Criar um processo de governança pode levar muito tempo e definir um caminho de formação para a próxima geração. Demanda muita energia e dedicação. Existe um recurso disponível em quase todas as famílias empresárias, e que pode ser muito bem aproveitado: mentores familiares.
Primeiro, é necessário entender o que seria uma mentoria, pois, hoje, existem muitos conceitos espalhados no mercado.
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O conceito que quero propor aqui é que mentoria é a transferência de um conhecimento, adquirido pela experiência vivida em uma determinada área, e que pode acontecer como influência, orientação ou até mesmo direcionado pela figura de um mentor.
Partindo deste conceito, o mentor seria uma pessoa com mais experiência e mais idade, que tem conhecimento e preparo para orientar pessoas menos experientes e, normalmente, mais jovens.
Muitas vezes, esse é um vínculo que pode acontecer de forma natural: um jovem buscar conselhos e orientações com membros da família empresária, que atuam no negócio familiar ou já atuaram em posições de direção.
Minha sugestão é aumentar as possibilidades de troca entre membros da família de maneira estruturada, e um pouco mais formal, afinal, vamos assumir que nem todos os jovens da família tenham o mesmo acesso aos seniores, ou tenham abertura e confiança para expor suas dúvidas e vulnerabilidades. É possível, por exemplo, aproveitar uma reunião de família para estabelecer uma conversa com a pauta mentoria.
Nessa conversa, os seniores podem dizer quais os temas que teriam prazer e disponibilidade de ensinar, compartilhar suas experiências e como construíram sua carreira. Já os jovens, membros da nova geração, podem dizer que conhecimento estão buscando, quais áreas de necessidade de desenvolvimento iriam se beneficiar de uma troca com pessoas mais experientes.
Algumas famílias possuem uma figura profissional, ou mesmo familiar, que faz esse papel de registrar tais informações e propõe algumas duplas pelos temas apresentados. Se sua família não tem uma pessoa estabelecida, pode ser um produto coletivo dessa conversa.
Acredito que um processo efetivo de mentoria deva ter algumas conversas. O que sugiro é que tenham trocas, por exemplo: um encontro para que o jovem apresente suas questões e possa ouvir como seu mentor atuaria neste tema; um encontro para que o jovem possa reportar e trocar como os conselhos e ensinamentos foram aplicados.
Em famílias grandes, com muitos membros, é possível fazer ciclos de mentoria, fazendo uma rotação dos pares, propondo trocas entre membros menos próximos, fazendo a mentoria reversa, isto é, um jovem ensinando algo aos seniores.
Para terminar, após realizar a mentoria de muitos grupos e estruturar diversas mentorias familiares, minha maior recomendação é a preparação prévia: ensinar e aprender requer preparo. Fazer uma pauta, listar suas perguntas, definir um tema e uma agenda possibilitam que o processo evolua de uma conversa para uma mentoria efetiva, com resultados mais significativos para todos.
Flávia Camanho é Conselheira, mentora e coach. Especialista em desenvolvimento humano e governança familiar, fundadora do Flux Institute e professora convidada do IBGC para programas de governança e Next G.
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Coluna publicada na edição 99, de agosto de 2022.
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