Preta Gil é mestre em celebrar. Conhecida pela animação e presença (dentro e fora do palco), a artista completa 20 anos de carreira com vontade de mostrar um lado até então pouco conhecido pelo grande público. Por essa razão, aproveitou o retorno dos shows presenciais para lançar em 2022 “Toda Preta”, um show mais calmo e intimista, que traz um repertório musical inédito ao vivo. Além disso, ela se prepara para lançar um álbum com composições próprias.
Sua trajetória profissional começou bem antes da sua estreia como artista profissional: seu primeiro emprego foi aos 16 anos, num camarote do Carnaval de Salvador, a convite de Zé Maurício Machline. Foi trabalhar com Nizan Guanaes, que ficou tão impressionado com o seu talento que a convidou para estagiar na antiga DM9, em São Paulo. Após 2 anos por lá, voltou para o Rio de Janeiro e começou a trabalhar com produção e publicidade, até que, aos 20 anos, se juntou à Monique Gardenberg para desenvolver uma divisão de filmes na Dueto Produções. “Ela [a Dueto] virou uma gigante na publicidade, aí enveredei muito para esse lado e acabei esquecendo minha parte artística”, explica.
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A retomada do rumo artístico se deu em 2003, quando Preta lançou seu primeiro álbum, “Prêt-à-Porter”. A capa mostrava a cantora nua, simbolizando o seu renascer, mas acabou dando o que falar para além do seu significado. “Me chamavam mais para entrevistas do que para cantar”, relembra, contando, por vezes, havia mais interessade em saber o que o pai dela achou dela ter posado nua na capa do disco, do que da música em si. “Eu costumo dizer que eu era a Preta no mundinho da Tropicália, achava que as pessoas eram que nem a minha família – o mundo não era assim.”
Se jogou como atriz e apresentadora de televisão, e criou o show “Noite Preta”, em 2007, que se tornou sucesso absoluto. “Acho que quando criei a “Noite Preta”, eu queria de fato que as pessoas me vissem cantando. Foi uma coisa corajosa, porque eu era famosa, mas o público não conhecia minha música”, relembra. “As pessoas começaram a ir no meu show pelo boca-a-boca e ele virou um reduto de inclusão e diversidade, coisas em que eu acredito muito”.
Em 2010, foi a vez do “Bloco da Preta”, que consolidou a imagem “dona da festa” da cantora, e a fez resgatar seu lado empresária. “Quando a carreira como cantora realmente tomou um corpo, comecei investir e assumir que as duas coisas podiam andar juntas.”, explica. Foi aí que começou a se dedicar às suas duas empresas, a Liga Entretenimento, de selos musicais, e a Music2Mynd, de agenciamento de artistas e influenciadores. Segundo Preta, “tudo isso em um momento mais maduro, em que eu não tinha que provar mais nada pra ninguém. A minha existência passa a ser sobre potencializar outras existências.”
A vida de Preta foi marcada por quebra de padrões, e as duas décadas de carreira vieram com mais uma mudança: hoje ela já não vê mais a necessidade de cantar músicas festivas, meramente pelo ato de cantar – o que ela batizou de “Síndrome do Tira o Pé do Chão”. “Quando você faz essa receita de bolo que as pessoas gostam, é muito difícil sair disso. Precisei desses 20 anos, com segurança e tranquilidade para resgatar meu repertório”, conta. Um dos grandes incentivadores da sua nova fase foi Francisco, seu único filho e pai da fofíssima Sol de Maria, de 6 anos. “Ele foi um grande incentivador. Aí comecei a ter um olhar mais carinhoso e afetivo ao meu repertório”
Junto com o show “Toda Preta”, a cantora vem produzindo um álbum inédito que vai trazer também seu potencial como compositora. “É um álbum que também tem uma coerência com os 20 anos [de carreira]. E tem mpb, da qual eu sempre fugi por conta do meu pai, indo sempre pra um lado mais pop”, explica. Preta, que sempre bateu de frente com estereótipos e quebrou padrões com sua presença inigualável, não vê hora melhor para dar esse novo passo na carreira. “Eu vivo um momento muito bonito de paz, tranquilidade, de ser quem eu sou. Hoje em dia, posso me defender dos preconceitos sendo eu mesmo”.
A seguir, os principais momentos da conversa com Preta:
Mudança radical
“Peguei a força do meu retorno de Saturno [aos 28 anos] e resolvi largar tudo para ser cantora. As pessoas diziam “Mas como você vai fazer isso?”. A vida é uma só, que bom que eu construí tudo isso, mas agora é hora de experimentar, ser artista. Demorei 10 anos para me resgatar, e foi um início corajoso que até hoje me inspira. Essa energia continua comigo”.
Sucesso coletivo
“Meu bem suceder é eu me abraçar, me amar e querer cuidar dos outros. Não existe sucesso se a gente olha pro próprio umbigo. O sucesso é o que você move para atingir outras pessoas. O sucesso egoísta não me interessa.”
Com Sofia Mendes
Donata Meirelles é consultora de estilo e atua há 30 anos no mundo da moda e do lifestyle.
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