A gaúcha Bento Gonçalves, na região da serra, é a capital do vinho do Brasil. Não por acaso, a “Escola de Viticultura e Enologia”, a primeira do país, nasceu no município há exatos 63 anos, no dia 22 de outubro de 1959. A escola é uma visita obrigatória na agenda de estudiosos e amantes do vinho, hoje como parte do IFRS (Instituto Federal do Rio Grande do Sul).
Sua história pode ser apreciada e contada na enoteca e na sala para degustação. Mas não é somente isso: a escola já formou 1.360 técnicos especializados em vinhos, os enólogos, que ganharam um dia para serem lembrados: justamente hoje, como uma homenagem à instituição que se tornou o coração da enologia e do vinho produzido no Brasil.
“O enólogo tem uma função central e também mais transversal na produção”, diz a enóloga Monica Rossetti. “Porque ele conecta o plano empresarial com as potencialidades de produção de cada microclima e a escolha dos métodos de gestão para o posicionamento correto dos vinhos em termos de qualidade e originalidade.”
Monica é cria da escola de Bento Gonçalves. Começou a estudar a ciência em 1998 e hoje, aos 39 anos, é a diretora da Rossetti Enologia, empresa fundada em 2001 que já prestou consultoria para 42 vindimas no Brasil e na Itália. “O sucesso no empreendimento será proporcional à competência empregada em dimensionar as escolhas técnicas adequadas para cada terroir, pensadas do solo à taça”, afirma.
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São os enólogos que auxiliam os produtores rurais a tomarem as melhores decisões para o solo de um vinhedo, o momento correto para a colheita das uvas e outras etapas da produção. As principais atividades realizadas por esse profissional dos vinhedos são o monitoramento da análise de solo e clima para a tomada de decisão sobre o melhor tipo de uva para produção e testes em etapas como fermentação, envelhecimento e conservação da bebida na adega. Isso engloba a necessidade de conhecimentos em temas como bioquímica, botânica e climatologia. “Estas características são fundamentais para o bom desenvolvimento de projetos enológicos em países com crescimento de produção, como o Brasil”, explica Monica.
O Brasil ocupa a 21ª posição entre os maiores produtores de vinho do mundo, com produção de 360 milhões de litros da bebida em cerca de 80,6 mil hectares, segundo a OIV (Organização Internacional da Vinha e do Vinho).
Embora ainda não esteja entre os top 10 globais, a área de cultivo de uvas no país cresceu cerca de 20 mil hectares e pode aumentar ainda mais, impulsionada pela criação de novas vinícolas na região central do Brasil, como Goiás e Distrito Federal.
Inaugurada no ano passado a 60 quilômetros de Brasília (DF), a Vinícola Brasília já possui a capacidade de produzir 300 mil litros por ano e é fruto de pesquisas da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) para fortalecer a produção de vinhos no Brasil além do Rio Grande do Sul, hoje responsável por cerca de 90% da produção de vinhos do país.
O crescimento no campo está diretamente ligado ao interesse do brasileiro pela bebida. Entre 2010 e 2020, mais de 17 milhões de pessoas começaram a consumir vinho, elevando essa população de degustadores a 39 milhões de pessoas, de acordo com a consultoria brasileira Winext.
O cenário de crescimento tem atraído enólogos de outros países da América Latina a adotarem o Brasil. Como o uruguaio Alejandro Cardozo, eleito Enólogo do Ano em 2021 pela ABE (Associação Brasileira de Enologia). “Os vinhos brasileiros têm um espaço inimaginável para crescer”, afirma Cardozo. “Acho que temos uma diversidade de vinhedos e regiões espetaculares.”
O enólogo, que é consultor para 20 vinícolas e é sócio proprietário da EBV (Empresa Brasileira de Vinificações), criada em 2017, diz que o profissional especializado será uma peça vital na criação de novos produtos em diferentes regiões do país. “É recomendado que cada vinhedo tenha um profissional que acompanhe e apoie ao produtor. O clima e a diversidade [de biomas] fazem com que um aporte técnico sempre seja importante para que o produtor consiga o melhor resultado da fruta.”
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