Muito se tem falado sobre o uso da maconha como uma ferramenta terapêutica. É o que chamamos de uso medicinal da maconha. Muitos países do mundo, inclusive, têm se posicionado a favor da utilização dela e liberado o consumo por quem tem problemas de saúde.
Qualquer problema de saúde? A resposta é NÃO. Participei recentemente do Congresso Norte-Americano de Psiquiatria e muito se discutiu a prescrição da cannabis para pessoas que sofrem de algum problema de saúde mental porque a maconha, claro, tem estado no centro do debate médico e, por isso, cresceu o interesse do consumidor por ela. E não falo só do interesse pela maconha, mas também pelos canabinoides, as substâncias retiradas da cannabis e que têm algumas propriedades terapêuticas.
Em 2017, as Academias Nacionais de Ciências, Engenharia e Medicina fizeram uma grande revisão de todos os estudos científicos publicados sobre os efeitos da cannabis e dos canabinoides na saúde. E descobriram que ela só pode ajudar em três circunstâncias:
• tratar a dor crônica;
• reduzir a náusea induzida pelo tratamento quimioterápico;
• diminuir a espasticidade associada à esclerose múltipla.
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Um outro estudo bem importante, publicado em dezembro de 2019 na Lancet Psychiatry, uma das revistas científicas mais prestigiosas e conceituadas do mundo, mostrou algo parecido: não há evidências sérias que permitam sugerir que os canabinoides podem melhorar os sintomas de depressão, ansiedade e outras condições de saúde mental.
Mas, doutor, eu tenho câncer e a maconha ajudou a diminuir a minha ansiedade! Como eu já escrevi aqui mesmo nesse espaço, a ansiedade geralmente é decorrente de algum outro problema. Ao se tratar esse problema, quase sempre a ansiedade melhora. Uma pessoa com câncer pode ter dores fortíssimas, o que a leva a ficar super ansiosa. Como a cannabis de fato pode ajudar no controle da dor, é natural que a ela fique menos inquieta.
Há uma outra pergunta importante a ser feita: a cannabis pode levar a algum problema de saúde mental? A resposta é sim. Já se comprovou que ela pode acelerar o aparecimento da esquizofrenia em quem já é propenso a tê-la. Por isso, a maconha é considerada esquizofrenogênica, ou seja, ajuda a abrir a porta para a esquizofrenia.
Tudo pode mudar, é claro, como é natural na ciência. Mas, no momento em que estamos, ainda não é possível, baseado nas evidências científicas que acumulamos até agora, dizer que a maconha ajuda quem tem algum problema de saúde mental.
Dr. Arthur Guerra é professor da Faculdade de Medicina da USP, da Faculdade de Medicina do ABC e cofundador da Caliandra Saúde Mental.
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