Dos 25 shows que acontecerão até outubro da turnê “Pirata”, 22 estavam esgotados até o fechamento desta reportagem. Neste número, cabem também datas extras que foram abertas por causa da demanda. Depois de 2020, o cachê de Jão saltou para cerca de R$350 mil na cidade de São Paulo e R$ 250 mil em outras localidades. Por mês, o faturamento atual da U.F.O, produtora do cantor, gira em torno de R$ 3 milhões a R$ 4 milhões, o que por ano significa pelo menos R$ 36 milhões.
O número é muito maior do que os três acumulavam por ano antes da pandemia (cerca de R$ 2 milhões). Em 2019, o cachê do artista na capital paulista era de cerca de R$ 90 mil. O aumento é de 288%. No faturamento, o salto é de 1700%.
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Jão, Pedro Tófani e Renan Silva se conheceram na faculdade. Na ECA-Usp (Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo), Jão descobriu que queria estar nos palcos e não em agências de publicidade. Os dois amigos acreditaram nele e traçaram uma estratégia.
No começo, a U.F.O era uma rede de apoio para a carreira que estava começando. “Eu nem me chamava de diretor criativo, filmava as coisas que ele precisava”, diz Tófani. Silva não se encaixava com as funções artísticas e por já estudar relações públicas ficou com essa parte, além dos contratos, gerenciamento da carreira e contabilidade. O próprio Jão não só cantava, mas fazia toda a produção musical.
A primeira estratégia foi gravar clipes de covers dos mais variados gêneros, que iam de Sam Smith a Marília Mendonça. “Fazíamos uma produção musical diferente, mais eletrônica e pop”, diz Tófani. Além disso, eles produziam o vídeo como se fosse um clipe. Os vídeos viralizaram e logo Jão pôde lançar suas próprias composições. As primeiras foram “Ressaca” e “Álcool”, em 2017.
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A consolidação da U.F.O aconteceu quando foi oferecido o primeiro contrato com uma gravadora, a Universal Music. Eles não tinham nem CNPJ. Foi aí que começaram a estruturar a empresa. “Precisávamos de um CNPJ para assinar, ou o Jão assinaria sozinho. Foi aí que começamos a pensar como um negócio”, diz Silva.
A U.F.O cuida de todas as etapas de logística e produção. “Queremos entregar um espetáculo para o público, investimos muito nisso e não encontrávamos esse espaço com contratantes”, diz Silva. Hoje, a U.F.O tem 25 pessoas que trabalham nos shows. “Hoje me apresento em casas onde passam os maiores artistas da música brasileira e isso é um dos maiores resultados para mim enquanto artista, porque estar no palco é o que amo fazer”, diz.
A turnê “Lobos”, que durou de setembro de 2018 a junho de 2019, foi o momento que definiu a ascensão da carreira do intérprete. Do álbum de mesmo nome saiu um dos seus maiores hits, “Vou morrer sozinho”.
Em outubro, eles lançavam a segunda turnê, “Anti-Herói”, que teve uma pausa no fim de ano e continuou em fevereiro de 2020. Foi interrompida pela pandemia. A principal fonte de recursos da produtora eram os shows. “Ele é um artista que vende muitos ingressos, temos essa métrica favorável, mas naquele momento foi um baque”,diz Silva.
O hiato, porém, levou à melhor experiência de produção artística que eles tiveram até então.” Pirata, álbum lançado pela Universal Music em outubro de 2021, tem singles como “Coringa”. O clipe teve 1 milhão de visualizações só no dia do lançamento no YouTube (25 de fevereiro de 2021), se tornando o vídeo mais visto naquele dia. “Idiota” alcançou a posição 22 na Billboard Brazil Songs, lista da revista norte-americana que identifica as músicas mais ouvidas por semana. A turnê começou em março de 2022.
Pirata é fruto de um período em que eles puderam refletir sobre os processos artísticos. A U.F.O vai manter esse modo de fazer. .A turnê também marca uma estrutura de palco diferente das outras, com uma cenografia e identidade visual bem amarradas ao conceito do álbum.
Seu show não é pensado para ser um “plano B” para uma festa. “Foi uma aposta fazer um show pop, pensado, em que as pessoas vão para ver o artista. Não inventamos isso, já existe lá fora. Não achamos que o público brasileiro não consegue consumir uma coisa que foi pensada”, diz Tófani. Geralmente, os shows de gêneros musicais do cenário pop no Brasil estão em festivais e baladas cujo propósito é a festa e o cantor fica como pano de fundo.
Jão se inspira em Cazuza e alguns fãs até o comparam com Taylor Swift, por causa de algumas letras que falam sobre relacionamentos. Os sonhos dele sempre foram grandes, mas pensados por etapas. “Ainda quero chegar muito mais longe do que cheguei, mas reconheço que estou em uma etapa importante e privilegiada, principalmente com os shows”, diz Jão.
Em 2017, Jão foi pela primeira vez ao Lollapalooza Brasil, como espectador. Em 2022, foi o destaque do palco Onix. Na cenografia, chamava atenção um polvo de 18 metros. Nos shows pelo Brasil, ele começa a cantar da proa de um navio. O investimento na produção do palco faz parte da estratégia de carreira. “Mesmo quando a gente fez o primeiro show para 40 pessoas, a gente tratava o palco como uma prioridade para a carreira dele”, diz Tófani.
Outros festivais entraram em sua agenda, como o MITA no Rio de Janeiro (que aconteceu em 22 de maio) e o Rock in Rio. Ele também se apresentará no Meo Sudoeste, em Portugal, no dia 5 de agosto. Em março, ele abriu o show do Maroon 5 em São Paulo no Allianz Parque.
A próxima meta é fazer shows em estádios, sozinho. Ele está prestes a realizar esse objetivo. Com a turnê atual, ele lotou o Espaço das Américas, em São Paulo, por quatro vezes. A casa de shows tem capacidade para 8 mil pessoas. São 32 mil pessoas que querem vê-lo em uma única vez, sem contar as que não conseguiram comprar ingressos a tempo. O Allianz Parque, um dos estádios que mais recebe shows internacionais em São Paulo, comporta 43.713 pessoas. Os 22 shows esgotados da turnê Pirata contabilizam um público de aproximadamente 97.528 pessoas.
E eles não querem parar onde estão. “Eu brinco com todo mundo que eu encontro que só tenho mais dois anos para ser Forbes Under 30”, diz Silva.
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