Pela primeira vez em 20 anos, a cotação do euro chegou hoje (13) a menos de US$ 1,00, sendo negociado a US$ 0,998. Essa relação, por si só, não traz consequências diretas para a economia brasileira, dizem analistas. Porém, a valorização da moeda norte-americana pode impactar os negócios de uma série de empresas brasileiras.
O que explica o movimento
Desde que entrou em circulação pela primeira vez, em 2002, a moeda europeia manteve sua cotação a cerca de 10% a 30% a mais do que a do dólar. Contudo, desde o início do ano, o euro já acumula baixa de cerca de 11% frente à moeda norte-americana, pressionado pelo pessimismo em relação ao bloco econômico.
A perspectiva de uma recessão econômica é o principal fator que impulsiona a depreciação da moeda frente ao dólar. Desde o início do ano, a economia da Zona do Euro vem sido afetada pela alta dos preços, que foi exacerbada com o início da guerra na Ucrânia, bem como pela decisão do Banco Central Europeu de manter as taxas de juros inalteradas até agora.
Na segunda-feira (11), os receios se intensificaram após a interrupção dos fluxos do Nord Stream 1, um importante gasoduto que transporta gás russo para a Alemanha, para manutenção. A previsão é de que a paralisação dure dez dias, mas os mercados temem que ela poderá se estender por causa da guerra e intensificar a crise energética na região.
Todos esses fatores contribuem para a venda de ativos denominados em euro. Afinal, os participantes do mercado tendem a fugir de ativos associados ao risco, preferindo migrar para investimentos mais seguros.
Enquanto isso, a divisa norte-americana é favorecida principalmente pela alta de juros nos Estados Unidos. Em junho, o Federal Reserve, banco central do país, aumentou os juros em 0,75 ponto percentual e indicou que deve manter um ritmo elevado de ajustes para combater a inflação. O movimento é favorável para o dólar porque incentiva o fluxo de investimentos para o país.
Segundo Felipe Izac, sócio da Nexgen Capital, a tendência é que, no curto prazo, o euro siga se desvalorizando contra o dólar. “Hoje, vimos que os dados da inflação norte-americana vieram acima do esperado, o que quer dizer que o Fed talvez tenha que ser ainda mais duro na política de aperto monetário”, explica.
Efeitos na economia brasileira
Para as empresas brasileiras, no entanto, um fator pesa mais nesse cenário: a valorização do dólar. Isso porque a alta da moeda tende a beneficiar as empresas exportadoras brasileiras, que vendem seus produtos em moeda estrangeira e possuem receita denominada em dólar.
Esse é o caso das empresas de commodities, que são especialmente relevantes para a economia brasileira. Petróleo, minério de ferro, celulose, soja e trigo são precificadas em dólar no mercado internacional e oscilam de acordo com a oferta e a demanda lá fora.
Por isso, para as exportadoras, um dólar mais alto viabiliza ganhos maiores na venda ao exterior. Por outro lado, setores que importam grande parte de seus produtos, como os de tecnologia e varejo, são prejudicados, já que eles terão que lidar com preços mais elevados no mercado internacional.
“O real não tem uma paridade direta contra o euro. Primeiro nós fazemos uma paridade do real contra o dólar, e depois do dólar contra o euro”, explica Izac. “É também por conta disso que a desvalorização do euro não traz um impacto grande para as empresas brasileiras.”
Já Wagner Varejão, especialista do Valor Investimentos, cita a baixa relação comercial entre o Brasil e os mercados europeus como outro fator que restringe esses impactos: “Fazemos muito mais negócios com a Ásia e os Estados Unidos, por exemplo.”
O dólar norte-americano acumula queda de 2% frente ao real desde o início do ano, mas já valorizou cerca de 17% desde a sua cotação de fechamento mínima, a R$ 4,60, alcançada em 4 de abril. Já o euro acumula baixa de aproximadamente 14% frente à moeda brasileira desde janeiro.
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