O que acontece quando o Fed sobe a taxa de juros em 1 ponto percentual

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BRENDAN SMIALOWSKI/POOL VIA ASSOCIATED PRESS

Jerome Powell, presidente do Federal Reserve

O mercado acionário norte-americano segue sem uma direção definida. A divulgação de um índice de inflação ao consumidor nos Estados Unidos acima do esperado na terça-feira (13) provocou a pior queda das ações em único dia desde junho de 2020.

Enquanto a inflação permanece teimosamente alta, os investidores estão cada vez mais preocupados com o fato de o Federal Reserve (banco central norte-americano) mergulhar a economia em uma recessão, à medida que continua a aumentar agressivamente as taxas de juros no país.

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O índice de preços ao consumidor subiu 8,3% em agosto em relação a um ano atrás, acima da expectativa, que era de 8,1%. Embora esse número ainda esteja abaixo dos 8,5% em julho e dos 9,1% em junho, o núcleo da inflação, que exclui os preços voláteis de alimentos e energia, permaneceu elevado. O chamado “core index” aumentou 0,6% em agosto, o dobro dos 0,3% de junho e também o dobro do que os economistas previam.

Com isso, mais e mais analistas passaram a incluir em seus cenários a hipótese de um aumento mais agressivo. A maioria dos especialistas de Wall Street ainda prevê que o Fed aumentará as taxas de juros em 0,75 ponto percentual em sua reunião de política monetária na próxima semana.

Todos descartaram a hipótese de uma alta de apenas 0,50 ponto percentual. Em vez disso, os investidores estão precificando uma chance de 20% de que o Fed aumente as taxas em 1 ponto percentual acima do esperado, de acordo com o CME Group.

Economistas da Nomura Securities, inclusive, mudaram sua previsão para a próxima reunião do Fed, que termina na próxima quarta-feira (21), e agora esperam que o banco central aumente as taxas em 1 ponto percentual – seguido por aumentos de 0,50 ponto percentual em cada uma das reuniões em novembro e dezembro. “O IPC (Índice de Preços ao Consumidor) de agosto sugere que uma série de riscos de inflação pode estar se materializando”, escreveu o banco de investimentos em relatório.

Se o Fed aumentar as taxas em 1 ponto percentual na próxima semana, “as pessoas ficariam realmente preocupadas, porque isso implicaria que o Fed não tem confiança em seu próprio cronograma e poderia acabar apertando dramaticamente a política monetária e, com isso, colocar a economia em uma recessão”, prevê Sam Stovall, estrategista-chefe de investimentos da CFRA Research.

A última vez que o banco central elevou as taxas em 1 ponto percentual foi há mais de quatro décadas, quando Paul Volcker era o presidente. O Federal Reserve elevou as taxas esse tanto sete vezes, entre novembro de 1978 e maio de 1981 (depois que Volcker assumiu o comando).

A inflação ficou em 9% em novembro de 1978 antes de atingir um pico de 14,6% em março de 1980, enquanto o núcleo da inflação estava em 8,5% – atingindo um pico de 13,6% em junho de 1980.

Os mercados caíram quase 60% das vezes, com o S&P 500 perdendo uma média de 2,4% um mês após uma alta de 1 ponto percentual, de acordo com dados do CFRA. Enquanto as ações ainda estavam em queda três meses após um aumento da taxa dessa magnitude (queda de 1,3% em média), os mercados acabaram se estabilizando na marca de seis meses, com o índice subindo uma média de 0,1% naquele momento.

Volcker foi responsável por seis dos sete aumentos históricos da taxa de 1 ponto percentual – o primeiro ocorreu sob seu antecessor, G. William Miller.

Com um forte foco em reduzir a inflação por qualquer meio necessário, Volcker imediatamente elevou as taxas quatro vezes em 1980 a esse patamar, logo após assumir o cargo. Curiosamente, o S&P 500 ganhou 25% naquele ano, embora os grandes aumentos de juros do Fed eventualmente alcançassem a economia, mergulhando-a em uma recessão de 1981 a 1982.

Antes de Volcker, na década de 1970, o então presidente do Fed, Arthur Burns, demorava a responder ao aumento da inflação, ‘ziguezagueando’ entre aumentar e diminuir as taxas de juros. “O problema é que isso nunca resolveu a inflação”, diz Stovall, acrescentando que “o Fed não planeja cometer os mesmos erros dos anos 1970”.

Apesar de algumas semelhanças com o grande período inflacionário de 40 anos atrás, a economia parece mais forte desta vez, graças a um mercado de trabalho sólido e gastos constantes do consumidor. Resta saber se o Fed pode realizar um pouso suave ou se seu aperto monetário agressivo acabará por colocar a economia em uma recessão, semelhante à do início dos anos 1980, durante o mandato de Volcker.

Os últimos dados econômicos da manhã de quinta-feira (15) mostraram que o quadro continua muito confuso, com as vendas no varejo abaixo das expectativas, pedidos semanais de seguro-desemprego caindo e a pesquisa de manufatura do Fed da Filadélfia ficando negativa.

A economia ainda está se mantendo estável por enquanto – especialmente graças a um mercado de trabalho forte, que deve moderar as expectativas de um aumento maior que 1 ponto percentual na próxima semana, dizem os especialistas.

“O ritmo dos aumentos das taxas no restante de 2022 e para 2023 dependerá da rapidez da economia”, diz Bill Adams, economista-chefe da Comerica Bank, que prevê um aumento de 75 pontos-base na próxima semana.

“O aumento de 1 ponto percentual colocaria o mercado em um loop. Haveria muita pressão sobre as ações”, diz Stovall. “Os mercados deram ao Fed um passe para aumentar em 0,75 ponto percentual – e ninguém dirá que isso foi algo rápido.”

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