Os resultados dos bancos no segundo trimestre de 2022 mostraram uma perspectiva positiva para o setor neste ano. Segundo um levantamento do TradeMap, o lucro de 18 bancos no período de abril a junho somou R$ 29,37 bilhões e é equivalente a 80% do total dos lucros de 321 empresas não financeiras listadas na Bolsa de Valores brasileira.
Considerando o lucro das quatro maiores instituições financeiras do país (Bradesco, Banco do Brasil, Itaú e Santander), juntas, elas acumulam 90% do total dos 18 bancos listados em Bolsa: R$ 26,60 bilhões.
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Segundo a pesquisa da Febraban de Economia Bancária e Expectativas, as instituições financeiras elevaram suas projeções de alta na carteira de crédito em 2022 cinco vezes. A última revisão indicou uma expansão de 11,4% no acumulado do ano.
O levantamento mostra uma perspectiva de melhora tanto na carteira Pessoa Física (15,3%) quanto na de Pessoa Jurídica (13,0%) impulsionada pela elevação na taxa básica de juros (Selic).
Em janeiro deste ano, a taxa Selic estava em 9,25%. Desde então, o Banco Central (BC) promoveu cinco aumentos que somam 4,5 pontos percentuais nos juros e colocam a taxa em 13,75% ao ano.
Matheus Amaral, analista do Inter Research, destaca que os lucros surpreenderam no segundo trimestre e a perspectiva para as receitas nos próximos trimestres é positiva. Porém, os juros elevados não favorecem apenas as margens dos bancos.
O analista indica que a qualidade do crédito e a inadimplência são pontos de atenção na hora de investir, embora ainda não tenham dado sinais fortes de deterioração.
De olho na inadimplência
Em termos de qualidade de crédito, XP Investimento e Inter Research indicam que Itaú (ITUB4) e Banco do Brasil (BBAS3) foram os bancos que performaram melhor no segundo trimestre, enquanto Bradesco (BBDC4) e Santander (SANB11) começaram a apresentar sinais de alerta no quesito inadimplência.
Itaú e Banco do Brasil apresentaram taxas de inadimplência de 2,0% e 2,7%, respectivamente, enquanto Santander e Bradesco registraram 2,9% e 3,5%.
Em relatório, a XP afirma que os níveis das taxas permanecem saudáveis, mas o avanço tem sido gradual e, no caso do Bradesco, se aproxima dos níveis pré-pandemia.
“A inadimplência caiu muito durante a pandemia por causa da liquidez no mercado com o auxílio emergencial e das campanhas dos bancos de prorrogação de parcelas. O mercado esperava que os níveis voltassem a subir em 2021, mas até agora surpreenderam de forma muito positiva, porque a elevação tem sido gradual”, explica Amaral.
Para ele, esse é um item importante para acompanhar nos próximos trimestres, assim como o avanço dos indicadores de endividamento das famílias.
De acordo com a Pesquisa Nacional de Endividamento e Inadimplência do Consumidor, feita pela CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo), consumidores com contas ou dívidas atrasadas, os inadimplentes, chegou ao maior patamar em 12 anos: 29% em julho, ante 25,6% no mesmo período de 2021.
Já o segmento de pessoas jurídicas (PJ) está com um nível de inadimplência abaixo do normal nos bancos, segundo o analista, e segura a taxa consolidada geral.
Margens positivas ou negativas?
Outro indicador que a XP indica em relatório para os investidores ficarem de olho nessas empresas é a margem financeira dos bancos. Essa margem é obtida pela diferença entre receitas e despesas financeiras, principalmente relacionadas aos ganhos e pagamentos de juros em transações.
“As condições subótimas para as atividades no mercado de capitais (tanto para dívida quanto para ações) continuam pressionando a margem financeira”, diz o documento.
Santander e Bradesco reportaram desaceleração na margem entre o primeiro trimestre e o segundo, enquanto Itaú e Banco do Brasil avançaram. O Santander registrou uma margem financeira bruta de R$ 12,77 bilhões, queda de 8,3% frente ao 1T22. Já o Bradesco recuou 4,1% no mesmo período, para R$ 16,36 bilhões.
Por outro lado, Itaú divulgou uma margem de R$ 22,64 bilhões, alta de 7,6% frente ao primeiro trimestre, enquanto o BB avançou 11,2% no mesmo período, para R$ 17,05 bilhões.
Lucros e dividendos dos bancos
Para os próximos meses as perspectivas são favoráveis para os bancos. De acordo com a XP, “a combinação de resultados resilientes, com projeções mais agressivas de crescimento para 2022 e valuations atrativos” cria um cenário favorável para o setor.
Amaral acredita que as receitas devem melhorar impulsionadas por segmentos específicos, como o de seguros, devido à correção dos contratos para juros maiores, além da diminuição da sinistralidade graças ao arrefecimento da pandemia. Outro segmento promissor é a carteira de crédito para pessoas físicas, com avanço principalmente em cartões de crédito.
“O resultado financeiro melhora com os juros mais altos, e estamos vendo um momento de recuperação em seguros e fortes resultados. As receitas com cartão de crédito têm surpreendido positivamente com uma atividade maior em crédito devido à inflação”, diz o analista do Inter.
Com isso, é esperado reflexos positivos no pagamento de dividendos aos acionistas por esses bancos. Amaral destaca que o Banco do Brasil é o mais competitivo nesse sentido.
“O Banco do Brasil tem um dividend yield diferenciado pelo desconto que as ações possuem por ser um banco estatal. Ele acaba sofrendo em suas avaliações e os dividendos compensam esse fator. Os fortes resultados dos últimos trimestres reforçam essa visão”, diz Amaral.
A taxa de pagamento (payout) do Banco do Brasil é de 40% dos seus lucros. O dividend yield das ações BBAS3 chegou a 8,4% nos últimos 12 meses, correspondendo a um pagamento acumulado de R$ 3,50.
Amaral afirma que o Itaú está concentrando esforços no crescimento dos negócios e segurando os pagamentos de dividendos aos acionistas. “Atualmente, o banco está pagando o mínimo obrigatório estabelecido em seu estatuto, que é de 25%. Com esse foco em crescimento, não é esperado que [o pagamento] aumente no curto prazo”, diz o analista.
O dividend yield das ações ITUB3 e ITUB4 está na faixa dos 3% nos últimos 12 meses, o que corresponde a um pagamento acumulado de R$ 0,79.
O Santander tem uma meta agressiva de pagamento de dividendos, segundo Amaral, que já chegou a 70% dos lucros. Atualmente, a média do banco está na faixa de 55%. O dividend yield nos últimos 12 meses está em 8,96%, acumulado em R$ 2,59.
Por fim, Bradesco tem um histórico de payout de 35%. Nos últimos 12 meses, o dividend yield chegou a 3,63%, somando R$ 0,68 em pagamentos.
Para a XP Investimentos, Itaú e Banco do Brasil são top picks (classificação dos analistas para melhores escolhas) no setor de bancos brasileiros. Já o Inter Research possui recomendação de compra para o Banco do Brasil e recomendação neutra para o Itaú.
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O post BB, Bradesco, Itaú e Santander: até onde vai o lucro com os juros altos? apareceu primeiro em Forbes Brasil.