamento justo de todos os funcionários, qualidade de vida e flexibilidade, além de responsabilidade social corporativa.
16. Gig Economy reforça cultura da flexibilidade
A era da “gig economy” contempla formas alternativas de trabalho, como prestação de serviços e projetos pontuais, freelancers e trabalhos mediados por plataformas que conectam profissionais e usuários. Gregg Spratto, presidente e diretor de transformações da distribuidora norte-americana Magnit, disse que muitos trabalhadores altamente qualificados estão escolhendo se unir à força de trabalho contingente – que escolhe firmar contratos temporários. Nesse cenário, o ciclo de vida das pessoas nas empresas está cada vez menor.
17. Foco nas soft skills
As habilidades emocionais, ou soft skills, passam a ser mais relevantes nesse cenário de mudanças. Algumas das soft skills mais solicitadas pelo mercado hoje:
Inteligência emocional
Foco na solução de problemas;
Decisões assertivas e éticas;
Cuidado com viés de julgamento;
Habilidades de comunicação;
Autogestão;
Colaboração;
Esclarecimentos sobre valores.
18. Funcionários esperam CEOs mais politizados
A inteligência emocional se torna mais importante à medida que aumentam as demandas para que os CEOs se envolvam em assuntos mais polêmicas, ligados às questões sociais e ambientais, por exemplo. “A expectativa sobre o posicionamento dos CEOs – e sobre quando se posicionar e quando se calar – é enorme. Sempre foi sobre quem a pessoa é. Agora é quem a pessoa é ao quadrado”, diz Jane Stevenson, vice-presidente da consultoria de gestão Korn Ferry que lidera a prática global de sucessão de CEOs. Um estudo indicou que, quando consideram uma vaga de emprego, 60% dos empregados querem CEOs que falem sobre assuntos controversos com os quais eles se importam e 80% de todos os entrevistados querem que os CEOs apareçam para discutir políticas públicas e para mostrar o trabalho que sua empresa tem feito para beneficiar a sociedade.
19. Comunidades se formam dentro das empresas
Estimular o engajamento dos trabalhadores em grupos de afinidade é cada vez mais essencial, tendo em vista a dificuldade para reter talentos. Uma estratégia sendo utilizada pelos empregadores para reter seus funcionários é estimular o trabalho em equipes pequenas, em grupos com rituais próprios de uma comunidade – o que também favorece a produtividade. Além disso, deve ser de iniciativa dos líderes corporativos criar identificações dos funcionários com seus empregos e, assim, gerar engajamento. “As pessoas buscam empresas que possam se identificar, se sentir parte e se desenvolver”, afirma Emiliano Agazzoni, CEO da Community Management School.
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