O Rio de Janeiro volta a receber hoje (26), até o dia 1º de maio, o Rio2C, festival que ganhou uma nova roupagem em 2018, mas que ocorria desde 2011 com o nome de Rio Content Market. O evento, realizado na Cidade da Artes, foi idealizado por Rafael Lazarini, VP da Live Nation, uma das maiores empresas de shows e entretenimento do mundo e membro do conselho do Rock in Rio.
A edição deste ano, de acordo com Lazarini, tem gosto de retomada, já que, em função da pandemia, o evento precisou ser suspenso. Com foco na indústria criativa brasileira, serão mais de 250 painéis e atividades com discussões relacionadas à ciência, processo criativo, tecnologia e inovação. Na programação, nomes como Roberto Medina, Boninho, Alok, roteiristas de Grey’s Anatomy, Criolo, Mano Brown, Luísa Sonza, Fábio Porchat, Gregório Duvivier, Ailton Krenak, Lázaro Ramos e Ingrid Guimarães, dentre muitos outros.
Dentre as novidades deste ano, o festival dedicou, pela primeira vez, uma trilha especial aos games. A curadoria do Summit Game+ é de Leandro Valentim, do Player1 Gaming Group, spin-off da unidade de games e eSports da Globo, hoje uma startup independente, investida pela Globo Ventures. No line-up nomes como fenômeno de Free Fire Nobru e a primeira embaixadora de games da Nike, Nicolle Merhy, ambos eleitos Forbes Under 30. Entre os outros curadores estão Stevens Rehen, na vertical de Ciência, Bernardo Zamijosky para Tecnologia, Marco Altberg, responsável por Audiovisual, Zé Ricardo na Música e Jonas Furtado para Marcas e Mídia, sob a coordenação de Cris Barreto.
Em entrevista à Forbes Brasil, Lazarini fala sobre a retomada dos eventos, o potencial da indústria criativa no Brasil e sua trajetória como empreendedor do entretenimento dentro e fora do país. A Live Nation, inclusive, prepara, para os próximos anos, a construção de uma Arena Multiuso de 400 mil metros quadrados em São Paulo, segundo Lazarini, um espaço inédito de entretenimento no Brasil.
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Forbes Brasil – O que representa o retorno do Rio2C e o quão emblemático ele é para a retomada dos eventos no Rio?
Rafael Lazarini – Tem um significado especial. Em 2020, tínhamos uma edição praticamente pronta que precisou ser abortada em função da pandemia. E agora, ela retorna com esse gosto de mudanças e transformações intensas durante este período. Apesar dos desafios, como evento, nós crescemos, abraçando a indústria criativa e reunindo discussões cada vez mais abertas relacionadas à inovação. O que percebemos, no entanto, é que pouca coisa foi inventada durante esse período. O que ocorreu foi um processo de aceleração e transformação que, de alguma forma já deveria acontecer.
FB – Do ponto de vista de tendências e temas em evidência, o que você destacaria em relação a este ano?
Lazarini – Nosso objetivo este ano é, com base em tudo que vivemos neste período de pandemia, trazer uma provocação sobre o slow-food. Nosso objetivo é olhar para o conteúdo e seu consumo de forma mais consciente. É um chamado para as pessoas se conscientizarem sobre aquilo que estão utilizando para informação e repertório. Além disso, tem outro tema muito importante dentro deste contexto que é focar a saúde mental. Essa relação entre corpo e mente sempre esteve muito presente nas nossas discussões e hoje está ainda mais em contexto. Isso reforça a importância de conectar o contexto humano aos novos hábitos e à perspectiva da tecnologia em relação ao bem-estar.
FB – Quais os desafios e as perspectivas para o entretenimento neste momento, considerando que foi uma indústria que viveu grandes desafios neste período?
Lazarini – Nós tivemos a comprovação clara do quanto o entretenimento foi fundamental para a sociedade durante a pandemia. Isso reforça a importância não só da cultura, mas do entretenimento como um todo. E a retomada dos eventos vem nos mostrando o quanto essa indústria é importante e como ela demanda esse contato pessoal. Nossa opção por fazer um evento integralmente presencial tem relação direta com esse elemento: a relação humana. O encontro é uma característica essencialmente humana e é fundamental para o momento que estamos vivendo. E isso tem um reflexo direto na indústria do entretenimento daqui em diante.
