Alison Fiore, da Backyard Growers, uma organização sem fins lucrativos fundada há 10 anos na cidade litorânea de Gloucester, Massachusetts, nos EUA, gosta de lembrar às pessoas que grandes fazendas são um empreendimento relativamente novo na história da humanidade.
“Somente depois da revolução industrial separamos o cultivo de alimentos de onde as pessoas vivem”, diz o diretor-executivo do programa que construiu canteiros nos quintais de mais de 600 propriedades urbanas. “As pessoas sempre produziam alimentos localmente, perto de casa. Quando trabalhamos para voltar a isso, estamos abordando questões urbanas, além de produzir alimentos”.
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Chris Grallert, presidente da Green City Growers, concorda. “Em Massachusetts, costumávamos produzir quase tudo o que consumimos. Havia horticultores, pomares, laticínios, pecuaristas, matadouros, curtumes, moinhos – todas as indústrias que apoiavam o cultivo, processamento e distribuição de alimentos. Agora, produzimos cerca de 5% do que consumimos.”
A Green City Growers é uma organização sem fins lucrativos, com sede em Boston, que desde 2008 construiu e mantém mais de 150 jardins na Nova Inglaterra, Carolina do Norte, Texas e Washington, D.C., dos quais 25% são de propriedades privadas, enquanto o restante pertence a organizações tão díspares quanto hospitais, lojas, museus, escolas e asilos. Um dos jardins de cobertura mais conhecidos da organização está no icônico estádio Fenway Park de Boston, criado em 2015 com canteiros elevados em um telhado de borracha plano.
“Nesse local produzimos 2,7 toneladas de produtos frescos a cada estação de cultivo”, diz Grallert. “Tudo, de couve a brócolis e pimenta. Visitar a Fenway Farms tornou-se uma das maiores atrações do estádio.”
A agricultura urbana como atração turística está sendo criada em maior escala na megacidade chinesa de Xangai, onde o Distrito Agrícola Urbano de Sunqiao será destinado exclusivamente ao cultivo de alimentos. Além disso, deve se tornar um centro de pesquisa e desenvolvimento para a ciência agrícola. A uma parada de metrô da nova Disneylândia de Xangai, o local de 102 hectares mostrará aos visitantes de que maneira os alimentos são cultivados.
“A Sunqiao unirá agricultura e tecnologia com turismo”, diz Michael Grove, presidente de arquitetura paisagística, engenharia civil e ecologia da Sasaki, uma empresa de design da área de Boston, especializada em arquitetura, design de interiores, planejamento espacial, arquitetura paisagística, ecologia, engenharia civil e marcas locais.
“O local foi, durante 20 anos, utilizado como estufas térreas. Quando isso terminou, o governo chinês realizou uma competição aberta para projetos que mantivessem o uso agrícola da área, mas unindo-o à tecnologia e tornando-o atraente para o turismo”.
A Sasaki, que venceu a competição, desenvolveu um plano para um arboreto urbano, área na qual haverá plantios mantidos e ordenados cientificamente, identificados e documentados.
“A ênfase será nas fazendas verticais, que aceleram os rendimentos e se prestam especialmente ao cultivo de verduras”, explica Grove. “Mas não se destina a ser a única tecnologia de cultivo de alimentos porque não se presta a plantas com sistemas radiculares robustos, como arroz, grãos e nozes. No entanto, para os folhosos reduz o consumo de água em 90% e não há necessidade de pesticidas.”
Espaço para a educação
Crianças que não sabem de onde vêm as cenouras é um fenômeno relativamente recente. No entanto, em todo o mundo, cada vez menos famílias cultivam seus próprios alimentos, dependendo de produtos cultivados em escala e distribuídos. Mas a tendência está sendo revertida pelos Backyard Growers, juntamente com organizações como o Food Project, City Sprouts e Alice Waters’ Edible Schoolyard Project, que reconhecem que as crianças que trabalham com outras pessoas para produzir alimentos têm dietas melhores, atitudes mais positivas em relação à alimentação saudável, exercitam-se mais e aprendem a trabalhar com os outros para um objetivo comum.
“Além de seis hortas comunitárias em Gloucester”, diz Alison Fiore, “criamos hortas em cada uma das escolas públicas da cidade, exceto no ensino médio. Temos visto muitas mudanças comportamentais positivas em relação à comida. As crianças estão ansiosas para comer aquilo que cultivaram, enquanto, se a comida vier embrulhada de uma loja, talvez nem queira experimentá-la.”
Durante a pandemia, Alison observou que o interesse no cultivo de alimentos aumentou, levando organizações como a dela e a Green City Growers a acelerar os negócios.
“Empregamos 20 pessoas, 12 delas como agricultores urbanos”, diz Chris Grallert. “Podemos construir um jardim e, em seguida, regularmente regar, capinar, colher e processar as colheitas, ou o proprietário pode assumir e fazer isso sozinho. Mas para organizações como o estádio Fenway Park, lares de idosos e afins, fazemos todo o serviço.”
*Regina Cole é colaboradora da Forbes EUA e escritora sobre design com especialização em arquitetura histórica e na história das artes decorativas norte-americanas e europeias.
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