Se depender da história da humanidade, quem nasceu primeiro foi o ovo, não a galinha. De acordo com a Teoria da Evolução de Darwin, os dinossauros, que eram ovíparos, deram origem às aves e, com o tempo e as inúmeras mutações das espécies, surgiu um ovo com o DNA de uma nova espécie, originária dos galináceos que conhecemos hoje. Algumas versões, inclusive, argumentam que, na busca de animais mais dóceis e com mais carne, os homens do período Neolítico perceberam o potencial alimentício dos ovos e os roubavam dos ninhos das aves.
Que o ovo é um dos alimentos mais antigos e versáteis da história já sabemos. A galinha doméstica surgiu a partir de uma seleção artificial inconsciente de humanos pré-históricos, que buscavam animais mais dóceis e com mais carne, por volta de 7500 a.C., ao sul da China, Tailândia e Mianmar. Há indícios de que ele começou a ser utilizado na alimentação em torno de 3200 a.C., época mais ou menos simultânea à domesticação da galinha. Aos poucos, tornou-se ingrediente de destaque em grandes banquetes das civilizações mesopotâmicas. Os fenícios eram grandes apreciadores de ovos de avestruz, enquanto os egípcios consumiam os mais diversos tipos de ovos: de pata, gansa, codorna e até mesmo de pelicano. Existem receitas egípcias, datadas de 2 mil a.C., que registram o uso de ovos em receitas de panificação.
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Também há vestígios do consumo de ovos de avestruz entre os persas, os gregos e os romanos, que gostavam de ovo de pavão. Muitos dos preparos com ovos feitos até hoje surgiram na Roma Antiga, como as omeletes, o ovo pochê, o ovo cozido e o uso dos ovos em receitas de bolos, a exemplo do Libum, feito com farinha, ovos de pavão, ricota, louro e mel.
Existem diversas curiosidades sobre o simbolismo do ovo, inclusive o fato de ter servido de inspiração para a criação de joias, como as do joalheiro russo Carl Fabergé. Para o catolicismo, ele representa o renascimento e a vida, celebrados durante a Páscoa.
Ovo de Colombo
Segundo historiadores, Cristóvão Colombo, que foi responsável por ter levado os primeiros galináceos ao Novo Mundo em 1493, mostrou que era possível equilibrar um ovo em pé. Ele usou o artifício de esmagar uma das extremidades de um ovo durante um jantar com nobres espanhóis para mostrar que nada é difícil. Basta refletir a respeito.
Já o arquiteto e ourives florentino Filippo Brunelleschi usou um truque semelhante ao disputar a construção da cúpula da Catedral de Florença, de forma que ela mantivesse o próprio equilíbrio, sem necessitar de apoio interno, mesmo tendo uma base de circunferência inferior à da parte central.
Para os hindus, o ovo é a representação simbólica da criação do mundo: por meio de um ser preexistente, Svayambhu, produziu as águas pelo poder do pensamento e depositou uma semente na forma de um ovo de ouro que continha o espírito de Brahma, a divindade suprema do hinduísmo. Essa semente foi dividida em duas partes, formando o céu e a terra. Nesse mito, aparece o nascimento do Sol, que se levanta sobre as águas e, com os seus raios, sopra vida com os seus raios a todos os seres e a todas as coisas.
Carla Bolla é restauratrice do La Tambouille, em São Paulo.
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Artigo publicado na edição 100 da revista Forbes, em setembro de 2022.
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