Diane Hendricks teve um filho aos 17 anos, foi coelhinha da Playboy, venceu o câncer duas vezes e sobreviveu à trágica morte de seu marido antes de se tornar a maior empresária dos Estados Unidos. E ela triplicou seus lucros em mais de US$ 12 bilhões (R$ 62 bilhões) nos últimos cinco anos.
A empreendedora está quase pronta para uma entrevista em vídeo quando corre para o seu closet. Ela volta com um pequeno broche de bandeira dos Estados Unidos preso na lapela de seu blazer. “Eu amo este país. Eu sou abençoada por ter nascido na América,” diz. “Nunca tive uma porta que não se abrisse para mim. Nunca pensei que como mulher não poderia fazer o que faço.”
Seu patriotismo está exposto em sua casa de 880 metros quadrados no sul de Wisconsin, no centro-oeste dos EUA. Em seu escritório, há uma estatueta do ex-presidente republicano Ronald Reagan a cavalo e uma foto dela com Donald Trump perto de uma pilha de livros.
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Sonho americano
Hendricks acredita no sonho americano porque viveu isso. Ela foi uma mãe adolescente que trabalhou como garçonete para pagar suas contas, cofundou a ABC Supply com seu marido, Ken, em 1982 e transformou a empresa na maior distribuidora atacadista de telhados, revestimentos e janelas dos EUA.
Depois que Ken morreu, em 2007, ao cair de um telhado, Hendricks continuou a rápida expansão do negócio comprando rivais e mais do que dobrando o número de lojas – para 900. A receita atingiu um recorde de US$ 15 bilhões (R$ 78 bilhões) em 2021. “Vamos fazer cerca de US$ 18 bilhões (R$ 93 bilhões) este ano em vendas”, diz. “Não é mais uma empresa pequena. É cinco vezes o que era quando Ken estava vivo.”
Hendricks, que detém 100% da ABC, além de uma empresa de desenvolvimento imobiliário e uma holding com participações em 18 negócios, agora tem um patrimônio de US$ 12,2 bilhões (R$ 63,7 bilhões). Isso é o triplo do que ela tinha apenas cinco anos atrás e mais do que qualquer outra mulher empreendedora na história dos EUA. A título de comparação, a segunda empresária mais rica do país, Judy Faulkner, pioneira em registros médicos eletrônicos (e que também mora em Wisconsin), vale “apenas” US$ 6,7 bilhões (R$ 34,9 bilhões).
“As coisas que ela fez, não tenho certeza se Ken poderia ter feito”, diz Rob Gerbitz, CEO da imobiliária Hendricks Commercial Properties, que recentemente pagou US$ 42 milhões (R$ 219 milhões) por um hotel em Santa Barbara, na Califórnia, e construiu um estádio de beisebol de US$ 40 milhões (R$ 208 milhões) na cidade de Beloit.
Trajetória de Diane Hendricks, a maior empreendedora dos EUA
Aos 75 anos, Hendricks está vivendo o sucesso. Ela quer influenciar tudo, desde a política e a criação de empregos até pesquisas de câncer e a reforma das escolas públicas.
Hendricks acha que um dos maiores problemas que as empresas enfrentam hoje é que muitas pessoas não gostam dos seus empregos. “Antes, um emprego era um presente. Você ficava orgulhoso.”
Ela leva esse sentimento a sério. “Estou muito velha e ainda vou trabalhar porque ainda consigo pensar. Sinto que alimento meu propósito”, diz Hendricks, que acorda às 5 da manhã todos os dias e sai de casa às 7.
Essa ética de trabalho nasceu na fazenda leiteira de sua família na cidade rural de Osseo, no Wisconsin, que tem uma população de apenas 1.800 pessoas. A quarta de nove meninas, Hendricks não tinha permissão para ordenhar vacas ou andar de trator (isso era “trabalho de homem”, segundo seu pai), mas tinha muitas outras tarefas, incluindo cuidar de suas irmãs mais novas. Aos 10 anos, Hendricks sabia que queria mais do que uma vida agrícola. “Não quero ser agricultora e não quero me casar com um fazendeiro”, ela pensou. O que ela queria era usar um terno azul e trabalhar na cidade – Minneapolis, a metrópole mais próxima de sua casa.
