Eu aplico as lições que aprendi praticando triatlo em muitas coisas do meu dia a dia. Não existe treino (trabalho, que nesse caso é físico) sem o chamado day off. O dia de folga no esporte é fundamental. Não se trata só de dar um descanso ao corpo, mas também à mente. É o dia para calçar um chinelão e descansar, respirar, pensar em outras coisas, relaxar.
A mesma coisa vale para o trabalho. Calma! Não estou falando de faltar ao trabalho sem motivo algum, mas de negociar com o seu supervisor imediato ou liderança um dia off ou de procurar usar um dia que tenha sobrado das férias para se dar esse descanso, desde que essa decisão seja compartilhada com o chefe. A maneira com que você vai abordar essa solicitação depende, claro, da cultura do seu local de trabalho.
Lamentavelmente, os números mostram que, nos Estados Unidos, mais da metade dos empregados diz que não conseguiria relaxar na folga por ficar com medo de o empregador ter uma avaliação negativa dele. Acontece que manter o colaborador trabalhando até ele quase estar à beira de um burnout ou de se demitir custa caro para a empresa e para o empregado.
Não por acaso muito se tem discutido a semana de 4 dias de trabalho. As organizações têm se deparado com uma parcela significativa de jovens (cerca de 30%) que jogam a toalha. Não quererem viver apenas para o trabalho. A retenção de jovens talentos tem se tornado mais e mais difícil.
Cada pessoa lida com o estresse do trabalho de maneira diferente. Algumas são mais resilientes e até usam a pressão como fonte motivadora de produção. Mas o fato é que, muitas vezes, o corpo e a mente dão sinais de que talvez seja hora de tirar um dia off:
1. aparecimento de sintomas físicos – dores de cabeça, dores no corpo (pescoço e ombros principalmente), dificuldade para dormir, problemas de digestão;
2. dificuldade para ficar focado – levar muito mais tempo para cumprir uma tarefa ou começar a cometer erros com regularidade;
3. alteração no humor – irritação constante ou, ao contrário, aperto no peito e vontade de chorar;
4. desânimo.
Estes são alguns dos alertas claros que você precisa estar atento e, então, negociar uma dispensa. Se ela for aprovada, ela tem de ser usada em seu benefício, o que significa dizer que não vale ficar colado ao celular para checar notícias do trabalho. No esporte, a gente chamaria isso de “roubar”. Antes de fazer a pausa, organize previamente com os colegas ou com o chefe as suas tarefas, de modo que naquele momento ninguém precisará mandar mensagens para saber que fim levou o projeto “x” ou a tarefa “y”. O dia é para você e só para você.
Caminhe pelo bairro, acorde mais tarde, faça um café da manhã diferente, vá ao cinema de tarde, no meio da semana. Vale tudo. Esse respiro é essencial para recolocar as coisas em perspectiva, para desacelerar e voltar no outro dia mais energizado e feliz por ter investido esse tempo em você mesmo.
Dr. Arthur Guerra é professor da Faculdade de Medicina da USP, da Faculdade de Medicina do ABC e cofundador da Caliandra Saúde Mental.
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