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FB – Geralmente, a primeira referência a eventos de inovação é o SXSW, que ocorreu em março, no Texas, qual o sentido dessas comparações e no caso do Rio2C quais as diferenças e semelhanças?
Lazarini – Para nós, é uma honra muito grande essa comparação. De fato, o SXSW é algo gigante e sem precedentes. Eu acompanho o festival desde a época que estudava nos Estados Unidos, em meados de 2005. Mas o nosso foco está no humano e, de certa forma, nos inspiramos também no SXSW neste sentido. Inclusive, a gente nem usa, do ponto de vista de curadoria, o termo tecnologia ou a menção aos diversos tipos de techs – foodtechs, healthtecs – por que a gente entende que tecnologia permeia um contexto humano muito maior. Para nós, tecnologia, por si, é menos relevante. Existem vários eventos que exploram esse lado de forma brilhante. Nosso objetivo, no entanto, é trazer o cientista, o roteirista, o investidor e o pesquisador para novas perspectivas. É muito menos sobre falar de blockchain, e muito mais sobre as mentes criativas que utilizam o blockchain para criar algo. Além disso, temos uma outra premissa, de trazer o ponto de vista antagônico. A contraposição, mesmo que em palcos diferentes, e deixar que o público decida sobre suas reflexões.
FB – Qual o desafio estabelecido ao pensar a inovação no atual contexto que vivemos?
Lazarini – Estamos em um momento muito crítico da sociedade. Tudo está conectado. Existem tantos avanços, sobretudo do ponto de vista de tecnologia, mas também muito retrocesso em outras áreas. Quem poderia imaginar que viveríamos uma guerra depois de uma pandemia? Esse momento exige muitas reflexões. Como a gente trabalha, como nos divertimos e nos relacionamos? O que está diante dos nossos olhos é um mundo complexo de mudanças aceleradas e contínuas. E, neste contexto, a indústria criativa tem um papel fundamental. E é por isso que eu reforço o papel do humano com sua capacidade de criar e se transformar. O Brasil tem um potencial criativo que é muito diferente de outras culturas. Nós não pensamos fora da caixa, nós nascemos sem caixa, sem rótulo e embalagem. Isso é parte da nossa cultura. Pode ir a qualquer comunidade, praia, favela, lá as pessoas estão criando soluções. O Rock in Rio é um dos eventos que mais capta patrocínio no mundo pela capacidade de atrair marcas e, sobretudo, de sobrepujar as adversidades. Ser empreendedor no Brasil é um desafio a cada minuto e eu acho que lapidar essa criatividade é dever de todos nós. Por isso batemos na tecla do potencial criativo do Brasil.
FB – Pode comentar um pouco de sua trajetória empreendedora e o que você aprendeu até aqui na indústria de eventos?
Lazarini – Eu já vivi vários lados nessa trajetória como empreendedor. Fiz engenharia, mas nunca exerci. Com 19 anos, abri, junto com meus colegas de faculdade uma empresa de eventos. Passei um tempo em Los Angeles, nos Estados Unidos, onde tive contato com um mercado pujante e uma indústria referência em relação ao entretenimento. E foi a partir daí que comecei a entender esse ecossistema. Na época, a visão do Brasil ainda era muito limitada em relação ao potencial dessa indústria. Foi quando voltei e fundei a IMX, hoje a IMM, responsável por vários eventos, desde o Cirque du Soleil, passando por Rio Open, Fórmula 1 e outros. Depois recebi o convite para abrir o escritório do Rock in Rio em Los Angeles, fiquei dois anos e voltei ao Brasil para abrir o primeiro escritório da Live Nation na América Latina. Nosso primeiro movimento foi a aquisição da participação na organizadora do Rock in Rio e de lá pra cá crescemos em vários aspectos cuidando de ativos importantes, entre eles o Lolapalooza. O grande desafio deste mercado, ainda mais agora, é equilibrar as duas forças que são a organização complexa e o potencial criativo.
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