Esses planos foram frustrados quando, em 1964, ela engravidou aos 17 anos e foi forçada a abandonar a escola. Ela se casou com o pai da criança e se mudou para Janesville, a quase 320 quilômetros de distância. O casal se divorciou três anos depois, e, como mãe recém-solteira, ela conseguiu um emprego como coelhinha da Playboy. “Você tem que fazer o que tem que fazer.”
Logo ela estava vendendo imóveis por todo o sul de Wisconsin e também começou a vender casas personalizadas. Foi assim que, aos 22 anos, ela conheceu um empreiteiro de telhados chamado Ken Hendricks. Eles se casaram em 1976 e compraram 200 casas antigas em três anos, consertaram os imóveis e começaram a alugá-los para estudantes universitários. “Eu limpei muitos banheiros.”
Em 1982, eles fizeram um empréstimo bancário de US$ 900 mil (R$ 4,6 milhões) para comprar duas lojas de material de construção. A ideia era comprar diretamente dos fabricantes e depois vender para empreiteiros e construtores de projetos, como Ken. O segredo estava em fornecer atendimento ao cliente diferenciado em uma indústria não muito amigável. Em cinco anos, a ABC tinha 50 lojas e aproximadamente US$ 140 milhões (R$ 731 milhões) em vendas.
A empresa atingiu US$ 1 bilhão (R$ 5,2 bilhões) em 1998, mesmo ano em que os Hendricks recrutaram David Luck, um executivo da Bridgestone de Chicago, para se tornar presidente da ABC. Com Luck no comando, o casal procurou agregar novos projetos. “Eles tinham uma paixão por consertar empresas falidas, então eles compraram muitas”, diz Konya Hendricks-Schuh, uma dos sete filhos do casal (incluindo quatro enteados).
Oportunidades em meio ao caos
Mas Ken morreu em 21 de dezembro de 2007, e, depois disso, muitas pessoas acharam que Hendricks sairia do negócio. Um concorrente se ofereceu para comprar a empresa. “Eles pensaram que, sendo uma mulher, eu venderia”, diz. Em vez disso, ela pediu a Luck para se tornar CEO e se nomeou presidente. Foi um momento difícil, e não apenas porque ela havia perdido o marido com quem era casada há 40 anos. As vendas caíram 7% entre 2006 e 2009, com o colapso do mercado imobiliário. E a ABC fechou lojas pela primeira vez.
Em meio à turbulência, porém, Hendricks sentiu cheiro de oportunidade. Aproveitando os preços mais baixos, ela orquestrou a maior aquisição da ABC, comprando a rival Bradco de US$ 1,6 bilhão (R$ 8,3 bilhões) em 2010. Seis anos depois, ela pagou US$ 674 milhões (R$ 3,5 bilhões) pela distribuidora de materiais de construção L&W Supply, com sede em Chicago. Para pagar o primeiro acordo, ela cedeu 40% de sua participação na ABC para um financiador, com a condição de poder comprar a parte de volta em cinco anos. E ela fez isso em menos de quatro. “Senti que havia arriscado a empresa que queria que meus filhos administrassem. Não é uma empresa que estará à venda.”
O legado de Diane Hendricks
Nos anos seguintes, Hendricks garantiu que seu legado se estendesse para muito além de um negócio de telhados. Desde a morte de Ken, ela gastou US$ 85 milhões (R$ 443 milhões) para reformar o novo Ironworks Campus de Beloit, anteriormente uma fábrica de ferro, um complexo que abriga a YMCA local, a Câmara de Comércio de Beloit e 46 pequenas empresas, empregando 1.800 pessoas.
Hendricks já passou por muita coisa. Duas vezes sobrevivente de câncer – ela teve câncer uterino aos 33 anos e câncer de mama aos 69 –, ela é presidente da NorthStar Medical Radioisotopes, que usa medicina nuclear para detectar e tratar certas formas de câncer e doenças cardíacas. Ela já investiu US$ 550 milhões (R$ 2,8 bilhões) na empresa, que tem apenas US$ 10 milhões (R$ 52 milhões) em vendas.
Enquanto isso, depois de ver menos de 20% dos adolescentes de Beloit alcançarem uma pontuação “proficiente” nos testes de leitura do estado de Wisconsin, ela ajudou a financiar uma escola na cidade. Ela também está expandindo sua rede de hotéis boutique, saindo de Beloit para Indiana, Idaho e Califórnia.
O único verdadeiro obstáculo é o tempo. “Essa é a parte mais frustrante de envelhecer. Ainda há muito, muito a fazer.”
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