As exportações brasileiras de algodão podem alcançar 2,2 milhões de toneladas na safra 2022/23, alta de 22% ante o ciclo anterior, disse hoje (05) a associação nacional de produtores Abrapa, apesar de uma lentidão nas vendas antecipadas da pluma causada pelo alto nível de custos e queda de preços.
Se confirmado, o volume de exportação ficará mais perto do recorde de 2,3 milhões de toneladas registrado na temporada de 2019/20, lembrou o presidente da entidade, Júlio Cezar Busato, quando o Brasil havia produzido 3 milhões de toneladas da pluma.
No ciclo atual, cuja primeira safra já está sendo plantada, a expectativa é que a produção fique em 2,95 milhões de toneladas, alta de 18% comparada a 2021/22.
Segundo Busato, a previsão de exportações considera um consumo interno de 700 mil toneladas.
“Estamos vendendo grande parte da produção com bons prêmios de exportação”, disse ele, creditando este desempenho à credibilidade que o produto brasileiro conseguiu enquanto fornecedor global.
As vendas antecipadas, no entanto, estão em torno de 50% da produção esperada, atrasadas em relação a anos anteriores, quando teriam atingido 70% nesta época da safra.
“Devíamos estar em 70% na comercialização e estamos apenas com 50% em função dessa queda no preço… O produtor parou de vender diante do nosso custo”, afirmou o executivo.
A expectativa é que quando o algodão superar o patamar de 90 centavos de dólar por libra-peso na bolsa de Nova York, o produtor voltará a fechar negócios. Nesta segunda-feira, o algodão foi negociado em torno de 85 centavos.
Para Busato, o setor conta com um problema nesta temporada, que é a combinação entre altas despesas, causadas principalmente pelos preços dos fertilizantes e dos combustíveis, e queda das cotações da pluma pressionada pelo consumo internacional.
A entidade calcula que os custos de produção aumentaram 27% no comparativo anual e estão cerca de duas vezes mais altos, em relação à temporada de 2020/21. Já os fertilizantes saltaram 57%, contra o ano passado.
“Este ano vamos ganhar muito pouco ou nada… (mas) quando voltar o consumo, nós vamos ganhar mercado por termos mantido a área plantada”, disse Busato, citando previsões de redução no plantio de um dos maiores concorrentes do Brasil, os Estados Unidos.
O Brasil é o segundo exportado global da pluma, atrás dos EUA.
Caso os norte-americanos, de fato, diminuam a área de algodão para apostar em soja e milho, o presidente da Abrapa acredita que será possível avançar na competitividade da pluma brasileira.
Busato esclareceu à Reuters durante evento em São Paulo que a recuperação no consumo externo da indústria têxtil depende da intensidade de uma eventual recessão econômica nos Estados Unidos e países europeus.
Sobre a Ásia, ele avaliou que a situação de parada nas indústrias em função da pandemia, em especial na China, é “uma situação momentânea”.
“Em algum momento o mercado (a demanda) vai voltar e quando voltar, os preços estarão melhores e a produção mais restrita, com essa redução da produção norte-americana. É aí que vamos ter mais espaço no mercado externo”, disse ele.
Na lavoura
O presidente da Abrapa destacou que a atual falta de chuvas presente em Mato Grosso –maior Estado produtor da pluma– ainda não atinge as lavouras de algodão, pois a maior parte dos agricultores faz este cultivo na segunda safra.
“Plantam em janeiro, então ainda dá tempo da chuva voltar neste mês e conseguirmos fazer o plantio em uma boa janela”, disse ele.
Para os demais Estados em que a pluma já está sendo semeada, como a Bahia que tem papel importante na produção nacional, Busatoa afirmou que está chovendo bem.
Com base nessa perspectiva, ele acredita que há espaço para ganhos de produtividade, que devem permitir uma safra 18% maior do que a do ano passado.
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