Hoje (13), a XP Investimentos, corretora de valores com sede em São Paulo, divulgou o estudo “Agri, Food & Beverages – Meatpackers”, que avalia o setor dos frigoríficos e aponta suas previsões para as principais empresas deste mercado. JBS, BRF, Minerva e Marfrig são as companhias analisadas, que juntas tiveram receita líquida de R$ 147,9 bilhões no segundo trimestre deste ano. O documento foi coordenado pelos analistas Leonardo Alencar, Pedro Fonseca e Marcella Ungaretti.
“Apesar do setor estar cada vez menos homogêneo, temos uma visão positiva dos frigoríficos brasileiros, do ponto de vista dos fundamentos, embora por razões diferentes para cada player, mas também pelo lado da valorização”, afirma o estudo dos três analistas da XP. “Vemos os frigoríficos brasileiros com descontos excessivos, a maioria negociando [suas ações] abaixo dos múltiplos históricos, com exceção da BRF.”
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A corretora reafirma a JBS como sua escolha de ação favorita dentre as quatro grandes empresas do setor frigorífico. A escolha se dá pela empresa ser mais diversificada do que as outras, com estratégias “multiproteínas e multigeográficas”. No Brasil, a companhia trabalha com carne bovina, suína e avicultura, mas já possui negócios com peixes e carneiro na Austrália, além de estar em 20 países.
“Diante do referido processo de diversificação, não desconsideramos que a empresa passou por uma análise de reclassificação pelo mercado, o que poderia potencialmente aumentar seu múltiplo de negociação médio”, diz o documento.
Como a XP enxerga cada uma das quatro empresas
No levantamento sobre frigoríficos, a corretora avaliou individualmente cada uma das quatro empresas e indicou sua sugestão para a melhor forma de investir nela (curto, médio ou longo prazo). A XP indica as seguintes estratégias de investimento para quem se interessa por este setor produtivo:
JBS (investimento de longo prazo)
“Acreditamos que essa plataforma global, juntamente com um portfólio em expansão, deve fornecer uma resiliência rara de encontrar para um player de commodities em um negócio muito cíclico.”
BRF (investimento de médio prazo)
“Temos confiança de que a nova gestão será capaz de alavancar a melhora nos fundamentos e um melhor impulso para a avicultura. Embora a BRF continue sob muitas críticas, a empresa conseguiu construir um portfólio de alto valor agregado e uma das marcas de carnes mais conhecidas do mundo (Sadia), o que pode ajudar a acelerar o processo de recuperação de margens, embora este não seja o nosso cenário base.”
Marfrig (investimento de médio prazo)
“Concordamos que o caminho de uma M&A (fusão e aquisição) com a BRF não é claro, mas o que poderia ser visto como gula, enxergamos como visão. Vemos a empresa com desconto excessivo ao vermos ela negociando a 3,1 vezes sua EV/Ebitda [relação entre o valor da firma e seu lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização] no ano fiscal de 2023 contra sua média dos últimos oito anos de 4,5 vezes, enquanto vê o desbloqueio do valor intrínseco da BRF como um risco de alta.”
Minerva (investimento de curto prazo)
“Uma plataforma de exportação como nenhuma outra. Vemos a Minerva melhor posicionada dentro da cobertura de nossos frigoríficos para aproveitar a virada do ciclo do gado, que se traduzirá em margens maiores nos próximos anos, em nossa visão. Sua plataforma de exportação diversificada permite à Minerva arbitrar o mercado de exportação, embarcando da planta/país com maior acretividade de acordo com o momento.”
As expectativas para produção de carne bovina
Com exceção da BRF, que produz frangos primariamente, as empresas apontadas como bons investimentos pela XP são responsáveis por boa parte da produção de carne bovina no Brasil. É justamente por isso que o estudo dos frigoríficos também avalia o momento do setor da pecuária e faz previsões com base em dados de entidades como IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada) e Conab (Companhia Nacional de Abastecimento).
“Devido ao seu ciclo mais longo, as margens positivas ou negativas duram mais do que para as outras duas proteínas (frango e porco), então a perspectiva é de margens de um dígito nos EUA, enquanto a América do Sul deve seguir na direção oposta, e isso pode durar entre 2-4 anos”, aponta o documento. “Uma demanda melhor do que o esperado (ou seja, China) também pode prolongar o ciclo positivo no Brasil.”
A corretora aponta que, apesar do momento positivo, os investidores devem se lembrar que a carne bovina é a proteína mais sensível à mudanças na taxa de câmbio, especialmente considerando que a atual demanda da carne bovina brasileira é formada principalmente por exportações para a China. Segundo dados divulgados pela Secex (Secretaria de Comércio Exterior), os embarques da proteína para a China foram de 341,3 mil toneladas nos quatro primeiros meses deste ano, quase metade das 710,5 mil toneladas exportadas no total. Desta forma, a XP afirma estar “cautelosamente otimista”.
Quais as perspectivas da corretora para as importações chinesas
Em seu levantamento sobre as importações de carne bovina pela China, a XP faz um contraponto com o estudo divulgado pelo USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) no dia 7 de setembro, que derrubou as ações de frigoríficos no dia seguinte.
O órgão norte-americano afirma que a importação da proteína pelo país em 2023 deve cair 19% em comparação a este ano, um corte de aproximadamente 300 mil cabeças. A justificativa é que um fortalecimento nos estoques de gado dentre este ano e próximo deve impulsionar a produção de carne bovina na China.
A corretora de valores brasileira avalia a reação do mercado como “irracional” e justifica sua crítica ao mercado em três pontos:
“Já esperávamos menor demanda da China devido à recessão global, que se traduzirá em preços mais baixos.”
“Mesmo com uma desaceleração acima do esperado [da importação chinesa], o Brasil continuará sendo o principal fornecedor, por isso não prevemos grandes mudanças nas perspectivas.”
“Vemos a reação do mercado como um comportamento de manada desvinculado dos fundamentos, e as ações estão sendo negociadas com múltiplos abaixo da média histórica.”
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