Quando pensamos no papel que o Brasil ainda deverá representar na produção de alimentos, energia e fibras para o mundo, é sempre interessante olhar para a história; isso ajuda a entender de onde estamos vindo e para onde estamos indo.
Em 1984, produzimos 54 milhões de toneladas de grãos e, em um evento sobre agronegócio realizado em Brasília, foi lançada a ambição de produzir 100 milhões, um sonho então distante. Mas nem tanto.
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Com a tecnologia tropical sustentável aqui desenvolvida pela ciência, e com o empreendedorismo e a coragem dos produtores rurais em incorporá-la, já em 2001 colhemos pela primeira vez as 100 milhões de toneladas, 17 anos após o sonho enunciado. E, 14 anos depois, em 2015, chegamos a 200 milhões de toneladas – o dobro. Agora, apenas 7 anos depois, só não atingimos 300 milhões porque uma seca tenebrosa quebrou mais de 27 milhões de toneladas de soja e milho nos estados do sul, Mato Grosso do Sul e parte do sudeste. O setor espera, no entanto, ultrapassar esta marca em 2023, apesar da escassez e alto custo dos principais insumos (fertilizantes e defensivos) provocados pela pandemia e pela invasão da Ucrânia.
Estes saltos de produção coincidiram com explosão de demanda, sobretudo na Ásia e Oriente Médio, de modo que as exportações também cresceram. Em 2000, o agronegócio brasileiro exportou US$ 20,6 bilhões. No ano passado, foram US$ 120,5 bilhões, ou 485,7% a mais! Mais interessante do que isso: em 2000, o saldo da nossa balança comercial do setor foi de US$ 14,8 bilhões; no ano passado, atingiu US$ 105 bilhões, ou 607% a mais.
Os números crescentes das exportações passadas continuaram em 2022. Nos primeiros quatro meses de 2000, o agro vendeu US$ 5,89 bilhões. Neste ano, o valor foi US$ 48,56 bi, ou 724,4% maior. Só em relação ao ano passado, o crescimento no primeiro quadrimestre é de 34,5%!
Quanto aos destinos; em 2000, a China representou 2,7% do nosso mercado; no ano passado, 34%. Crescimentos semelhantes aconteceram para outros países asiáticos, africanos e do Oriente Médio. Não aconteceu o mesmo com a União Europeia, para a qual as exportações de 2000 foram 36,4% do total, caindo para 14,9% no ano passado. Uma sensível redução relativa, embora os números absolutos tenham crescido. Para os Estados Unidos, outra redução: de 18,1% para 7,5%. E vendemos mais em dólares (para entender: 18,1% de 20 bi é menos do que 7,5% de 120 bi).
Possivelmente não teremos no futuro de médio prazo saltos tão impressionantes por diversos fatores, como por exemplo: a China fala em aumentar sua plantação de grãos em 10 milhões de hectares; a Índia, entre outros países, tentou liderar em recente reunião na OMC uma nova onda de protecionismo agrícola, felizmente superada.
“Muita água vai rolar debaixo dessa ponte”, como se diz na roça, e é fundamental acompanhar os movimentos de oferta e demanda globais para não perdermos o trem da história, que nos leva para a estação do campeão mundial da segurança alimentar.
Roberto Rodrigues é engenheiro agrônomo, agricultor, coordenador do Centro de Agronegócio da FGV e embaixador especial da FAO para Cooperativas. Participa de diversos conselhos empresariais, institucionais e acadêmicos.
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Artigo publicado na edição 98, de junho de 2022.
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