O dólar caiu pelo oitavo pregão consecutivo hoje (25), a uma nova mínima desde março de 2020, marcando sua décima semana de perdas no ano e consolidando a posição do real como a moeda que mais ganha no mundo no acumulado de 2022.
Após cair 1,77% nesta sessão, a R$ 4,7469 na venda, a moeda norte-americana à vista acumula agora queda de 14,8% no ano. O patamar de encerramento de hoje foi o menor desde 11 de março de 2020 (R$ 4,7207), e refletiu, segundo operadores, desmontes de posições compradas em dólar.
Com esse resultado, a divisa marcou sua maior sequência de desvalorização desde uma série de mesma duração –oito dias — finda em 5 de março de 2010.
A desvalorização semanal do dólar foi de 5,38%, a quarta consecutiva e décima das 12 semanas de negociação completas deste ano. Também foi a maior perda nessa base de comparação desde a semana finda em 6 de novembro de 2020 (-6,07%).
A divisa norte-americana tem rompido níveis de suporte de maneira sucessiva. Ao longo da semana, cruzou os níveis de R$5,00, R$4,90, e, hoje, de R$ 4,80 e R$ 4,75 reais. Na mínima intradiária deste pregão, chegou a tocar R$ 4,7439 reais.
Abaixo de suas médias móveis lineares de 50, 100 e 200 dias desde o final de janeiro, o dólar está agora muito próximo de perder outra barreira técnica importante: sua média móvel de 200 semanas, atualmente em R$ 4,7089 reais.
“Tivemos uma explosão nos termos de trocas por causa da guerra, favorecendo os produtores de commodities”, disse no Twitter Alfredo Menezes, sócio da Gestora Armor Capital, sobre a recente depreciação do dólar.
O conflito na Ucrânia levantou temores generalizados de restrição de oferta de produtos como petróleo e commodities agrícolas, impulsionando seus preços. Isso voltou a atenção de investidores internacionais para alternativas à Rússia e à Ucrânia — importantes exportadoras –, especialmente na América Latina, região considerada menos vulnerável à crise geopolítica.
Em relatório de hoje, a agência de classificação de risco Fitch Ratings notou que “as moedas na América Latina tiveram o melhor desempenho de qualquer região de mercados emergentes em meio à recente aversão ao risco global”, ainda que a guerra represente riscos inflacionários e econômicos para os países da região.
Além do salto das commodities, “veremos uma Selic próxima a 13%“, continuou Menezes, da Armor, afirmando que esse patamar de juros eleva o carrego oferecido pela moeda brasileira, além de tornar mais caro adotar posições compradas em dólar.
Seu comentário faz referências a estratégias de “carry trade”, que buscam lucrar com a tomada de empréstimo num país de juro baixo e aplicação desses recursos num mercado com rendimentos elevados.
Com a taxa Selic atualmente em 11,75%, o Brasil tem uma das maiores taxas de juros nominais do mundo, perdendo apenas para Rússia — golpeada por sanções ocidentais em resposta à guerra –, Argentina e Turquia — dois países que sofrem com inflação galopante.
E os custos dos empréstimos brasileiros devem subir ainda mais, com ampla expectativa de que o Banco Central promova elevação de 1 ponto em sua reunião de maio. O presidente da autarquia, Roberto Campos Neto, tem sinalizado que o ciclo de aperto monetário iniciado no ano passado deve parar por aí, mas algumas instituições financeiras e participantes do mercado projetam altas adicionais da Selic.
Hoje, após a leitura de março do IPCA-15 surpreender para cima, o Credit Suisse passou a estimar os juros em 14% ao fim de 2022, com ajustes de 1 ponto percentual em maio, 0,75 ponto em junho e 0,50 ponto em agosto.
Apesar da força recente do real, Menezes, da Armor, disse acreditar que o movimento de disparada das commodities não é permanente e vê o dólar de equilíbrio — valor ideal da moeda levando em consideração variáveis macroeconômicas — acima dos patamares atuais.
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