Uma pesquisa nacional contratada pela Havaianas fez um raio-X da população LGBTQIA+ no ambiente de trabalho e mostrou que 34% das pessoas que fazem parte da comunidade e são economicamente ativas percebem que às vezes, raramente ou nunca têm acesso às mesmas oportunidades de crescimento que seus colegas de trabalho. Além disso, 19% apontam que há alguma diferenciação no tratamento e 16% vivenciam comentários negativos devido à sua orientação sexual no trabalho.
No total, 9,3% dos entrevistados afirmaram que se incluem no grupo LGBTQIA+, 81% dizem não fazer parte dele e 8% não quiseram se identificar. Foram entrevistadas 3674 pessoas, todas maiores de 16 anos. O levantamento foi feito com o instituto de pesquisas Datafolha e a All Out, Ong global que dá apoio jurídico à comunidade. O dado se torna mais importante pois, segundo pesquisa anterior, divulgada pelo PNS (Programa Nacional de Saúde), essa comunidade representa apenas 1,5% da população brasileira.
Parte expressiva (40%) do grupo que se identifica como LGBTQIA+ afirma que se sente rejeitada no mercado de trabalho. Devido à falta de inclusão, 58% dizem que tiveram que se adaptar ao mercado informal.
Os números explicam porque 30% desses profissionais não falam publicamente sobre sua orientação sexual ou identidade de gênero no trabalho. O assunto é mais frequente entre as pessoas com idade entre 25 e 44 anos, os mais escolarizados e entrevistados com maior classe econômica. Entre os mais velhos (45 a 59 anos), essa abertura é menos comum.
A discriminação pode começar na entrevista de emprego, mostrou a pesquisa, antes mesmo de o profissional ser recrutado e assumir a sua função na empresa. Ana Andrade, da Ong All Out, observa que dentro da comunidade LGBTQIA+, os profissionais que têm mais oportunidades são os que mais se aproximam do padrão da sociedade. “Pessoas trans são muito mais excluídas e pessoas pretas e de outras origens marginalizadas na sociedade acabam ficando para trás.”
Os dados indicam um grande espaço para que empresas abordem o tema em suas agendas, o que, segundo ela, ainda não é uma prática geral do mercado. A comunidade LGBTQIA+ no Brasil tem ao menos 15,5 milhões de pessoas, e esse número tende a aumentar nas regiões metropolitanas, entre os mais jovens e quanto maior a sua escolaridade.
Empresas começam a trabalhar o tema com vagas afirmativas, treinamentos corporativos e trabalho com consultorias para que funcionários abracem todo tipo de diversidade. Mas mais importante do que contratar, diz Andrade, é garantir um espaço acolhedor para garantir a permanência desses profissionais no mercado. “Principalmente quando a gente fala de pessoas que foram excluídas das suas carreiras, seja estudantil ou profissional, é importante pensar como podemos ajudar na formação delas.”
Programa de empregabilidade
O grupo Alpargatas, que engloba a Havaianas, tem um programa de empregabilidade para pessoas trans que inclui uma trilha de aprendizagem para desenvolvimento, competências básicas, socioemocionais e educação digital. A primeira edição foi realizada entre novembro de 2021 e 2022, em Campina Grande (PB), e teve 40 vagas.
Ao final do projeto, 34 pessoas se formaram e 25 pessoas foram contratadas em uma das fábricas. A segunda edição, em andamento, tem 20 vagas para Campina Grande e 40 vagas em Santa Rita (PB). “Fazemos o acompanhamento das pessoas que ingressaram e atuamos próximo às lideranças das fábricas para gerar conscientização”, diz Zezé de Martini, diretora de sustentabilidade da Alpargatas.
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