É o fim para o bilionário dono da FTX, Sam Bankman-Fried?

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Virgile Simon Bertrand/Forbes

Sam Bankman-Fried

Quando o CEO da FTX, Sam Bankman-Fried, resgatou uma série de empresas de criptomoedas em dificuldades no início deste ano, o bilionário de 30 anos foi saudado como uma versão moderna do banqueiro John Pierpont Morgan, fundador do JP Morgan. Ele se apresentou como o escudo que protegeria as criptomoedas, mesmo que isso o prejudicasse financeiramente. “Estamos dispostos a fazer um acordo um pouco ruim aqui, se isso for necessário para estabilizar as coisas e proteger os clientes”, ele disse à Forbes. E afirmou que haveria mais dor vindo. “Existem algumas exchanges de terceiro nível que já estão secretamente insolventes.”

Ironicamente, agora é Bankman-Fried quem está sendo socorrido. Ele anunciou na terça-feira (8) que a FTX, que levantou quase US$ 2 bilhões desde 2019 e tinha um valor de mercado estimado em US$ 32 bilhões em janeiro, estava tentando vender o controle para a Binance, o primeiro investidor de Bankman-Fried. No entanto, ontem (9) a Binance avisou que estava desistindo do negócio.

Isso quase certamente eliminará a maior parte do patrimônio líquido de Bankman-Fried, que a Forbes estimou ter chegado a um máximo de US$ 26,5 bilhões, com base principalmente no valor da FTX. Seu objetivo original era garantir que o negócio fosse fechado, apesar de Changpeng Zhao, CEO da Binance, ter dito no anúncio do acordo que poderia desistir quando quisesse. Foi o que ocorreu.

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Existem muitos problemas em potencial, pois o FTX é um labirinto complexo. Tem franquias em todo o mundo. Mais recentemente, comprou a Bithumb, a Liquid e a BitVo, com sede na Coreia do Sul, no Japão e no Canadá, respectivamente, por valores não revelados. A exchange também gastou cerca de US$ 750 milhões para resgatar os credores em dificuldades Voyager e BlockFi. Além disso, as duas partes precisarão se entender em termos financeiros, uma tarefa nada fácil, já que grande parte do valor da FTX está vinculada ao seu token em queda, FTT.

Esta é uma reviravolta chocante para o que parecia ser uma das empresas mais seguras do setor de criptomoedas. Esse problema vai levar tempo para ser digerido. E depois o público vai especular sobre o que vem a seguir para o ex-prodígio.

Ganha cá, dá lá

Olhando para o futuro, é justo questionar se Bankman-Fried permanecerá em criptomoedas a longo prazo. Em um perfil publicado pela Forbes em outubro de 2021, ele deixou claro que nunca foi um verdadeiro crente das moedas digitais, mas as via como uma maneira fácil de fazer uma enorme fortuna. Ele segue a linha do altruísmo eficaz, uma versão da filantropia dos super ricos ao estilo do Vale do Silício. A filosofia é defendida pelo filósofo de Princeton Peter Singer e favorecida por pessoas como o cofundador do Facebook Dustin Moskovitz.

Enquanto muitos doadores podem adorar causas com significado pessoal, um altruísta eficaz analisa os dados para decidir onde e quando doar, baseando a decisão em objetivos impessoais, como salvar mais vidas ou gerar mais renda para cada dólar doado. O altruísmo eficaz também força os adeptos a escolher papéis específicos; Bankman-Fried escolheu o campo de ganhar para dar, o que significa que ele se dedicaria a ganhar o máximo de dinheiro possível antes de entregá-lo a outros para decidir para onde deveria ir.

Essa mentalidade foi o que o envolveu no mercado de criptomoedas em 2017. Naquela época, ele percebeu que poderia comprar bitcoins nos EUA e vendê-los no Japão por até 30% a mais. “Eu me envolvi com criptomoedas sem ter ideia do que era criptomoeda”, diz ele. “Parecia que havia muitas boas negociações para fazer.” No auge, sua operação movimentava US$ 25 milhões em bitcoins por dia. Ele já declarou sem hesitar que deixará o setor se encontrar uma maneira melhor de ganhar dinheiro. “Posso entrar no mercado futuro de suco de laranja sem problemas”, diz ele.

