Poucas coisas na vida são tão difíceis de tratar do que a morte. Todos sabemos que a vida é finita. Nós, seres humanos, nascemos com a consciência de que um dia vamos morrer; é a única certeza que temos na vida e isso é uma das coisas que nos diferenciam dos outros animais. A morte é, portanto, um tema que, declarada ou não declaradamente, carregamos conosco.
Ainda assim, falar disso é sempre dificílimo porque carrega consigo muitas emoções, julgamentos de valor (quem nunca já soltou uma frase como “Ele viveu uma boa vida” ou “Ele teve uma vida horrível”?) e ainda vem temperada pela religiosidade. Cada religião enxerga a morte de uma maneira diferente, mas sempre tem algo a dizer sobre ela.
A coisa fica ainda mais complicada quando o tema é morte assistida. O que é isso? O suicídio assistido, ou morte assistida, é um ato em que a própria pessoa, auxiliada por terceiros (em muitos países é um médico), toma a decisão de, com a ajuda de remédios, por fim à sua vida. Não por acaso, a notícia de que o ídolo do cinema francês Alain Delon declarou querer essa solução chocou muita gente. Muita gente se perguntou: Como assim?
No caso do suicídio assistido, além de todos os motivos que eu mencionei acima como cercando o tema morte, nós ainda nos deparamos com as questões éticas, legais (em muitos lugares, como é o caso do Brasil, o ato é considerado crime) e morais.
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Será que todo mundo deveria ter o direito a decidir como e quando quer por um ponto final na sua vida quando recebe um diagnóstico que lhe diz que terá pouco tempo de vida e que esse final será muito sofrido?
Muito se tem falado – ainda que não tão abertamente – sobre a possibilidade de morrer com dignidade e sem dor, o que, em tese, poderia se aplicar a muitas pessoas que são doentes terminais e que terminam os seus dias à base de remédios fortíssimos contra dores insuportáveis ou presas a tubos e máquinas, sem que nem o cérebro, este que nos comanda, funcione mais.
Ainda assim, os debates são calorosos. Como definir quem potencialmente seria candidato a ter essa opção? Alguns países colocaram regras bem rígidas, mas que não resolvem o problema, porque são passíveis de interpretação, já que ter um prognóstico médico de que se tem, no máximo, 3 ou 4 meses de vida não passa disso: uma estimativa.
O que dizer de pessoas com problemas gravíssimos de saúde mental como pode ser a depressão? A dor insuportável não está no corpo, mas está na alma. Essa pessoa deveria ter o direito a acabar com sua vida de forma assistida quando temos opções reais de tratamento que vão reduzir, senão acabar, com esse sofrimento e essa falta de dignidade? Penso que não. Esses dois exemplos mostram que há muitas áreas cinzentas que ainda precisarão ser amplamente discutidas e refletidas. Os limites não são claros.
Esse é um tema do qual ainda muito ouviremos falar no futuro, dado que a população do mundo envelhece rapidamente. E você, o que pensa disso?
Dr. Arthur Guerra é professor da Faculdade de Medicina da USP, da Faculdade de Medicina do ABC e cofundador da Caliandra Saúde Mental.
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