O Brasil é um país muito criticado, especialmente em relação à preservação do meio ambiente. Erroneamente há uma culpabilização do nosso país pelo desmatamento, mas será que isso é verdade?
Para dar início a essa conversa, é importante entender a dinâmica do Estado brasileiro em relação à atribuição de terras. Atualmente temos muita terra atribuída no Brasil, são 18% do território nacional em unidades de conservação e 14% atribuídos a terras indígenas. Isso tudo está fora da área de produção e é considerado pela ONU (Organização das Nações Unidas) como terras protegidas. São 260 milhões de hectares destinados à proteção.
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Para se ter uma ideia, enquanto o Brasil possui aproximadamente 30% de terras protegidas, a Austrália tem 19%, a China tem 17%, os Estados Unidos 13%, a Rússia e o Canadá têm 10% e a Argentina tem 9%. Eu peguei todos esses países que são grandes em território para a gente poder comparar maçãs com maçãs. Outro ponto importante dessa discussão é o que exatamente o Brasil reserva em terras protegidas.
Enquanto os Estados Unidos protege o deserto de Sonora, o deserto de Mojave; a China protege o deserto da Mongólia; e a Argélia o deserto do Ténéré, o Brasil protege áreas com real potencial produtivo. Além dos 30% de terras protegidas, o Brasil destina 10% também para a reforma agrária e os quilombolas. São mais de 90 milhões de hectares para essa finalidade, ou uma vez e meia a área de produção de grãos brasileira. Isso totaliza 40% do território brasileiro em terras atribuídas.
Já quando falamos em ocupação desse território, também há preservação. Dos imóveis rurais brasileiros, preservam-se 218 milhões de hectares de florestas, ou 50% do total das áreas dos imóveis rurais. Isso é o equivalente a 26% do território brasileiro. Deu para entender? O produtor é o responsável direto pela preservação de 26% do território brasileiro. E preservar custa.
Em primeiro lugar, porque mesmo sendo área de floresta, ele precisa recolher impostos territoriais sobre essa área. Precisa cercar, porque caso alguém invada e cace um animal silvestre, a culpa e a multa serão dele. Se alguém colocar fogo ou extrair madeira ilegalmente, idem. Então, tem que fazer vigilância e o aceiro, para prevenir incêndios, que também podem espalhar para a propriedade e inviabilizar a produção. E isso seria um prejuízo sem tamanho ou recuperação para esse produtor.
O valor patrimonial estimado do imobilizado pelo produtor para a preservação é de quase R$ 4 trilhões. E o custo anual disso chega a R$ 26 bilhões. Quem mais no Brasil preserva 50% do seu imóvel e ainda arca com esse custo sozinho? Ninguém mais faz isso. Nem no Brasil ou em outro lugar do mundo.
Somando áreas atribuídas, as terras devolutas e as áreas privadas destinadas à preservação, nós temos 66% do território brasileiro destinado à áreas protegidas. Isso equivale a mais de 15 países da Europa com folga. Ainda sobram algumas Noruegas.
Sobram quase 4% de áreas para cidades e infraestrutura e os outros 30% ficam de fato com a produção brasileira de alimentos. Da área de produção que sobra, temos 8% para pastos nativos, como o que enxergamos no Pantanal, 13% de pastos plantados, 7,8% de lavouras e 1,2% de florestas plantadas. Só para se ter uma ideia, nos Estados Unidos, 20% das áreas são de conservação e 75% são para uso agropecuário. O que resta é cidade e infraestrutura.
Todos esses dados que eu citei estão disponíveis no site da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), Ministério do Meio Ambiente, IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), Funai (Fundação Nacional do Índio), Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) e também são corroborados por pesquisa parcial da Nasa (Administração Nacional da Aeronáutica e Espaço dos EUA). Então acho uma missão fundamental esclarecermos para a sociedade e para o mundo que fizemos um trabalho excepcionalmente melhor do que qualquer outro país na preservação de suas matas e florestas. É mais bonito do que ficar recitando informações falsas como um papagaio, sem conhecimento de causa.
Lygia Pimentel é médica veterinária, economista e consultora para o mercado de commodities. Atualmente é CEO da AgriFatto. Desde 2007 atua no setor do agronegócio ocupando cargos como analista de mercado na Scot Consultoria, gerente de operação de commodities na XP Investimentos e chefe de análise de mercado de gado de corte na INTL FCStone.
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