Ainda que a expressão “a gente” não saia da boca do povo, dúvidas em relação à legitimidade desse modo de se referir à primeira pessoa do plural pairam no ar. Podemos mesmo usar essa expressão ou devemos a abandonar à própria sorte?
Bem, antes de tudo, saiba que até Machado de Assis fazia uso de “a gente” em seus escritos. Basta uma visita a “Memórias Póstumas de Brás Cubas” para averiguar. Todavia, do ponto de vista da senhora norma culta, a expressão em questão, coitada, simplesmente inexiste. Segundo os gramáticos normativos, o vilipendioso “a gente” deve se limitar à linguagem coloquial. E olhe lá.
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Mas isso não nos autoriza, obviamente, a negligenciar as concordâncias relativas a essa ilegítima expressão. No que se refere ao aspecto verbal, ocorre a obrigatoriedade de concordância com a terceira pessoa do singular. Por isso, “a gente vamos” está errado, ao passo que “a gente vai” está correto.
No tocante ao aspecto nominal, percebo que a maior parte das pessoas acerta por instinto. Mulheres devem dizer “a gente está animada”, ao passo que homens devem falar “a gente está animado”. Modernamente, ainda que alguns gramáticos digam que o feminino deveria imperar, já se provou que esse uso não colou com os homens.
Enfim, essa é a dona gramática. Embora não aceite o filho ilegítimo “a gente”, teima em impor regras a ele.
A gente se vê em breve. Até mais!
Cíntia Chagas é uma professora que sempre leva humor e conhecimento ao público. Escritora de dois best-sellers da editora HarperCollins, ela coleciona milhares de alunos nos cursos virtuais que ministra. Palestrante e instagrammer, provou que irreverência, humor e educação podem e devem andar juntos.
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