Em meados de março, autoridades do banco central dos Estados Unidos subiram a taxa de juros pela primeira vez desde 2018 e publicaram projeções que sinalizam uma postura muito mais agressiva em relação à inflação alta demais.
Desde que emergiram do período de silêncio após a reunião, seus comentários públicos assumiram um tom ainda mais forte. As previsões de duas semanas atrás –que estimavam a alta dos juros para cerca de 1,9% até o final do ano– parecem uma sombra “dovish” (leniente em relação à inflação) do que podem ser agora.
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Operadores de futuros agora precificam que as autoridades seguirão o aumento da taxa de juros de 0,25 ponto percentual promovido em 16 de março com elevações maiores, de 0,5 ponto, em maio e junho. Até o final do ano, os formuladores de política monetária devem subir a taxa básica do Fed para uma faixa de 2,5% a 2,75%. Economistas também estão elevando suas previsões de forma semelhante.
O presidente do Federal Reserve de Minneapolis, Neel Kashkari, é um exemplo disso. Apenas seis meses atrás, ele acreditava que não haveria necessidade de elevar os juros este ano porque a inflação cairia por conta própria: a pandemia em retrocesso traria mais trabalhadores de volta ao mercado de trabalho, o que aliviaria pressões salariais, e cadeias de suprimentos seriam corrigidas, permitindo que produtores atendessem à demanda.
Desde então, ele abandonou essas esperanças, pelo menos no curto prazo, e, embora ainda tenha alertado na semana passada contra “exagerar” nas altas dos juros, agora quer aumentar a taxa básica em mais 1,5 ponto percentual até o final do ano, alinhado com a projeção mediana de duas semanas atrás do Fed.
Os chefes dos Feds de Chicago, Charles Evans, e San Francisco, Mary Daly –que com Kashkari, a diretora do banco central Lael Brainard e o presidente do Fed de Nova York, John Williams, formam a ala de autoridades mais tolerantes com uma postura de política monetária flexível– também apresentaram visões menos “dovish” nos últimos dias, embora nenhum dos dois pareça ter se deslocado tanto quanto Kashkari.
O presidente do Fed de Atlanta, Raphael Bostic, também desenhou mais ajustes de juros do que anteriormente, mas sua preocupação com a incerteza decorrente da guerra na Ucrânia deixou sua previsão de juros abaixo da mediana de seus colegas.
O chefe do banco central, Jerome Powell, que deu início à especulação sobre altas mais rápidas dos juros com seu pedido, na semana passada, para que os juros subam “rapidamente”, disse estar esperançoso de que o mercado de trabalho seja forte o suficiente para resistir ao aperto da política monetária, que também incluirá a redução do balanço do Fed.
As vagas de emprego em aberto ficaram perto de picos recordes em fevereiro, mostraram dados desta semana, e economistas esperam que o Departamento do Trabalho dos EUA informe amanhã (31) a criação de quase meio milhão de novos empregos neste mês.
A inflação pela medida preferencial do Fed, o índice de preços PCE, subiu para 6,4% em fevereiro, mostraram dados hoje (31), máxima em quatro décadas e mais de três vezes a meta de 2% do Fed.
Se os juros crescentes puderem reduzir parte desse excesso de demanda por mão de obra sem afetar fortemente o crescimento, e se a redução de restrições da cadeia de suprimentos ajudar a diminuir a inflação, o Fed poderá alcançar um deslizamento suave para o nível de expansão mais lento, porém mais sustentável, que Powell busca.
Uma parte importante da curva de rendimentos dos Treasuries se inverteu brevemente na terça-feira, no que alguns em Wall Street veem como um presságio de recessão.
E, mesmo ao minimizar o poder de previsão desse movimento do mercado, a presidente do Fed de Kansas City, Esther George –uma das colegas de Powell mais agressivas em relação à inflação– alertou que aumentos de juros mais acentuados e menos politicamente palatáveis ainda podem ser necessários para controlar a inflação.
“Um pouso suave é possível, mas não garantido”, disse George na quarta-feira. “Caso a inflação alta persista enquanto a demanda cai e o mercado de trabalho vacila, a determinação dos formuladores de política monetária pode ser testada.”
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