O dólar em queda desde o início deste ano tem suscitado muitas dúvidas no pequeno investidor. É hora de comprar a moeda? Investir em ativos dolarizados? Vai ter Disney?
Para tirar conclusões e ter suas próprias respostas a essas questões, é preciso compreender que a economia é feita de ciclos de alta e de baixa e que, obviamente, você não muda todo o seu planejamento a cada ciclo.
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O pequeno investidor tende a ser muito imediatista e tomar decisões pautadas exclusivamente em notícias. Isso é muito arriscado, pois as notícias são apenas fotos momentâneas do mercado.
Commodities em alta e dólar em queda são uma oportunidade para você fazer aquelas mudanças em suas alocações que já estavam previstas e no aguardo do melhor momento para serem implementadas. Se você investe com planejamento, as oportunidades o pegam bem preparado.
Sendo assim, o que a queda do dólar possibilita é que você faça adequações que o ajudem a seguir o plano e não modificá-lo totalmente. Para isso, é necessário compreender as razões e os desdobramentos desse movimento de mercado.
Por que o dólar está caindo?
De janeiro até agora, o dólar já caiu mais de 11%, e essa queda tem entre seus principais motivos o forte fluxo de entrada de capital estrangeiro na bolsa de valores brasileira.
Esse movimento vem acontecendo desde 2021, quando a taxa Selic começou a subir, e continua forte em 2022. Este ano, os investidores internacionais foram responsáveis por uma entrada de capital superior a R$ 71 bilhões. O número é maior do que todo o volume de 2021, que já havia sido recorde, com R$ 70,7 bilhões.
Para você ter ideia da dimensão desse fluxo de capitais, entre os dias 02 e 21 de março, os investimentos estrangeiros foram equivalentes a 28,43% do volume total de compras na B3.
O ciclo de alta da taxa Selic começou em março de 2021, ganhou força no segundo trimestre e permanece acontecendo desde então, dentro da estratégia da política monetária do Banco Central para tentar conter a inflação.
Enquanto isso, países desenvolvidos subiram suas taxas de juros em moldes bem menores ou nem sequer fizeram qualquer elevação nos últimos meses. Dessa forma, a antecipação da alta de juros aqui no Brasil criou um movimento que nos trouxe aos atuais 11,75%, sinalizando ao investidor boa margem de ganho em relação à expectativa de 6,59% de inflação para 2022, de acordo com o Boletim Focus desta semana.
Nos Estados Unidos, por exemplo, a expectativa é que a taxa de juros encerre 2022 em torno de 2%, com uma projeção de inflação de 4,3%, conforme última atualização divulgada na reunião do Federal Reserve, banco central norte-americano, em 16 de março.
Além disso, o aumento da taxa de juros nos Estados Unidos impõe sacrifícios às empresas de tecnologia porque elas demandam capital para crescer. Com o dinheiro ficando mais caro, o crescimento dessas empresas fica retraído, o que afasta o investidor, que passa a buscar mercados onde as ações estejam baratas.
Temos que considerar também que há uma guerra em curso no Leste Europeu, cuja duração e consequências ainda são difíceis de prever com exatidão. Historicamente, em situações de grande tensão mundial, os investidores tendem a privilegiar a segurança em detrimento do crescimento.
Isso nos mostra mais um motivo do interesse pelo Brasil: o aumento das taxas de inflação no mundo todo e a guerra entre Rússia e Ucrânia têm pressionado o preço das commodities. Considerando a relevância que a exportação de commodities tem em nossa economia, é bastante natural que o investidor estrangeiro compre empresas brasileiras ligadas ao setor como forma de proteção ao seu capital.
É hora de dolarizar parte da carteira para aproveitar o câmbio?
Ter uma parcela de sua carteira atrelada a uma moeda forte é uma forma de diversificar seus investimentos e, no atual cenário, caso faça sentido que sua carteira tenha alguma exposição ao dólar, os fundos cambiais podem ser uma alternativa a avaliar.
Outra alternativa é investir em empresas que geram fluxo de caixa em dólar. Exportadoras de commodities, como a Vale, CSN, Klabin, entre outras, são companhias que podem ser consideradas para a composição de carteira.
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Mas vale ressaltar que a simples informação de que a empresa gera caixa em dólar é um dado isolado e, para colocar uma empresa em carteira, você jamais pode se basear em um único dado. Buscar entender as empresas em que pretende investir, entender o fundamento do negócio, seu potencial e conhecer como é sua gestão são medidas imprescindíveis antes de comprar qualquer ação.
Também é possível aproveitar o momento para investir em BDRs, que são recibos de ações de empresas internacionais negociados na bolsa de valores brasileira.
Contudo, como eu disse no início, o fato de esses investimentos serem interessantes neste momento não significa que você deve mudar toda sua estratégia. Lembre-se dos ciclos!
Se você tem um planejamento de longo prazo e sua alocação está em linha com esse planejamento, fazer mudanças bruscas para aproveitar um momento específico pode pôr a perder todo um plano. Por isso, é importante você ter um percentual pequeno de sua carteira destinado às oportunidades de curto prazo.
Comprar dólares agora ou esperar?
Se você tem alguma viagem prevista ou tem dinheiro disponível para fazer uma reserva em espécie, este é um bom momento para a compra da moeda americana.
De acordo com o Boletim Focus, o dólar deve chegar ao final de 2022 valendo em torno de R$ 5,30. Nessa perspectiva, comprar a moeda no atual câmbio é uma boa oportunidade.
É um bom momento para viajar?
Responder a essa questão envolve uma série de aspectos que vão além do dólar, como a situação sanitária no país que você pretende visitar ou, sendo o seu destino a Europa, uma guerra em curso ainda sem previsão de término, entre outras coisas.
Entretanto, pensando exclusivamente em termos de câmbio, a desvalorização da moeda norte-americana diante do real torna o momento propício para aqueles que já tinham planos de viagens internacionais para este ano.
No final das contas
A queda do dólar é, portanto, uma janela de oportunidade bastante interessante, desde que isso esteja em linha com seu planejamento de médio e longo prazo ou se você possui uma reserva para alocações pontuais, buscando capturar ganhos rápidos.
Mas vou reforçar aquilo que sempre defendi: o bom planejamento financeiro é sua principal meta, independentemente do cenário. A economia é feita de ciclos e em cada um deles sempre haverá oportunidades.
O que fará diferença na forma como você se posiciona diante de cada uma delas é a clareza que você tem da rota que pretende seguir, pois, como já nos dizia o gato de Alice no País das Maravilhas: “Se você não sabe para onde vai, qualquer caminho serve”.
Eduardo Mira é formado em telecomunicações, com pós-graduação em pedagogia empresarial e MBA em gestão de investimento. É analista CNPI, certificado CPA10 e CPA20, ex-gerente do Banco do Brasil e da corretora Modal.
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