A crise dos fertilizantes, intensificada a partir da invasão da Ucrânia pela Rússia, expôs, mais uma vez, a dependência externa do Brasil para ter o insumo à mão. O país importa cerca de 85% dos fertilizantes que utiliza. No ano passado, 39,2 milhões de toneladas vieram de fora. O atual aperto não foi o primeiro que os produtores rurais atravessaram, pode não ser o último, mas há tecnologias no radar. O hidrogênio verde está na linha de frente. Sua molécula pode ser usada como matéria-prima para a produção dos insumos agrícolas, os fertilizantes nitrogenados.
Mas, no agronegócio, o hidrogênio verde não é visto apenas como uma saída para os fertilizantes. Seu uso vai além, como o transporte, por exemplo. “O que foi para o mundo a energia nuclear nos últimos 100 anos, é o mesmo que se verá para o hidrogênio verde”, diz Alberto Iván Zakidalski, fundador e sócio do Grupo Aiz, que desenvolve implementos agrícolas e rodoviários, manipuladores, guindastes, máquinas anfíbias, customização de máquinas e operações remotas não tripuladas.
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Para ele, em uma década, o hidrogênio verde já vai poder ser comparado ao diesel. A chinesa Higer Bus, que anunciou a produção de ônibus elétrico no Ceará, afirmou, também, que há intenção de investir em caminhões a hidrogênio. “O grafeno poderia ser o futuro da energia elétrica, mas depende de diamante. Ou seja, é caro para achar e caro para produzir”, diz Zakidalski. “O nióbio é mais escasso que o lítio, hoje o material dos carros elétricos. Então resta o hidrogênio, que vai ser o caminho. O Brasil tem 3,5 milhões de caminhões em circulação, com estimativa de 40% transportando produtos do agronegócio. Para o futuro, mesmo se houver uma diminuição por conta de ferrovias e hidrovias, os caminhões não tendem a perder o protagonismo no setor. O que deve acontecer é a diminuição das distâncias percorridas por viagem.
Mas o que é o hidrogênio verde?
A denominação hidrogênio verde ocorre quando a eletricidade usada na eletrólise da água vem de fontes de energia renováveis como eólica, fotovoltaica e hidrelétrica. De acordo com o superintendente executivo da Associação Brasileira do Hidrogênio (ABH2), Gabriel Lassery, o hidrogênio verde (ou renovável) pode também ser obtido por hidroeletricidade e biomassa de rejeito. “Dada a potência agrícola que é o país, há muita disponibilidade de biomassa de rejeito para produção de hidrogênio”, afirmou à Agência Brasil nesta semana. O Brasil também tem locais onde é possível encontrar hidrogênio natural esperando para ser extraído.”
Mas ele lembra também, que o Brasil já utiliza o hidrogênio no refino do petróleo e na produção de fertilizantes, atualmente por meio da extração de combustíveis fósseis, ou seja, fontes não renováveis. É essa realidade que o hidrogênio verde deve mudar. As pesquisas de hidrogênio verde a partir do etanol estão avançadas, segundo estudos da Universidade de São Paulo.
“O Brasil tem imenso potencial para produção de hidrogênio renovável. Em diversas partes do território, seu potencial para produção de energia solar e eólica está entre os maiores do mundo e, frequentemente, são anunciados novos projetos e memorandos de entendimento para produção de energia eólica e solar, tanto offshore [eólicas instaladas no mar] quanto onshore [no continente] com o objetivo de produção de hidrogênio”, afirma Lassery.
Em setembro, a Unigel, segunda maior petroquímica do país, informou que está investindo US$ 120 milhões para começar a produzir 10 mil toneladas de hidrogênio verde por ano, em Camaçari (BA), a partir do ano que vem. Para ser transportada, esse volume será transformado em 60 mil toneladas de amônia verde, destinado aos fertilizantes ou combustível para navegação. A partir de 2025, a meta são 40 mil toneladas de hidrogênio verde, que serão convertidos em 240 mil toneladas de amônia verde.
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