Essa perspectiva o coloca inteiramente no outro extremo do espectro quando comparado à maioria dos royalties de criptomoedas. Ele não teria interesse em escrever a base de código original do bitcoin ao lado do criador, que se esconde sob o pseudônimo Satoshi Nakamoto. Ele também não teria seguido os passos do ex-CEO da Kraken, Jesse Powell, de voar para o Japão em um último esforço para salvar a bolsa de Mt. A FTX não foi configurada como uma plataforma de criptografia fácil de usar como a Coinbase de Brian Armstrong.

A FTX

A FTX começou como uma bolsa profissional voltada para investidores institucionais especializados em derivativos de criptomoedas, como contratos futuros e de opções, que permitiam aos traders apostar em preços de ativos sem exposição direta ao mercado à vista. Essa configuração pode ser extremamente eficiente, pois não precisa haver entrega física de ativos quando um contrato expira, como um navio-tanque de petróleo bruto que pode ser enviado ao redor do mundo para uma refinaria. Por esse motivo, o volume de derivativos de criptomoedas explodiu e exchanges como a FTX ganharam muito dinheiro. Bankman-Fried afirmou durante o verão que a FTX havia sido lucrativa nos últimos 10 trimestres e tinha mais de US$ 1 bilhão para gastar.

Os derivativos podem desempenhar um papel importante nos mercados de capitais, pois podem ajudar a suavizar as discrepâncias de preços entre as bolsas que oferecem ativos semelhantes. Em linguagem simples, isso significa que os derivativos podem ajudar a garantir que um bitcoin na Ásia custe quase exatamente o mesmo na América do Norte. Mas os derivativos criptográficos, que podem ser negociados usando alavancagem (onde os traders fazem empréstimos para aumentar o tamanho de suas apostas), também podem levar a liquidações maciças quando os mercados mudam.

Em um ponto, a FTX ofereceu alavancagem de até 100 vezes. Quando perguntado por que, Bankman-Fried respondeu: “Nossos usuários queriam e muitos ameaçaram não usar a plataforma a menos que oferecéssemos”.

Devido a várias liquidações e protestos públicos, a FTX reduziu a quantidade de alavancagem que um usuário poderia assumir. “Não quero tentar alegar que foi importante para mercados eficientes, porque não acho que seja. Qualquer posição que você esteja assumindo com esse nível de alavancagem não pode ser absolutamente crucial para mercados eficientes, e isso não é algo que eu achei ser particularmente importante ou bom para a saúde do mercado de criptomoedas.”

Tradução: Isso foi bom para os negócios, que se dane a saúde do mercado, até que não foi mais.

O futuro de Bankman-Fried

Apesar da derrota do mercado – o token FTX que provocou a comoção perdeu cerca de 74% de seu valor nos últimos dois dias – Bankman-Fried ainda pode ser um bilionário. Ele segue sendo o CEO da FTX.US, a afiliada consideravelmente menor da FTX. Também é possível que reguladores e agentes da lei analisem suas transações com a FTX, o que poderia tornar algumas dessas questões discutíveis.

No momento, ninguém está alegando que houve fraude, mas a criptomoeda tem sido um saco de pancadas para as autoridades durante o melhor dos tempos. Quando colapsos desse tamanho ocorrerem, pode-se ter certeza de que os governos vão começar a investigar.

Ainda na tarde da quarta-feira, o principal republicano do Comitê de Serviços Financeiros da Câmara, Patrick McHenry, da Carolina do Norte, emitiu um comunicado lamentando o colapso e ansioso para “aprender mais com a FTX e a Binance nos próximos dias sobre esses eventos e as medidas que tomarão para proteger clientes durante a transição.”

Bankman-Fried também pode tentar sacar o que sobrou e entregá-lo a organizações filantrópicas que compartilham seus ideais.

Mas isso pode não acontecer, pois houve várias vezes durante o auge da FTX em que ele poderia ter doado dinheiro e optou por não fazê-lo, apostando que poderia aumentar sua fortuna ainda mais. Ironicamente, ele gastou US$ 2,3 bilhões em julho de 2021 para comprar a participação da Binance em sua exchange. Se ele não tivesse feito isso, talvez ele estivesse mais rico hoje e a guerra de palavras entre Binance e FTX que levou à queda de Bankman-Fried não teria acontecido.

É perfeitamente possível que Bankman-Fried permaneça na criptomoeda e tente reconstruir, mas, ao contrário dos verdadeiros crentes, isso não é um dado adquirido. “Existe um mundo vasto lá fora”, disse ele à Forbes em setembro de 2021. “Não devemos pensar que a criptomoeda será o terreno mais fértil para trabalhar para sempre.”

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