O uso frequente de aspirina vem sendo associado à redução do risco de câncer de ovário há algum tempo, mas os estudos publicados não avaliavam de forma abrangente, até então, se havia um efeito comprovado.
Um artigo publicado recentemente no Journal of Clinical Oncology, um dos periódicos mais respeitados na área de Oncologia, destacou uma metanálise com os dados de mais de 8 mil mulheres, avaliando exatamente o papel do ácido acetilsalicílico como fator protetor para reduzir o risco deste tumor ginecológico silencioso e, muitas vezes grave, para o qual não existe exame preventivo para diagnóstico precoce.
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Segundo estimativas do Instituto Nacional de Câncer (INCA), o Brasil deve registrar 6.650 novos casos de tumor de ovário em 2022. Em 2020, de acordo com o Atlas de Mortalidade por Câncer, 3.291 mulheres morreram por causa da doença no país. No mundo, são 314 mil casos anuais e mais de 207 mil óbitos.
O câncer de ovário não apresenta sintomas na maioria das mulheres até a doença atingir um estágio avançado. Quando o tumor está avançado os sintomas mais comuns são: aumento do volume abdominal, sensação de peso no baixo ventre, má digestão, aumento da frequência das micções, alterações menstruais e sangramento vaginal, perda de apetite, cansaço e anemia, alteração do hábito intestinal, náuseas e vômito.
Por isso, este estudo merece atenção especial. Os pesquisadores fornecem evidências de que o uso frequente de aspirina pode reduzir o risco de câncer de ovário em 13% nas mulheres que usaram o medicamento, comparado com as pacientes que não utilizaram o ácido acetilsalicílico. É uma porcentagem relevante para uma neoplasia cujas taxas de diagnóstico precoce são baixas e a mortalidade, infelizmente, ainda é alta.
Um ponto importante a ressaltar é que não foi observada uma redução específica do risco para mulheres com endometriose, que é um fator importante para alguns tipos deste tumor.
Assim, é fundamental que as mulheres mantenham as consultas periódicas e os exames de rotina em dia. Para pacientes portadores de síndromes genéticas, como a mutação dos genes BRCA1 ou BRCA2, o aconselhamento médico é indispensável, com a indicação de medicamentos anti-hormonais ou, quando recomendada, a retirada preventiva das trompas e ovários.
A boa notícia para as pacientes que recebem o diagnóstico é que o tratamento do câncer de ovário evoluiu nos últimos anos, não só com a evolução das técnicas cirúrgicas, mas com a melhoria dos medicamentos. Um dos exemplos, para casos selecionados, o tratamento com quimioterapia hipertérmica – feita dentro do próprio abdômen durante o ato operatório. Além disso, houve um avanço significativo de drogas orais chamadas de inibidores da PARP, que são administradas como forma de manutenção no final da quimioterapia, para casos específicos.
O que recomendo é que as mulheres tenham atenção ao seu corpo. Sentiu alguma coisa diferente, como dor no abdômen ou na pelve, percebeu um aumento do volume da barriga, teve alteração do hábito intestinal, náuseas e vômitos ou sangramento vaginal, faça uma consulta com seu médico.
Fernando Maluf é cofundador do Instituto Vencer o Câncer e professor livre-docente da Faculdade de Medicina da Santa Casa de São Paulo.
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