Geração Z vai para o campo comandar fazendas

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André Rotta tem 21 anos e já está responde por parte da gestão da fazenda

Millennials não, geração Z ou centennial, os nascidos entre 1995 e 2010 em um mundo hiperconectado, os chamados nativos digitais, também estão no campo e são eles que começam a tomar decisões na gestão das fazendas, algo que até pouquíssimo tempo atrás estava exclusivamente nas mãos dos mais velhos. É o caso de André Rotta, de 21 anos, um dos herdeiros do Grupo Rotta, de Sapezal, município mato-grossense a 500 quilômetros de Cuiabá, onde está um dos maiores PIBs agrícolas do país, com sua economia fortemente baseada em algodão, soja, milho e pecuária.

De um ano para cá, André assumiu a gerência de duas áreas da comercialização. Ele começou com a compra de parte dos insumos para a fazenda e vai assumir agora a venda das safras. “Muitas famílias vão enfrentar essa mudança de geração, e é preciso passar segurança para empresa”, diz ele.

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O Grupo Rotta produz soja para semente em 12 mil hectares, mas já fez em 14.000. Na safra encerrada foram produzidas 150 mil sacas de 40 quilos de sementes, e nas próximas a meta é ir para 250 mil sacas. Nas últimas safras, o grupo também tem intensificado a área de algodão, com previsão de cultivar 1.400 hectares no ciclo 2022/23. Além disso, há um confinamento com capacidade estática para 5.000 mil bovinos, que em dois giros de engorda saem quase 10.000 animais prontos para o abate.

André é a quarta geração de gaúchos que foram para o centro-oeste do país “fazer a vida”, com o pai Arilson e o avô Wilson Francisco Rotta, de 64 anos, além do tio Alisson. A família ainda conta com o bisavô, de 92 anos. Chegaram a Sapezal, município de 25 mil habitantes, e começaram a plantar antes de André Maggi, o fundador da cidade e da Amaggi, um dos maiores grupos agrícolas do país. “Nós compramos as terras do Maggi, mas ele ainda não plantava na região quando meu avô começou”, diz André Rotta.

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Família Rotta está na quarta geração em Mato Grosso, desde que saiu do Rio Grande do Sul

André divide com mais dois primos o atual momento de ter nas mãos uma maior relevância nos negócios do grupo. Ele afirma que o plano é se tornar uma empresa que não tenha o foco de agricultura familiar “e sim transcender e se consolidar de maneira empresarial para não depender tanto da família e a administração se tornar um processo natural”. André pensa na perpetuidade do trabalho feito até aqui pelas gerações passadas. “Numa família pode haver problemas e isso leva uma empresa a se desmanchar de modo muito fácil. Uma empresa mais corporativa fica protegida e nesse processo é que a gente está caminhando”, afirma.

Não por acaso, André é estudante do curso de gestão financeira. Mas escolheu o modo online para estudar e continuar na fazenda. Ele é fruto das modificações irreversíveis provocadas pela pandemia de Covid-19, pelo menos no seu caso. “A pandemia me forçou a essa mudança quando saí de Cuiabá e voltei para Sapezal”, diz. No início de 2019, André estava no terceiro semestre do curso de engenharia agronômica. “Não progredia no modo online, decidi sair da agronomia e mudei de curso, para gestão comercial. Quando o curso voltou a ser presencial, em Cuiabá, tranquei de novo”.

Ele conta que não queria mais se afastar da fazenda, mas não se arrepende da trajetória porque o tempo de gestão comercial lhe trouxe ensinamentos na área de serviços. “A ideia de estudar e ficar na lida é exatamente o que prefiro, mesmo o atual curso de dois anos sendo para tecnólogo”, diz André, que já colocou na agenda a aposta de uma pós graduação em comércio exterior. Suas escolhas vão ao encontro do que mostra um estudo da Nielsen, onde 89% dos representantes da geração Z disseram que podem optar por não ir à faculdade e enxergam um caminho menos convencional na educação como uma boa ideia.

Angústias e apegos de uma geração

Mas as angústias de uma geração estão pelo caminho. “Não vejo tantos jovens participando dessa maneira que eu estou trabalhando. Então, eu me sinto às vezes deslocado ou às vezes feliz por estar saindo um pouco na frente”, diz André. Ele conta que só consegue conversar sobre negócios com pessoas mais velhas. “É difícil ter contato com pessoas da minha idade, com esse tipo de vivência, mesmo sendo Sapezal uma cidade com ambiente totalmente do agro.” Ele acredita que uma saída seria a criação de grupos de troca de ideias, algo que ainda não é certeza que possa fluir. “Parece que tem uma certa resistência ainda ao realmente muito novo”, afirma.

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Silos e lavoura ao fundo no Grupo Rotta, em Sapezal (MT)

A conquista do espaço de trabalho no grupo veio pelos acertos de mudanças na gestão, propostas por André, que, claro, divide as honras com os dois primos na administração, sendo um deles “com muito talento para as questões ambientais”. Quando André voltou à Sapezal, ele conta que havia problemas nos processos administrativos, comerciais e de gestão. Foram as conversas em família que pavimentaram as tomadas de decisões mais acertadas e André dava sugestões que se mostraram adequadas para o momento.

“Quais são os critérios para se fazer se eles não existiam?”, pergunta ele. “Consegui fazer coisas que me deram segurança, com o auxílio de pessoas mais velhas do escritório. Foi bom, porque resolvemos problemas de uma maneira perto do que poderia ser excelente.”

O Grupo Rotta vende a maior parte de sua produção para traders e um pouco diretamente no mercado interno. “Nós não tínhamos uma estrutura de progressão no travamentos dos preços. Era feito mais impulsivamente e assim a gente não ficava blindado”, afirma André, que acredita em acertos pontuais em sucessão, dando firmeza e fluidez nos negócios.

De braços dados com o digital

Para acertar, André, com o consentimento da família, foi em busca de profissionais experientes. Hoje, a Solinftec faz parte das soluções que são encontradas para os desafios da fazenda. A empresa é uma das maiores em soluções digitais no país, com 11 milhões de hectares geridos em tempo real e com um banco de 3,7 trilhões de dados coletados por ano.

O engenheiro agrônomo Bruno Pavão, gerente comercial de grãos e fibra da Solinftec, é o responsável pelo time que acompanha o André e que monitora as operações do grupo. “O André foi o responsável por levar toda a parte de tecnologia Solinftec para dentro do Grupo Rotta”, diz Pavão. “Eles são fortes em cotonicultura, e são referência na região. Conseguimos mostrar muito retorno na parte operacional, como a redução de combustível; com toda a gestão do tempo de paradas das equipes e também na parte de gestão dos “fardos de algodão” com o CDA (certificado digital para o algodão) que rodamos na última safra colhida.”

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Cultivo de algodão vem se mostrando um caminho acertado para o grupo

O grupo foi pioneiro no desenvolvimento da aplicação desta solução junto à Solinftec, que tem como regra desenvolver todas as soluções junto com o cliente. “A tecnologia faz parte da gestão do André. Ele quer ter cada vez mais informações da produção nas mãos e os processos estão cada vez mais rápidos e integrados”, afirma Pavão. “Ele está focando muito em qualidade operacional e obtendo informações, por exemplo, sobre custos desnecessários.”

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