Há poucas semanas conheci a história de Katya Echazarreta, de 26 anos, a primeira mulher mexicana a fazer um passeio pelo espaço a bordo de um foguete da Blue Origin. Engenheira e comunicadora científica, Echazarreta foi selecionada entre milhares de candidatos pela Space for Humanity, uma organização sem fins lucrativos. Os outros passageiros pagaram para fazer o passeio espacial.
O objetivo da organização é enviar ‘líderes excepcionais’ ao espaço e permitir que eles experimentem o efeito da visão geral, um fenômeno frequentemente relatado por astronautas: observar a Terra do espaço lhes dá uma profunda mudança de perspectiva. A Space for Humanity a escolheu por suas contribuições impressionantes. “Estávamos procurando por pessoas que já estão fazendo um ótimo trabalho no mundo e são apaixonadas pelo que quer que seja”, disse Rachel Lyons, diretora da organização.
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Echazarreta se mudou para os Estados Unidos com sua família aos 7 anos. Lembra-se de ter ficado perdida por estar em um novo lugar e não falar o idioma, além de ouvir de um professor que ela poderia ser retirada da escola a qualquer momento. Aos 17, a mexicana sustentava sua família com o salário do McDonald’s. Atualmente, faz mestrado em engenharia na Johns Hopkins University. Antes, trabalhou no Laboratório de Propulsão a Jato da NASA. “Há tantas pessoas que sonham com as mesmas coisas que eu estava sonhando, e, ainda assim, não as vejo aqui. Então, o que está acontecendo?” disse ela à CNN. “Não foi suficiente para mim ter conseguido e estar lá. Eu precisava ajudar a trazer outros comigo.”
Independentemente das limitações do meio socioeconômico em que se vive, é preciso contrariar as circunstâncias para romper limites. E a motivação é o grande instrumento para essa transformação. A história da jovem me toca porque, em muitos aspectos, se parece com a minha.
Enxerguei na educação uma forma de mudança de vida, pois não gostava e não via futuro para mim trabalhando na roça. Sou o filho do meio de uma família de pequenos agricultores do interior do Paraná. Antes de mim, não havia ninguém na família formado em uma faculdade. Hoje, há um termo desenvolvido por psicólogos e muito utilizado por lideranças corporativas: autoconsciência, que, basicamente, é a capacidade de se concentrar em si mesmo.
Aqueles que são autoconscientes podem interpretar suas ações e sentimentos com objetividade. E desenvolver essa autoconsciência é importante para que possamos mudar o curso da nossa história quando necessário. É isso que tento passar em meus encontros e palestras pelo país com estudantes e recém-formados em Direito. Eu me transformei ao ter a consciência de que só o estudo poderia me tirar da roça. Isso me libertou de suposições e de meus medos, me impulsionou a escolher o meu caminho.
A minha trajetória, a de Echazarreta e das personalidades que ilustram a capa desta edição da Forbes dificilmente poderiam ser repetidas, mas podem inspirar para uma mudança de perspectiva para muitos e, oxalá, ter o efeito da visão geral.
Nelson Wilians é CEO da Nelson Wilians Advogados.
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