Será que agora vamos alcançar o topo do pódio no circuito que gera mais de 114 milhões de euros por prova? Esta é a principal pergunta antes da largada da 90ª edição das 24 Horas de Le Mans, na França, uma das três principais provas do automobilismo mundial ao lado do GP de Mônaco da Fórmula 1 e das 500 Milhas de Indianápolis (Tríplice Coroa). A corrida começa às 11h do sábado (horário de Brasília) e termina no domingo.
Nunca um brasileiro venceu a categoria geral – quatro bateram na trave e ficaram em segundo: José Carlos Pace (1973); Raul Boesel (1991); Lucas di Grassi (2014) e Bruno Senna (2020). Tal escrita pode ser alterada por André Negrão, de 29 anos, paulista de Campinas que acelera pela equipe francesa Alpine Elf Team, ao lado dos pilotos franceses Matthieu Vaxiviere e Nicolas Lapierre.
O trio está entre os favoritos da prova já que lidera o WEC (Campeonato Mundial de Endurance): eles venceram a etapa de abertura (1000 Milhas de Sebring, EUA) e foram vice na segunda etapa (6 Horas de Spa-Francorchamps, Bélgica). Após Le Mans (que vale pontuação dobrada para o campeonato), serão mais três provas: 6 Horas de Monza (julho), 6 Horas de Fuji (setembro) e 8 Horas Bahrain (novembro). Ao longo da corrida, os três pilotos se revezam no volante.
Terceiro na largada
Negrão, Vaxiviere e Lapierre vão largar em terceiro no grid. “É uma ótima posição de largada em se tratando de uma corrida tão longa, e mostra que estamos entre os mais rápidos – é desse grupo que costumam sair os vencedores”, analisa o brasileiro.
“Mas em Le Mans tudo é muito incerto, muita coisa acontece nessas 24 horas, e esse é o charme e a mística da prova. Você tem que fazer o melhor e pagar pra ver na bandeirada”, conclui. A pole position ficou com o Toyota de Brendon Hartley, neozelandês da equipe que conta também com o suíço Sébastien Buemi e o japonês Ryo Hirakawa.
A estratégia da Alpine é deixar Nicolas Lapierre para a largada. A equipe aposta na habilidade de Negrão para pilotar mais horas na parte mais exigente: à noite. “Você enxerga menos, mas eu me adaptei bem à essa condição”, justifica o campineiro. “Mas é uma prova super dura o tempo todo, com um traçado no qual 85% do tempo você está com o pé no fundo do acelerador. Ela é exigente a cada minuto – por 24 horas.”
Para chegar nos trinques neste ano, Negrão explica que a preparação começou assim que terminou a prova de 2021: “é um nível de preparação que dá para dizer que o mais importante é cometer a menor quantidade de erros possível, pois, se fizer tudo perfeito, suas chances de vencer aumentam diante de adversários que se prepararam tanto ou até mais do que você pode imaginar.”
Seis brasileiros
Negrão tem duas vitórias em Le Mans na categoria LMP2, além do título mundial de 2018/2019. Ano passado, ficou em terceiro lugar. Outro brasileiro bem cotado para a glória máxima em 2022 é Pipo Derani, paulistano de 28 anos que bate cartão em Le Mans pela sétima vez. Derani larga em quinto.
Ele deve voar baixo no comando do Glickenhaus SCG 007, um carro tecnologicamente mais avançado do que o Alpine A480 de Negrão. Na equipe Glickenhaus Racing, Derani está ao lado dos franceses Romain Dumas e Olivier Pla. Enquanto Negrão e Derani duelam na categoria de ponta (Hypercar), outros quatro brasileiros marcam presença na prova: Pietro Fittipaldi e Felipe Nasr (ambos na categoria LMP2); e Daniel Serra e Felipe Franga (LMGTE-Pro).
Tragédia histórica
A 209 quilômetros ao sudoeste de Paris, Le Mans tem cerca de 143 mil habitantes, mas já viu sua população dobrar durante as corridas da década de 1960. Hotéis e restaurantes ficam cheios em uma área de até 70 quilômetros. A disputa nasceu no início dos anos 1920 como uma maneira da indústria automobilística pôr à prova o desempenho de novos modelos em longas distâncias.
O primeiro brasileiro a correr foi Bernardo Souza Dantas, em 1935, com um Bugatti Type 57. O dinamarquês Tom Kristensen é o maior vencedor, com nove vitórias (a última em 2013). O pior desastre de Le Mans (e do automobilismo) aconteceu em 1955: após o choque entre Pierre Levegh, que morreu carbonizado, e Lance Macklin, peças de carro voaram na multidão que assistia a tudo de perto, matando 84 pessoas. A tragédia alterou a história do esporte no quesito segurança do público.
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